Certamente não terá sido Dilma
Rousseff, a presidente interrompida do Brasil, a inventora do dilmês, idioma,
estilo e forma de comunicação que caracteriza a política e a empolgação do
poder, num determinado período, no caso próprio de um domínio específico das
ciências e artes políticas no Brasil (talvez do resto do mundo). Mas a
ex-presidente com certeza é a maior difusora e incentivadora desse modo de
expressão e comunicação, que, por isso mesmo, ganhou título que deriva do seu
nome.
Porém, o que choca em Dilma
Rousseff e em seus seguidores e antecessores não é a sintaxe e a oratória em
si. Há gente preparadíssima que não se expressa bem —preferível, por sinal, a
quem dá um show de parolagem pra camuflar a falta de conteúdo e clareza mental.
O problema da Rousseff, porém, sempre pareceu mais complexo. A forma primitiva
da fala, da saudação à despedida, já traía na então candidata à presidência da
República em 2010, o primarismo do pensamento e um despreparo generalizado. Ela
não apenas fala mal —mas dá a nítida impressão de não saber do que fala, sobre
virtualmente qualquer assunto.
Madame Dilma Rousseff não está
sozinha nesse aspecto, embora o jornalista Celso Araújo a tenha colocado como
principal difusora da desonestidade intelectual e incapacidade mental reinantes
no meio político em seu livro "Dilmês – o Idioma da Mulher Sapiens".
Em minha pequena, mas alentada, biblioteca tenho pelos menos duas obras
contendo antologias de frases de políticos: "Frases Malditas",
coletânea de alguém que se assina Legrand, e "Do Bestial ao Genial –
Frases da Política", de Paulo & André Buchsbaum. Ambos muito
instrutivos.
Políticos, tanto no Brasil
quanto no resto do mundo, ganham a vida com lábia —boa parte dos votos que
granjeiam vêm da capacidade que têm de convencer, quase sempre enganando com
falsas promessas. E com suas parolagens, algumas célebres. Nestes e em outros
livros, li, por exemplo coisas como estas: "Tudo o que sei é que não sou
marxista", dita pelo maior seguidor das ideias marxistas, o próprio Karl
Marx. Outra: "O comunismo é bom para sair da miséria, mas incompetentes
pra levar à riqueza" —Roberto Campos, economista brasileiro. E "se
Deus fosse liberal, nós não teríamos os Dez Mandamentos, teríamos as Dez
Sugestões" —Malcolm Bradbury, escritor inglês.
Resumindo, gente falando coisas
estúpidas sempre existiu na política. Em todo o planeta. Aqui na Guaicurúndia
existe uma alentada produção local. Um exemplo é o ex-governador Andrea
Puccinelli, que chegou a promover um policial que, durante assalto a uma
lotérica, acabou matando dois assaltantes. Tirei esta história do jornal
eletrônico Midiamax (https://goo.gl/WvWUT4), que continua: "adepto da
famosa frase 'bandido bom é bandido morto', o ex-governador não escondeu a alegria
pela atitude do policial: 'Vou dar uma medalha para cada bandido que ele mandou
para o inferno', declarou em solenidade de formação de novos sargentos da
Polícia Militar".
Com a frase 'bandido bom é
bandido morto', o dr. Pucci, como é conhecido por muitos dos seus fãs, tem
seguidores em todo o Brasil nos tempos escabrosos de ontem, hoje e sempre. Mas
o Coronel da Toscana não é a única celebridade guaicuru a usar esse estilo, que
chamo de deixa-que-eu-chuto, de se comunicar. "(...) a cidade parou, ou melhor,
regrediu em seu avanço" ––Marquinhos Trad (PSD), ex-deputado estadual e
atual prefeito de Campo Grande, disse esta preciosidade em dilmês castiço num
eloquente discurso durante a campanha eleitoral municipal de 2016.
No âmbito nacional, a coisa
chega às vascas. Há uma tal quantidade de sandices ditas por políticos que
daria uma grande biblioteca se fossem todas publicadas. "Consultei um
futurólogo e ele previu que o Brasil só terá outro presidente nordestino daqui
a 1.900 anos. Então, acho que mereço ficar os seis anos” —José Sarney,
ex-presidente, antes de Fernando Collor e Lula da Silva. "Eu tenho aquilo
roxo!" —Fernando Collor, ex-presidente, referindo ao seu próprio saco
escrotal. "Os EUA não têm AI-5, tem cadeira elétrica" —Paulo Maluf em
1977, em plena ditadura militar, quando uma comissão norte-americana de
direitos humanos, do governo do presidente Jimmy Carter, fez viagem ao Brasil.
Mas o mais célebre cultor
brasileiro do dilmês foi o dr. Frankenstein que criou a monstra Rousseff, Lula
da Silva. É dele, por exemplo, este texto brilhante: "Se tem uma coisa que
eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que
eu". Sua criatura, também chamada (por ele mesmo) de poste, madame Dilma
Rousseff também dona de dizer preciosidades retóricas: "Eu ontem disse pro
presidente (Barack) Obama que era claro que ele sabia que depois que a pasta de
dente sai do dentifrício ela dificilmente volta pra dentro do dentifrício.
Então que a gente tinha de levar isso em conta. E ele me disse, me respondeu
que ele faria todo esforço político para que essa pasta de dente pelo menos não
ficasse solta por aí e voltasse uma parte pra dentro do dentifrício. (encontro
do G20 – 2013)".
Atual presidente brasileiro,
Michel Temer também é capaz de proferir barbaridades. Temer afirmou na
quinta-feira, 5/1/17, na abertura de uma reunião com ministros da área de
segurança, que a chacina no presídio de Manaus foi um "acidente
pavoroso". Ele tem uma noção muito sinistra do que vem a ser um acidente.
É dele também esta preciosidade: "O que nós queremos fazer agora com o
Brasil é um ato religioso, é um ato de religação de toda a sociedade brasileira
com os valores fundamentais de nosso país. Por isso que eu peço a Deus que
abençoe a todos nós".
Mas as sandices chegaram ao extremo
com o ex-secretário nacional da Juventude do governo Temer, Bruno Júlio,
demitido na sexta-feira, 6/1/17, após defender uma “chacina” por semana dentro
dos presídios brasileiros. Membro da alta cúpula do governo Temer, Júlio é
acusado de agredir a ex-companheira e de assediar sexualmente uma
ex-funcionária. Disse ele: "eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de
polícia, né? Tinha era de matar mais. Tinha de fazer uma chacina por semana. Os
santinhos que estavam lá dentro (da prisão) que estupraram, mataram [chamam de]
‘coitadinho’, ‘ai, meu Deus, eles não fizeram nada’, ‘foram [mortos]
injustamente’"…
"Para, gente!”,
continuou."Esse politicamente correto que está virando o Brasil está
ficando muito chato". Segundo ele, está “havendo uma valorização muito
grande da morte de condenados, muito maior do que quando um bandido mata um pai
de família que está saindo ou voltando do trabalho”. Só esta semana, 91
presidiários foram mortos em confronto entre facções rivais nos estados do
Amazonas e Roraima.
Como já foi dito, Dilma
Rousseff com certeza não criou o dilmês, mas seu linguajar (o português no
formato Dilma) "enriquece" o português brasileiro do século 21.
Durante seus quase seis anos de mandato foi impondo o dilmês ao mundo
civilizado. Foi tão melhorado, que já temos o dilmês culto falado até pelo presidente Temer. Madame não é
desarticulada apenas no jeito de governar (por isso foi defenestrada), mas
também no quesito do discurso: são evidentes suas agressões à sintaxe, à
gramática e à lógica. Ela elevou a estupidez e a ignorância ao centro do poder.
E com isso granjeou grande número de adeptos pelo país afora.
Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil
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