Símbolo do terror, a história do doutor Viktor Frankenstein,
da escritora romântica inglesa Mary Shelley, é uma das mais conhecidas da
cultura ocidental, tendo inspirado inúmeras obras e originado outras tantas
reinterpretações e versões, quer na literatura, quer no cinema e até na
política. No cinema, Frankenstein tornou-se sobretudo sinônimo de terror,
popularizado pelo filme de James Whale “Frankenstein”, de 1931, com o ator
Boris Karloff no papel da criatura, que inspiraria uma série de sequelas.
Escrito no início do século XIX como uma história gótica de
terror, o livro foi o resultado de um desafio posto entre Mary Shelley, o seu
marido Percy Shelley, Lord Byron, e o médico deste, John William Polidori,
quando todos passavam férias na Suíça. Contendo todos os elementos que
ajudariam a definir o gótico (desde a subjetividade do “eu”, os estados de
espírito perturbados, o tortuoso e arrogante herói byroniano, a ruína e
decadência da paisagem como marcas da alma humana, a inquietação do mistério e
do terror), o livro de Mary Shelley ultrapassa o gênero, contendo também
elementos que vão da filosofia à ficção científica.
De fato, Shelley propõe uma obra que lida com algo tão
metafísico como a essência da vida humana, que ela vê como tendo paralelos na
eletricidade, então uma moda científica. Através das experiências proibidas de
Frankenstein, este retira aos deuses algo que antes lhes pertencera por
exclusivo: criar vida (daí o subtítulo de Prometeu Moderno), e isso traz uma
profusão de perguntas sobre o que é a vida humana, a consciência, a alma, o
ser.
A história, bem conhecida, trata da vida do médico alemão
Viktor Frankenstein, o homem que queria vencer a morte, e para isso fez um
corpo humano a partir de cadáveres, no qual insuflou vida através do uso da
eletricidade. Só que ao ver o monstro por si criado, Victor Frankenstein
sucumbiu vítima da sua culpa e de uma enorme repulsa, rejeitando a sua criação.
Julgando morta a criatura, Victor Frankenstein não sabe que
o monstro se refugia numa floresta e vai aprendendo a viver, observando os
camponeses. Mas ao perceber que as suas deformidades o tornam motivo de
repulsa, o monstro decide vingar-se do médico, acabando por lhe matar o irmão
mais novo e retirar aquela que o médico ama, a irmã adotiva e noiva, Elizabeth.
Pensando na história do Dr. Frankenstein acabei por fazer
uma ilação no mínimo extravagante: a analogia entre Lula da Silva e o Dr.
Victor Frankenstein. Ambos criaram seus monstros ––o médico alemão, criou
apenas um, que estranhamente ganha seu nome, Frankenstein. Já Lula da Silva
criou dois monstros, ou melhor, um monstro e uma monstra, considerados postes
no jargão da insólita política brasileira.
O médico e seus monstros |
As duas criaturas atendem pelos nomes de Dilma Rousseff e
Michel Temer e se tornaram enormemente prejudiciais ao seu criador, então
presidente de República do Brasil. Madame Rousseff, tida como guerrilheira com
reputação de arrogante e irascível; o Doutor Temer, político vetusto mas dotado
de jogo de cintura pra percorrer as trilhas do poder. Rousseff e Temer, aliados
improváveis por quase seis anos, colocaram seu criador na ante-sala do inferno
e o tornaram réu de diversos malfeitos políticos. Nas ruas, nas cidades e nas
redes sociais prevalecem os pontos de vista mais extremados. De acordo com a
óptica que se use, a presidente interrompida é uma “guerreira”, “corajosa” e
“digna”; na outra ponta, uma “incompetente” que destruiu a economia brasileira
e “líder de um bando de corruptos que quer transformar o Brasil em uma Cuba mal
acabada”.
Do presidente espertalhão Michel Temer vê-se o mesmo retrato:
um “golpista traidor”, que chegou ao poder sem a legitimidade concedida pelo
eleitorado, apesar de ser o legítimo vice de madame Rousseff, ou o respeitado especialista
em Direito Constitucional que, dotado de sua experiência política, reconduzirá a
ordem à nação depois de longo tempo da pior crise política e econômica jamais
vista na História deste país.
São dois monstros oriundos da prenhez mental do guia e mago
Lula da Silva, o Dr. Frankenstein da política tupiniquim. Lula da Silva, que
não é formado em medicina, foi o médico que antes de prescrever os remédios,
causou as doenças. E o então presidente
prometeu a cura pra doenças que sabia incuráveis.
Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande |MS | Brasil
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