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Eis que a falta segurança pública desafia os Poderes do Estado
Brasileiro. E o que se vê é a extensão da crise endêmica do sistema prisional que
o país assiste, há muito tempo, no arrasado território dos cárceres. Espaços
com imensas limitações, esses celeiros de prisioneiros são meros depósitos que
não dão suporte efetivo à segurança pública e ao judiciário.
Suas populações são exageradas, inclusive porque há uma indiscutível
covardia dos magistrados que preferem penalizar meliantes colocando-os em
prisões. E assim tornaram-se escritórios centrais dos capos e sottocapos das
facções criminosas. São castigo pra quem não deveria ser castigado. O
diagnóstico do vasto arsenal de violência já é conhecido. É necessário agir.
Cortar os dutos econômicos do crime. Saber lidar com as informações dos
cárceres. Julgar 250 mil prisioneiros que esperam decisão da Justiça. Libertar
os legalmente inocentes.
Não são apenas recursos financeiros que estão no cerne do problema.
Claro, os cárceres precisam ser mais robustos, seguros, tecnologicamente
equipados. Mas falta coordenação entre as forças de segurança, os aparatos
estaduais e as equipes de inteligência. O que temos hoje, é um ninho de ovívoros
prontos pra quebrar e digerir os ovos. Basta uma leve bicada pra furar a casca.
Os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e entidades da sociedade civil organizada
devem se manter mobilizados pra cuidar do problema.
Que o sistema prisional brasileiro há muito deixou de ser instrumento
eficaz de recuperação —se é que um dia foi— não é novidade pra ninguém. O atual
sistema penitenciário é, sem dúvida, uma das mais sérias dívidas sociais que o
Estado brasileiro e a sociedade, como um todo, têm. É uma bomba acionada,
pronta pra explodir. Uma situação alarmante e perigosa para o cotidiano da
sociedade.
Desde muito tempo, o sistema prisional brasileiro reflete a realidade
social e política injusta do Brasil, e não se trata de ceder ao raciocínio
fácil e medíocre de que a pobreza e a carência facilitam, estimulam e propiciam
o crime e que levem os mais necessitados à violência e à cadeia. Trata-se constatar
que o sistema é uma realidade mais viva e próxima da parte da população
carente, desde priscas eras, e que esse simples fato, por si só, alarma e
constrange pela sua dimensão e potencial, a ponto de ameaçar o Estado.
O Brasil detém a quarta maior população carcerária do mundo. Segundo
dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), publicados no site do
Ministério da Justiça, entre dezembro de 2005 e dezembro de 2009, a população
carcerária aumentou de 361 mil para 473 mil prisioneiros, crescimento, em
quatro anos, de 31,05%. Desse número, boa parte são réus provisórios,
aguardando decisão judicial —isso deixa as prisões superlotadas.
Desse total, a maioria esmagadora encontra-se em condições precárias e sem
esperança de serem submetida ao justo processo legal ao qual todo cidadão tem o
direto. As prisões brasileiras são um amontoado de pessoas sem esperança de
justiça e expectativas de ressocialização. São indivíduos ignorados pela
sociedade, guardados em calabouços escuros e esquecido da consciência coletiva,
relegados a prisões que em muitos casos mais se aproximam das masmorras da
idade média. Pretender que essa massa de pessoas não existe, que essa população
carcerária é somente um dado estatístico pálido e distante da nossa realidade,
é inútil, perverso e, de forma coletiva, estúpido.
Sem mencionar que, na atual realidade, deixar o sistema penitenciário
apos ter cumprido sua dívida para com a sociedade e tentar nela se reinserir é,
por vezes, uma quimera. Mais certo é que a falta de apoio e suporte adequado do
Governo e a pouca informação e compreensão da sociedade em acolher esse
indivíduo e ressocializá-lo, o empurre novamente para uma vida de incertezas e
criminalidade.
Já há a alguns anos no Brasil, experiências com relativo sucesso,
“privatizam” uma parte do sistema penitenciário, numa solução alternativa e
mitigada do modelo adotado em outras partes do mundo. Ninguém afirma que esse é
o caminho e sequer que a fórmula funcione há tempo suficiente para permitir
dizer que é a melhor solução. Por certo não há soluções prontas —e nem mágicas.
Esse é um tema que já está maduro para uma discussão seria e profunda de todos
os setores da sociedade e de todos os três poderes, o que exige que a sociedade
responsável se debruce sobre ele para buscar uma solução a curto prazo.
Como são hoje, os presídios brasileiros, de maneira geral, não têm êxito
em promover aos detentos a ressocialização esperada pela sociedade. O que se tem
observado é que a questão da superlotação e as péssimas condições de vida dos presos,
dentre outros fatores, contribuem para que as penitenciárias sejam ineficazes
para atender ao que a Lei de Execução Penal preceitua: a recuperação daquele
que está detido por ter cometido algum ilícito, transformando, assim, o que
deveria ser um centro de ressocialização dos criminosos em algo como uma "escola
do crime".
Há em grande
parcela da população a noção de que "bandido bom é bandido morto".
Além de brutal e confusa, essa ideia é estúpida e ineficaz. Tem criminosos em toda
parte. Na política, no conjunto das profissões liberais, nas artes, nos
esportes, na governança do país etc. Tem criminosos até nos presídios. É
preciso mudar conceitos e políticas. Afinal, muitos criminosos ainda possuem
algo de humano em seus espíritos.
Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande | MS | Brasil
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