quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Quem está com a verdade?

[
Simultâneos, o início da administração do prefeito Marquinhos Trad e o desenlace da gestão do ex-prefeito Alcides Bernal seriam muito divertidos não fosse a tragédia que tudo isso representa. O Sr. Bernal concluiu seu mandato em 1º de janeiro/17 afirmando que deixou 252 milhões de reais nas contas bancárias da Prefeitura de Campo Grande. Já o seu sucessor, senhor Trad, afirma que hoje o tesouro do município tem R$ 37 milhões em caixa, ou menos de 15% do valor informado pelo senhor Bernal.
Mas quem está mentindo? O sr. Trad, garante o jornal "O Estado MS"; o sr. Bernal, assegura o "Correio do Estado".
Pra dirimir as dúvidas existentes, o prefeito Marquinhos Trad, apresentou na tarde de terça-feira 3/1/17, em entrevista coletiva, um balanço financeiro com informações sobre os valores no caixa municipal. "O objetivo maior é a transparência nos números —diz o prefeito, conforme nota emitida por sua assessoria de Comunicação Social. No dia da posse o ex-gestor apresentou um saldo de R$ 252.192.947,61 e nos disse que muito desse valor seria para pagamento de funcionário público e não corresponde a realidade. É verdade que o prefeito deixou R$ 252 milhões? É. Não é mentira dele. Ele pecou em dizer para vocês que dos R$ 252 milhões, somente R$ 37 milhões eu (?) posso utilizar para pagar salários”, explicou Trad.
Como se vê, Trad foi benevolente e ressaltou que os mais de R$ 200 milhões citados por Bernal referem-se a "verba carimbada", isto é, que não pode ser utilizada para pagamento de despesas não especificadas. É o caso das verbas destinada ao Sistema Único de Saúde, convênios com o Governo Federal, pagamento de pessoal, por exemplo. "Quando alguém intitula: Marquinhos tem R$ 252 milhões e mesmo assim fala que não tem dinheiro para pagar funcionário público, não é verdade. O que nós temos condição para efetuar o pagamento de salário é R$ 37 milhões", detalhou. E não chamou seu antecessor (e aliado) Alcides Bernal de mentiroso, afinal.
Trad, o benevolente

Tanto Trad quanto Bernal com certeza seguem os ensinamentos do cardeal Giulio Mazzarino. Mesmo depois de quatro séculos, o seu "Breviário dos Políticos" continua cínico, sagaz e atualíssimo. Nele, o autor, um dos homens mais poderosos de sua época, tutor do rei Luís XIV, dita regras básicas para chegar e manter o poder. Com um cinismo espantoso, ele ensina a manipular as pessoas e a colher os frutos das ações dos outros. Mazzarino, aliás, aplicava suas técnicas espetaculares: manteve-se no poder graças ao romance com a rainha Ana D’Áustria. Os políticos brasileiros parecem ser todos seguidores do filósofo franco-italiano.
H. L. Mencken, jornalista norte-americano, escreveu certa vez que "é difícil acreditar que um homem está a dizer a verdade quando você sabe que mentiria se estivesse no lugar dele". Trad, pra proteger seu antecessor seguiu a tese de que não há mentira: há apenas a insinuação do imaginário e mandou ver: a maneira mais evidente e eficaz de destruir uma mentira na política é contar outra. E segue a filosofia social que afirma que emitir mentiras sucessivamente é o que permite o mínimo de equilíbrio social. A verdade é que a verdade é insuportável, insustentável e indigesta. Melhor manter o aliado e manter o equilíbrio social e político.

Luca Maribondo

Campo Grande | MS | Brasil


Nenhum comentário: