terça-feira, 1 de novembro de 2016

Mais difícil matar um fantasma

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Prefeito eleito de Campo Grande, o deputado estadual Marquinhos Trad (PSD), começou quente a segunda-feira, 31 de outubro/16, dia seguinte à eleição e, de acordo com a manchete do seu principal esteio mercadológico durante a campanha eleitoral, o jornal Correio do Estado, "Marquinhos começa hoje a transição", e afirmou que não vai esperar assumir o cargo pra começar a administração. Trad venceu a sua adversária no segundo turno das eleições municipais de Campo Grande, Rose Modesto (PSDB), por 58,77% dos votos contra 41,23% no domingo, 30/10.
“A partir de amanhã já, não vou esperar janeiro não, vou falar cedo com Alcides Bernal que me ajudou, vou ligar para o governador, vou ligar para a minha adversária, vou estender as mãos por mais ataques que eu tenha sofrido”, afirmou Trad ao chegar no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MS) no domingo, logo após a divulgação do resultado pleito. Será que seu aliado Alcides Bernal, atual prefeito da cidade, será novamente usurpado do cargo?
Trad reclama muito dos ataques que recebeu durante a campanha que também atingiram sua família. “Vou agradecer muito a Deus, vou reunir com minha esposa e minhas filhas que sofreram muito comigo, sofreram muito. Confesso que não esperava que fossem três meses assim, tão intenso e com argumentos tão intensos, mas na administração vou esperar o resultado da eleição” (sic), declarou o prefeito eleito, sempre no seu estilo dilmês.
Na assessoria do novo prefeito reclama-se da sordidez da campanha da sua adversária, mas a campanha de Trad também não foi das mais angelicais. Rose Modesto acusou-o inclusive de tê-la chamado de "cortesã de beira de estrada". Aliás, a campanha municipal de 2016 foi uma das mais vulgares das últimas décadas em Campo Grande.
E o que se deve esperar do prefeito eleito da Morenópolis? No primeiro dia após o pleito, Trad ainda não apertou o botão pause e ainda continua em campanha. Anunciou logo cedo na segunda-feira, em entrevista ao telejornal Bom Dia MS, a extinção de algumas secretarias municipais, sem especificar quais. E também afirmou que vai criar duas novas pastas: uma específica para pessoas com deficiência e outra, para assuntos fundiários.
Em outros veículos de comunicação continuou citando seu programa de governo, que tem pouco de criatividade e muito de burocracia. O campo-grandense sabe que, desde o advento da administração do médico André Puccinelli a cidade sofre com prefeitos medíocres, mais voltados para o enriquecimento do que a gestão da prefeitura municipal.
Difícil profetizar como será a segunda administração morenopolitana Trad (a primeira foi do Dr. Nelsinho Trad). Mas tem algo no deputado Marquinhos que atemoriza: sua fala (assim como da sua adversária Rose Modesto) remete à presidente interrompida Dilma Rousseff. Quando discursa, o futuro prefeito não é capaz de ter um plano mental de organização de ideias. Não há em seu raciocínio coesão e coerência. Algumas de suas frases e expressões são ininteligíveis, como esta: "Confesso que não esperava que fossem três meses assim, tão intenso e com argumentos tão intensos, mas na administração vou esperar o resultado da eleição”.
Penso, entretanto, que devemos torcer pelo novel prefeito. A cidade precisa de mudanças profundas na administração municipal, mudanças que vão desde o básico, como educação, saúde, limpeza e coleta de lixo, saneamento básico, segurança pública a problemas que exigem mais criatividade, como urbanismo, sistema viário, meio ambiente, infra-estrutura, mobilidade etc. Nos planos de ambos os candidatos, muita burocracia e pouca criatividade.
Pra torcer pelo êxito de Marquinhos Trad cada campo-grandense deve ter um exemplar do plano de governo do prefeito eleito em sua biblioteca e cobrá-lo durante cada um dos 1.460 dias de sua administração, que vai de 1º de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2020. Nesse período, Trad terá de mostrar que não é o fantasma que o acusaram de ser, mas um ser vivo, forte, concreto e criativo. Até porque, como disse Virgínia Woolf, "é muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade".

No Correio do Estado da terça-feira, Dia de Todos os Santos, a manchete "Marquinhos cobra promessas" demonstra que o novo prefeito da cidade é um cobrador. E, como tal, também deve ser cobrado. Final, assumiu muitos compromissos com o morenopolitano.
Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil

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