terça-feira, 14 de março de 2017

Chega de intermediários

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Com mente glacial, nervos de aço e persistência de uma mula, Marcelo Odebrecht assumiu o comando do conglomerado de empresas de engenharia e construção de sua família para levá-las ao auge dos empreendedores que tomam os serviços de empreita no Brasil. No país, MO fez algo que poucos empresários fariam: defendeu publicamente mandatários de esquerda e suas políticas. Agora, o empresário de 46 anos se encontra na mais improvável das circunstâncias para uma pessoa de tal prestígio: em custódia da polícia.
Preso desde junho/15, o então presidente da Odebrecht foi detido numa das fases iniciais da Operação Lava Jato, que investiga o escândalo bilionário de corrupção envolvendo a Petrobras, funcionários da estatal, executivos de empreiteiras, políticos e partidos —e gente da, digamos, mais alta qualidade. Sua prisão foi a com mais pompa e circunstância de um executivo brasileiro desde que o escândalo estourou em 2015. Prevê-se que Odebrecht fique na prisão até dezembro de 17.
Um de quatro irmãos, Odebrecht vinha comandando uma era de ouro para o grupo familiar, que tem 15 divisões e presença em mais de vinte países. Ele sucedeu seu pai, Emílio Odebrecht, no fim de 2008, em meio a uma crise financeira global. Engenheiro com formação em finanças, MO transformou o conglomerado no maior empregador do Brasil e em um dos cinco maiores grupos privados do país. Sua ascensão coincidiu com o segundo mandato do então presidente Lula da Silva, que tinha o objetivo de transformar o Brasil em uma potência global através da promoção de empresas brasileiras. Usando um chavão, pode-se dizer que juntaram a fome com a vontade de comer.
Protagonista de escândalos financeiros em todos os cantos do Brasil e, dizem, em mais ou menos quinze outros países, Marcelo Odebrecht é, certamente, um dos mais relevantes líderes dos negócios escusos de todo o mundo. MO tornou-se o cara que antes de elaborar o projeto já vinha com a proposta de maracutaia. Assim, tornou-se um dos principais líderes das mamatas e negociatas tupiniquins.
Mas, ainda assim, nunca passou de um intermediário dos grandes negócios escusos, principalmente do setor de obras publicas. Por trás dele e ao seu lado sempre estiveram (e ainda estão) algumas das principais lideranças políticas do país de uns vinte ou trinta anos atrás até hoje. Faz tempo que temos tido guias do povo (tupiniquim) que não funcionariam nem como guias de cegos —é preciso citar nomes, prezado leitor?!
Com seus conhecimentos de engenharia e gestão (de seus negócios) e um bocado de paciência, porém, Odebrecht logrou construir um verdadeiro império global de corrupção, atingindo políticos e governantes em todos os continentes, através dos quais constrói obras por preços estratosféricas, usando papagaios, notas promissórias, notas fiscais e até cheques com fundo e sem fundo. No plano administrativo MO montou uma estrutura profissional de pagamentos sistemáticos de propina no Brasil e no exterior. Somente em duas contas ligadas a esse setor paralelo estima-se R$ 91 milhões em pagamentos suspeitos de serem ilícitos.
Esse sistema estruturado de corrupção envolve empregados com divisão clara de atribuições, um sistema informatizado para controle da entrada e saída de milhões de reais e toda uma estrutura de contabilidade clandestina. Os pagamentos se referiam a obras públicas do governo federal e de governos dos Estados. Segundo investigadores a estrutura incluí até uma área específica na empreiteira, chamado de "Setor de Operações Estruturadas", também conhecido na mídia como Departamento de Propinas, algo inédito em todo o mundo e que operava os processos e ações ilegais.
Presume-se que, preso há tanto tempo, MO continue na ativa, mandando e desmandando. Além de mensagens administrativas, gerenciais e informações políticas e econômicas, Odebrecht envia, igualmente, recados à família, conselhos aos filhos, recomendações aos políticos, com os quais conversa muito, e também com a esposa, de quem tem muitas saudades. Dá, ao mesmo tempo, ordens aos empregados, supervisiona o trabalho da empresa, verifica se está tudo limpo e asseado, bem cuidado e em ordem e analisa os balancetes mensais. Isso, sem falar das ameaças explícitas e implícitas das delações.

No Brasil, não há impedimento legal para que um chefe de executivo administre da cadeia —vide o caso Robert Viana, prefeito de Mulungu (CE), que pode administrar o município mesmo preso. Outro precedente —um tanto insólito—, são os chefes do tráfico que, mesmo na cadeia, administram suas quadrilhas com muita eficácia. Por isso, seria muito heterodoxo, mas marcante, colocar o nome do engenheiro com formação em finanças como possível candidato à Presidência da República. Seria o fim dos intermediários na corrupção. E possivelmente a deixa para a criação do Partido Cleptocrático Brasileiro (PCB) —possivelmente MO seja o principal guia da cleptocracia no Brasil. Da Papuda para o alto —em 2018, Marcelo Odebrecht no Planalto... Chega de intermediários.
E o vice-presidente? Poderia ser o Jair Bolsonaro, né não?!
Obs.: para os desavisados: esta crônica é uma peça de ficção.

Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil

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