No final das contas, a frase
acabou por se tornar uma prática real e comum na política do Brasil.
Argumenta-se que o político-governante corrupto, ou seja, que rouba, mas é
competente e faz coisas importantes para a população, tem vida longa. Um
exemplo disso é o paulista Paulo Maluf (que inclusive possibilitou a ampliação
do vocabulário, ao inspirar um novo verbo: malufar, neologismo que significa
esperteza, no pior sentido, a malandragem mais descarada, a roubalheira
associada ao empreendedorismo do político.). Esses argumentos mostram que os
cidadãos que assimilam a ideia da competência ligada à corrupção reduzem, do
ponto de vista psicológico, a tensão associada ao ato de votar em político
corrupto.
O povo tupiniquim tem sofrido
muito com a corrupção, inclusive e principalmente depois do fim do governo
militar (1964-1985). Todos os governos da transição democrática ou da pseudo-redemocratização
foram tachados de corruptos (desde Sarney até Lula da Silva e Dilma Rousseff,
passando por Fernando Collor, e Fernando Cardoso ––a exceção foi Itamar
Franco). Perguntas diretas de pesquisa realizadas há alguns anos sobre as
atitudes dos entrevistados em relação à frase “rouba, mas faz” sugerem que ela
conta com o apoio de uma minoria substancial da população brasileira.
Em pesquisa de 2000, 47% dos
entrevistados disseram que preferiam um prefeito que não era “totalmente
honesto”, quando este resolvia os problemas da cidade, enquanto que apenas 40%
afirmaram que preferem um prefeito totalmente honesto, mesmo que “não seja tão
eficiente”. Da mesma forma, outra pesquisa, esta de 2002, revelou que 40% dos
entrevistados concordam com a afirmação de que “um político que realiza uma
série de obras públicas, mesmo se ele rouba
um pouco, é melhor do que um político que realiza poucas obras públicas e
não rouba nada”.
Assim, o “rouba, mas faz”
(“roba pero hace” ou “he steals but he do it”) está incutido na alma dos
eleitores brasileiros. Legitimar a ilicitude na política corresponde a não
receber as contrapartidas dos impostos que cada um paga. Não é absurdo afirmar que cada vez que um
político, eleito pelo voto, desvia recursos públicos, uma série de benefícios
que a população teria é substituída pelos benefícios particulares em prol desse
homem público desabotinado.
Levando-se em consideração que
é impossível um político nada fazer quando exerce um cargo público, o fato de
ele roubar elimina uma série de possibilidades de ações que beneficiariam
milhares de pessoas. A expressão “rouba, mas faz” significa o mesmo que dizer
que todo político deve fazer menos do que sua obrigação o incumbe. E esse fazer
menos implica desvio do imposto que todos são obrigados a pagar
indiscriminadamente. Trocando em miúdos, é roubo puro e simples —e ser corrupto
é pior do que ser assassino; este último mata no varejo, aquele mata no
atacado.
Mas agora, o "rouba mas
faz" parece estar desaparecendo. Pelo que se em praticamente todo o país,
é que os políticos continuam roubando desbragadamente, mas pouco ou nada
realizam. Unidades da federação fortes como Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e
Minas Gerais decretaram estado de calamidade
financeira. Campo Grande, que já foi uma cidade de ótima qualidade de vida,
parece ter sido alvo de uma batalha extremamente destrutiva —na mesma condição
estão São Luís (MA), São Paulo (SP), Manaus (AM) e outras capitais. Agora, o
que o povo tem é apenas político ladrão, estúpido e incompetente.
Hoje na política do Brasil nada
se perde, nada se transforma e nada melhora. Tudo se corrompe e tudo piora.
Hoje o político rouba e não faz. Os governantes têm 1.001 formas de roubar... E
todas funcionam.
(*) O texto acima foi editado e revisado depois de postado.
(*) O texto acima foi editado e revisado depois de postado.
Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
Um comentário:
Corruptos e corruptores são descartáveis, como as fraldas.
(Georges Najjar Jr - livro "desaforismos")
Postar um comentário