quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Cadeia neles


"Cadeia é ameaça maior a Bernal". Este é o texto da manchete do jornal "Correio do Estado" da segunda-feira, 12/12. Segundo a folha, o problema é a desobediência à Lei da Responsabilidade Fiscal: Alcides Bernal, "chefe do Executivo da Capital pode ser preso se deixar dívida para sucessor pagar". Longe de ser um exemplo como administrador, o prefeito pode ser enquadrado no Código Penal, "que prevê prisão de até quatro anos para gestor que contrair dívida e não deixar dinheiro em caixa para seu pagamento".
Administrativamente, Campo Grande tornou-se uma completa coletânea de desacertos de gestão. A cidade tornou-se caótica em quase todos os aspectos primordiais de uma administração pública, incluindo educação, saúde, mobilidade urbana, segurança, assistência social e outros pontos fundamentais. Isso graças às gestões desastrosas da parelha Alcides Bernal, o prefeito atual, e Gilmar Olarte, seu vice e inimigo, que cumpriram um único mandato iniciado em 2013. Olarte, o vice, assumiu o Executivo campo-grandense por alguns meses após uma série de erros cometidos com a participação de grande número de vereadores corruptos.
Foi corrupção? Foi inépcia? Com certeza foi a soma de tudo. Mas o que houve com a cidade mostra que, comparada ao custo da incompetência, a corrupção consegue ser um mal menor. É fácil de entender. Bernal e Olarte foram os protagonistas de um grave caso de completa inabilidade para administrar cidade e o que a gente vê hoje mostra uma pálida ideia da tragédia que transformou uma capital com ótima qualidade de vida numa espécie de ante-sala do inferno.
Com certeza essa crise que domina Campo Grande foi provocada essencialmente pela escassez de competência ––inclusive da mídia, incapaz de detectar problemas tão graves, advertidos, nas próprias páginas da imprensa, por gente que conhece a fundo os problemas urbanos.
Não há a menor dúvida de que os erros de políticas públicas e de má gestão são mais devastadores do que a roubalheira. Mas existe uma questão de marketing. Notícias sobre corrupção atraem mais atenção, entronizadas na guerra entre o bem e o mal: são notícias com cara e alma de personagens conhecidos projetados nas trevas. Acompanhar políticas públicas e detectar erros exige paciência e acompanhamento de longos e intricados processos, o que não tem charme para o leitor comum.
Quantas pessoas teriam interesse em acompanhar as negociações sobre contratos de terceirização de serviços, reformas de prédios públicos, manutenção de vias públicas, coleta de lixo e outros? O problema é que nem sempre vemos nitidamente os efeitos da incompetência. O caso do laboratório municipal de análises clínicas, que se transformou em notícia nacional por ter sido transformado em sucata é emblemático.
Pudéssemos acompanhar e avaliar os custos de erros das políticas educacional, de segurança, de saúde, mobilidade, entre outras, nas esferas da União, Estado e Municípios e a cidade não teria nem metade dos problemas hoje detectados. O amadurecimento político do país será medido pela capacidade do cidadão ter mais recursos para prestar menos atenção no show e olhar os processos decisórios.
Olarte & Bernal: rumo à prisão?

Como foi dito no início desta semana, um dos jornais da cidade advertiu que o prefeito Alcides Bernal poderá ser preso assim que deixar o Paço Municipal em primeiro de janeiro deste ano. O pastor Gilmar Olarte também deve ir pra cadeia, pois tem muito culpa pela inépcia administrativa. Do jeito que agimos só nos resta rezar pra que o futuro prefeito, Marquinhos Trad ––que assume o cargo em duas semanas––, possa cumprir pelo menos uns dez por cento de suas muitas promessas de campanha, para que a cidade possa readquirir sua aura de cidade boa pra viver.
Mas é bom ter sempre em mente que, no Brasil, a política é materializada por homens sem honestidade, sem ideais e sem grandeza. A política é a arte de buscar a elevação por meio da injustiça. E os dois administradores dos últimos quatro anos, Olarte e Bernal, são as provas vivas de que uma má reputação não faz mal a ninguém.

Luca Maribondo
lucamaribondo@uol.com.br
Campo Grande MS

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