segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

O médico e os monstros

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Símbolo do terror, a história do doutor Viktor Frankenstein, da escritora romântica inglesa Mary Shelley, é uma das mais conhecidas da cultura ocidental, tendo inspirado inúmeras obras e originado outras tantas reinterpretações e versões, quer na literatura, quer no cinema e até na política. No cinema, Frankenstein tornou-se sobretudo sinônimo de terror, popularizado pelo filme de James Whale “Frankenstein”, de 1931, com o ator Boris Karloff no papel da criatura, que inspiraria uma série de sequelas.

Escrito no início do século XIX como uma história gótica de terror, o livro foi o resultado de um desafio posto entre Mary Shelley, o seu marido Percy Shelley, Lord Byron, e o médico deste, John William Polidori, quando todos passavam férias na Suíça. Contendo todos os elementos que ajudariam a definir o gótico (desde a subjetividade do “eu”, os estados de espírito perturbados, o tortuoso e arrogante herói byroniano, a ruína e decadência da paisagem como marcas da alma humana, a inquietação do mistério e do terror), o livro de Mary Shelley ultrapassa o gênero, contendo também elementos que vão da filosofia à ficção científica.

De fato, Shelley propõe uma obra que lida com algo tão metafísico como a essência da vida humana, que ela vê como tendo paralelos na eletricidade, então uma moda científica. Através das experiências proibidas de Frankenstein, este retira aos deuses algo que antes lhes pertencera por exclusivo: criar vida (daí o subtítulo de Prometeu Moderno), e isso traz uma profusão de perguntas sobre o que é a vida humana, a consciência, a alma, o ser.

A história, bem conhecida, trata da vida do médico alemão Viktor Frankenstein, o homem que queria vencer a morte, e para isso fez um corpo humano a partir de cadáveres, no qual insuflou vida através do uso da eletricidade. Só que ao ver o monstro por si criado, Victor Frankenstein sucumbiu vítima da sua culpa e de uma enorme repulsa, rejeitando a sua criação.

Julgando morta a criatura, Victor Frankenstein não sabe que o monstro se refugia numa floresta e vai aprendendo a viver, observando os camponeses. Mas ao perceber que as suas deformidades o tornam motivo de repulsa, o monstro decide vingar-se do médico, acabando por lhe matar o irmão mais novo e retirar aquela que o médico ama, a irmã adotiva e noiva, Elizabeth.

Pensando na história do Dr. Frankenstein acabei por fazer uma ilação no mínimo extravagante: a analogia entre Lula da Silva e o Dr. Victor Frankenstein. Ambos criaram seus monstros ––o médico alemão, criou apenas um, que estranhamente ganha seu nome, Frankenstein. Já Lula da Silva criou dois monstros, ou melhor, um monstro e uma monstra, considerados postes no jargão da insólita política brasileira.
O médico e seus monstros

As duas criaturas atendem pelos nomes de Dilma Rousseff e Michel Temer e se tornaram enormemente prejudiciais ao seu criador, então presidente de República do Brasil. Madame Rousseff, tida como guerrilheira com reputação de arrogante e irascível; o Doutor Temer, político vetusto mas dotado de jogo de cintura pra percorrer as trilhas do poder. Rousseff e Temer, aliados improváveis por quase seis anos, colocaram seu criador na ante-sala do inferno e o tornaram réu de diversos malfeitos políticos. Nas ruas, nas cidades e nas redes sociais prevalecem os pontos de vista mais extremados. De acordo com a óptica que se use, a presidente interrompida é uma “guerreira”, “corajosa” e “digna”; na outra ponta, uma “incompetente” que destruiu a economia brasileira e “líder de um bando de corruptos que quer transformar o Brasil em uma Cuba mal acabada”.

Do presidente espertalhão Michel Temer vê-se o mesmo retrato: um “golpista traidor”, que chegou ao poder sem a legitimidade concedida pelo eleitorado, apesar de ser o legítimo vice de madame Rousseff, ou o respeitado especialista em Direito Constitucional que, dotado de sua experiência política, reconduzirá a ordem à nação depois de longo tempo da pior crise política e econômica jamais vista na História deste país.

São dois monstros oriundos da prenhez mental do guia e mago Lula da Silva, o Dr. Frankenstein da política tupiniquim. Lula da Silva, que não é formado em medicina, foi o médico que antes de prescrever os remédios, causou as doenças.  E o então presidente prometeu a cura pra doenças que sabia incuráveis.


Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande |MS | Brasil





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