Dia desses, ao estacionar seu
carro em vaga para deficientes físicos em Canoas (RS), um cidadão que não tem
as duas pernas e usa próteses de metal pra caminhar, por causa de um acidente,
foi multado. Ao retornar para o veículo, o homem encontrou uma policial de
trânsito que estava anotando multa em seu talão. Mesmo de bermudas e com as
pernas de metal à mostra, o moço recebeu multa de R$293,00 e sete pontos no seu
dossiê. Inconformado com o ocorrido, ele publicou foto do momento da autuação
em seu perfil no Facebook, com grande repercussão nas redes sociais.
Procurada, a Secretaria de
Transportes e Mobilidade da cidade defende que não houve abuso ou falta de bom
senso por parte da agente de trânsito(!). Verdade! Segundo o secretário, em nota
da sua assessoria de imprensa, "existe regulamentação nacional que
determina a exigência de uma identificação no automóvel, que mostre que ele é
de uma pessoa com deficiência". "(...), a agente de trânsito
encontrou veículo sem a credencial estacionado em uma vaga exclusiva para
pessoa com deficiência, o que configura infração de trânsito".
Por definição (minha), o
burocrata é um ser naturalmente descerebrado e estúpido. Seu olhos e cérebro
são perfeitamente capazes de ver que uma criatura humana é deficiente física,
mas sua mente não realiza isso, pois na hora das sinapses os neurônios parecem
se engalfinhar. Daí, adeus consolidação dos pensamentos e fim da funcionalidade
da mente.
Eis que a gente pode definir
burocracia como um excesso de procedimentos que uma pessoa ou empresa deve
tomar para obter algo. Geralmente, é resultado de uma falta de eficiência por
parte da organização. E criada pra facilitar as coisas, a burocracia dificulta
o funcionamento de tudo. Nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, o termo
burocracia adquiriu fortes conotações negativas. É popularmente usado para
indicar a proliferação de normas e regulamentos que tornam ineficientes as
organizações administrativas públicas, bem como corporações e empresas
privadas.
O vocábulo
"burocracia" surgiu na segunda metade do século 18, a partir do francês
bureau, local de trabalho para o desenvolvimento
de atividades em mesas, balcões etc. Inicialmente foi empregado apenas para
designar a estrutura administrativa estatal, formada pelos funcionários
públicos, que eram responsáveis por inúmeras áreas relacionadas aos interesses
coletivos, como forças armadas, polícia e justiça, entre muitas outras.
Burocracia, máquina de enlouquecer o cidadão |
Já no século 20, após a criação
da extinta União Soviética, o termo burocracia apareceu como uma crítica à
rigidez do aparelho do Estado e aos partidos políticos que sufocavam a
democracia de base, em análises feitas por cientistas sociais, principalmente os
de tradição marxista. Segundo a perspectiva desses pensadores, o avanço da
burocratização, tanto nas estruturas estatais como nas partidárias, traria
consequências terríveis para uma futura sociedade socialista —dentro do projeto
revolucionário de esquerda, ela era concebida como um obstáculo à participação
democrática popular.
A burocracia é um sistema
gigantesco tocado por anões. Toda administração (pública ou privada) dispõe de
um corpo funcional atrelado a normas e procedimentos, sem o que não teria como
executar suas tarefas cotidianas. O problema, no entanto, surge com o
predomínio desproporcional do aparelho administrativo. A administração passa,
então, a ditar a vida pública e interferir na vida e nos negócios privados.
Karl Marx, criador do
socialismo científico, sentenciou: “a burocracia tem o Estado em seu poder: o
estado é sua propriedade privada”. Portanto, seja causa, seja efeito, não há
burocracia ideal. Como expressão ideológica, a burocracia não representa o Estado,
é mera representação social dela própria… A profusão de regras retroalimentadas
pelo fenômeno burocrático é entrópica e sinérgica. Destrói a ação da administração
pública. Nos indivíduos impactados por essa entropia, os efeitos são perversos.
Esse abjeto palco de posturas
ridículas tem um preço alto: produz o desprestígio sistemático da cidadania,
estimula o paternalismo e pereniza o privilégio de minorias. É nesse espírito
de arrogância e emulação que surge a ditadura
da caneta. O instrumento, usado para assinar despachos, firmar decisões,
autorizar benefícios e condenar pessoas, é uma arma poderosa na mão do
burocrata. Produz privilégios na mesma proporção em que destrói vidas e
projetos, além de fechar caminhos.
No universo da burocracia,
também há privilegiados e proletários. De fato, a grande massa de servidores
públicos de todas as áreas, são tão vítimas dessa barbaridade quanto qualquer
proletário ou cidadão de classe média no Brasil. É impressionante o desprezo
que a burocracia estratosfericamente postada sobre a pirâmide faraônica de
gastos públicos nutre pelos servidores ocupados com a atividade-fim do Estado —pois
remunera mal aqueles que fazem a máquina funcionar
Todo o peso da burocracia se
reflete na cadeia de insatisfações que, quase sempre, desagua sobre o
sacrificado cidadão contribuinte, maltratado, mal atendido, mal servido, vítima
sistemática de posturas arrogantes de togados, engravatados, fardados,
uniformizados e alvo preferencial de agressões morais em balcões de cartórios, escritórios,
portarias. E custa caro. Tanto que o cidadão brasileiro não tem mais como sustentar
o peso da burocracia. Nem bancar seus custos.
Existe saída? Claro que sim.
Para o impasse gerado pela burocracia, existe sim. E está na democracia, que
nunca existiu no Brasil. Será, porém, necessário um choque de gestão e uma
profunda mudança no sistema político —apontando para um novo pacto social— para
eliminar o câncer burocrático existente em milhares de garantias legais e
regulamentares, que funcionam contra o cidadão contribuinte. Ou o Brasil
extermina o câncer burocrático, ou a burocracia extermina o Brasil. A
burocracia é burra, mas esperta e está vencendo. E onde a burrice manda, o
cidadão tem a mente e o corpo sacrificados.
Luca
Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário