Simultâneos, o início da
administração do prefeito Marquinhos Trad e o desenlace da gestão do
ex-prefeito Alcides Bernal seriam muito divertidos não fosse a tragédia que
tudo isso representa. O Sr. Bernal concluiu seu mandato em 1º de janeiro/17
afirmando que deixou 252 milhões de reais nas contas bancárias da Prefeitura de
Campo Grande. Já o seu sucessor, senhor Trad, afirma que hoje o tesouro do município
tem R$ 37 milhões em caixa, ou menos de 15% do valor informado pelo senhor
Bernal.
Mas quem está mentindo? O sr.
Trad, garante o jornal "O Estado MS"; o sr. Bernal, assegura o
"Correio do Estado".
Pra dirimir as dúvidas existentes,
o prefeito Marquinhos Trad, apresentou na tarde de terça-feira 3/1/17, em entrevista coletiva, um
balanço financeiro com informações sobre os valores no caixa municipal. "O
objetivo maior é a transparência nos números —diz o prefeito, conforme nota
emitida por sua assessoria de Comunicação Social. No dia da posse o ex-gestor
apresentou um saldo de R$ 252.192.947,61 e nos disse que muito desse valor
seria para pagamento de funcionário público e não corresponde a realidade. É
verdade que o prefeito deixou R$ 252 milhões? É. Não é mentira dele. Ele pecou
em dizer para vocês que dos R$ 252 milhões, somente R$ 37 milhões eu (?) posso
utilizar para pagar salários”, explicou Trad.
Como se vê, Trad foi
benevolente e ressaltou que os mais de R$ 200 milhões citados por Bernal
referem-se a "verba carimbada", isto é, que não pode ser utilizada
para pagamento de despesas não especificadas. É o caso das verbas destinada ao
Sistema Único de Saúde, convênios com o Governo Federal, pagamento de pessoal, por
exemplo. "Quando alguém intitula: Marquinhos tem R$ 252 milhões e mesmo
assim fala que não tem dinheiro para pagar funcionário público, não é verdade.
O que nós temos condição para efetuar o pagamento de salário é R$ 37 milhões",
detalhou. E não chamou seu antecessor (e aliado) Alcides Bernal de mentiroso,
afinal.
Trad, o benevolente |
Tanto Trad quanto Bernal com
certeza seguem os ensinamentos do cardeal Giulio Mazzarino. Mesmo depois de
quatro séculos, o seu "Breviário dos Políticos" continua cínico,
sagaz e atualíssimo. Nele, o autor, um dos homens mais poderosos de sua época,
tutor do rei Luís XIV, dita regras básicas para chegar e manter o poder. Com um
cinismo espantoso, ele ensina a manipular as pessoas e a colher os frutos das
ações dos outros. Mazzarino, aliás, aplicava suas técnicas espetaculares:
manteve-se no poder graças ao romance com a rainha Ana D’Áustria. Os políticos brasileiros
parecem ser todos seguidores do filósofo franco-italiano.
H. L. Mencken, jornalista
norte-americano, escreveu certa vez que "é difícil acreditar que um homem
está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele".
Trad, pra proteger seu antecessor seguiu a tese de que não há mentira: há
apenas a insinuação do imaginário e mandou ver: a maneira mais evidente e
eficaz de destruir uma mentira na política é contar outra. E segue a filosofia
social que afirma que emitir mentiras sucessivamente é o que permite o mínimo
de equilíbrio social. A verdade é que a verdade é insuportável, insustentável e
indigesta. Melhor manter o aliado e manter o equilíbrio social e político.
Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil
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