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Agência responsável pelo trânsito em Campo
Grande, a Agetran alega, em estudo divulgado recentemente, que "excesso de
velocidade e a imperícia dos condutores por falta de habilitação (sic) —falta
de carteira de habilitação é motivo pra imperícia?— para dirigir foram
responsáveis por mais de 45% dos acidentes com vítimas fatais registrados no
último ano em Campo Grande, conforme levantamento dos órgãos integrantes do
Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito (Ggit)".
De acordo com o documento das autoridades
do trânsito, "os números que compõem estudo do programa 'Vida no
Trânsito', coordenado em Campo Grande pela Secretaria Municipal de Saúde
(Sesau), e que tem por finalidade desenvolver ações intersetoriais de
vigilância, controle e prevenção das mortes e lesões no trânsito, são
preocupantes".
Segundo o levantamento, nos últimos dois
anos e seis meses foram registrados mais de 200 acidentes de trânsito com
vítimas fatais na área urbana da cidade —96 em 2015; 83 em 2016 e 36 no primeiro
semestre de 2017. Para as autoridades municipais, as
principais causas dos acidentes de trânsito são alta velocidade, condutor sem
habilitação (sic), dirigir alcoolizado, avançar semáforo, desrespeito à
sinalização, problemas na infraestrutura, transitar em local impróprio, falta
de visibilidade, dirigir em local proibido, conduzir falando ao celular e
outros que tais.
Apesar de mencionar o problema com a
infraestrutura, a otoridade prefere ignorar a parte que lhe cabe e às
instituições na esculhambação no trânsito da cidade. Acontece que o poder
público tem uma gorda cota de participação nas falhas no sistema de circulação
de Campo Grande, a Capital do Estado, falhas essas que vão do planejamento à
manutenção das vias públicas, passando por sinalização, construção, educação,
fiscalização etc. etc. e tal. Há uma grande insegurança no trânsito da cidade e
as autoridades, demonstrando ineficiência e ineficácia no exercício da própria
função, jogam toda a culpa no cidadão e fogem da sua responsabilidade como
gestores do trânsito.
A sensação de impotência afeta os cidadãos.
O poder público, cada vez mais inerte, se pronuncia de maneira confusa e pouco
eficaz. A violência atinge patamares assustadores e os acidentes graves já
estão incorporados à rotina de todos, seja nos grandes centros urbanos ou nas
pequenas localidades —e Campo Grande não está entre as exceções. Colisões,
abalroamentos, atropelamentos viraram fatos corriqueiros no dia-a-dia da
população.
Não há qualquer justificativa para
acidentes que tiram de forma tão absurda a vida das pessoas, principalmente
sabendo-se que todos eles podem ser evitados na medida em que o condutor dirija
com responsabilidade e respeito a outras pessoas. Os números chocam, impressionam
e doem. As causas dos “acidentes” normalmente têm sempre um vilão para as
autoridades —seja ela de trânsito ou policial: o condutor. É sempre ele que
corre demais, dirige alcoolizado, que tenta uma ultrapassagem em local não
permitido ou dorme ao volante. As mortes poderiam ser evitadas se os condutores
dirigissem com responsabilidade e respeito a outras pessoas. Mas as explicações
não param por aí. Não mesmo. As pessoas morrem nas ruas, avenidas, rodovias e
estradas por uma série de fatores. E o mais grave deles é a omissão estatal
—com certeza à autoridade cabe mais culpa que ao motorista e motoqueiro. Se o
motorista bebe e dirige, é também porque falta fiscalização para punir com
rigor.
Quando se divulga que uma ultrapassagem
proibida provocou uma tragédia, nenhum especialista
vai checar se a sinalização no local era boa ou se havia um buraco na pista.
Quando um caminhoneiro dorme ao volante, ninguém quer saber quantas horas
ininterruptas ele trabalhava nem as condições de sua saúde. Nessas horas, uma
das desculpas mais comuns das autoridades é que os órgãos de fiscalização não
dão conta de tantas atribuições. Só que a situação precisa mudar. Por que não
se toma uma iniciativa realmente séria e abrangente para conter a grande
epidemia que causa tantas mortes no trânsito?
As medidas devem ir além das campanhas de
conscientização. É preciso muito mais do que difundir o se beber, não dirija. É necessário reunir as autoridades pra
preparar uma estratégia única para conter as tragédias nas vias públicas. Fazer
um levantamento completo dos problemas enfrentados, melhorar as vias públicas e
adotar uma fiscalização única e eficaz, além de uma engenharia de tráfego bem
planejada e conduzida, coisa inexistente na Morenópolis.
Pode não render votos, mas evita tragédias
diárias. Chegou o momento de estabelecer uma política séria de combate à
violência no trânsito. Ou melhor, de firmar um pacto pela vida. E isso tem de
começar com as autoridades parando de dizer platitudes como as que colocam
todos os erros do trânsito na culpa dos motoristas.
A autoridade tem uma grande parcela de
culpa pelo que acontece de errado no trânsito. É claro que se cada motorista
exercitasse os valores da cidadania, da paciência, da solidariedade, da
gentileza e da responsabilidade, o trânsito seria muito mais civilizado. Mas a
mídia só cobra do cidadão; nunca exige do poder público, embora haja tantos
erros no trânsito da exclusiva responsabilidade da autoridade.
A cada dia que
passa, os veículos automotores são cada vez mais usados pelos seres humanos. O
carro é cada vez mais precedente: alguns automóveis modernos, por exemplo, se
autoconduzem —isto é, não necessitam de um motorista para conduzí-los. E ficam
cada vez mais auto-suficientes. O carro, por exemplo, carrega seu próprio
filtro; já o homem não pode correr e beber água filtrada simultaneamente
—aliás, o carro quando sai leva, além do filtro, as velas, escova, pistão,
luva, ventilador, mala, descarga, fluídos diversos e até mudança. E o homem?
Carrega no máximo um saquinho de supermercado ou uma pasta de documentos.
Mas se são um dos
objetos favoritos dos seres humanos, os automóveis são máquinas que podem
tornar-se extremamente perigosas, notadamente quando estão sob o controle dos
campo-grandenses. E enfrentar um morenopolitano ao volante é uma ação muito
complexa e complicada, até porque os condutores de automóveis e outros veículos
pensam que estão sempre certos, com toda a razão. Parafraseando o ex-presidente
Lula da Silva, o motorista campo-grandense parece estar sempre dizendo: "duvido
que alguém neste país dirija um carro melhor do eu".
Se você é um
desses poucos motoristas que dirigem bem na cidade, tem uma solução muito
prática e eficaz pra enfrentar o abominável, deplorável, execrável e repulsivo
condutor morenopolitano: adote a direção defensiva (ou seria ofensiva?) e
compre um tanque de guerra. Mas dirija com cuidado e não beba antes de dirigir
— o tanque aqui do caso não é o recipiente de pedra, metal ou alvenaria próprio
para conter líquidos.
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