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Sempre que se trata de barbárie, o brasileiro surpreende. O
historiador britânico Eric Hobsbawm já mencionou, numa palestra, um "Barbárie:
manual do usuário" não porque desejasse "(...) apresentar instruções
sobre como ser bárbaro. Ninguém de nós, infelizmente, precisa disso". Segundo
ele, barbárie não é algo como tecelagem artesanal, uma técnica que precisa ser
aprendida. E acrescenta, "pelo menos, não até que se deseje tornar-se
torturador ou algum outro especialista em atividades desumanas".
Tem que a Barbárie é antes de tudo, um subproduto da vida em
determinado contexto social e histórico, algo que vem com o território, como
diz Arthur Miller em "Morte de um Caixeiro-Viajante. A expressão "sabedoria
das ruas" expressa muito melhor o que "desejo —explica o historiador—
dizer para sugerir a atual adaptação das pessoas à existência em uma sociedade
desprovida das regras da civilização. Ao compreender esse termo, todos nos
adaptamos à vida em uma sociedade que, pelos padrões de nossos avós ou pais —e
até pelos padrões de nossa juventude, para os que têm a minha idade —, é
incivilizada".
Para Hobsbawm, acostumamo-nos com ela. Não quero dizer que não
conseguimos mais ficar chocados com este ou aquele de seus exemplos. Ao
contrário, ficar chocado periodicamente por algo invulgarmente terrível é parte
da experiência. Ajuda a ocultar o quanto nos habituamos à normalidade daquilo
que nossos pais —os meus com certeza— teriam considerado vida em condições
desumanas. "Meu manual do usuário —diz ele—, segundo espero, é um guia
para compreender como isso aconteceu".
O que aconteceu nesta semana em Manaus, capital do Estado do
Amazonas, poderia muito bem ilustrar o Manual da Barbárie de Hobsbawn.
Mataram-se cerca de 60 pessoas das formas mais bárbaras. Virou notícia em todo
o mundo. E o desgoverno brasileiro, que conhece muito bem os problemas das prisões
do país, nada faz para consertar a situação. Há mais barbárie no Brasil do que
no chamado Estado Islâmico.
Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil
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