segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Prometendo o pior

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Realizada a eleição de 2 de outubro/16, depois de uma campanha eleitoral indigente, o morenopolitano sintetizou dois candidatos de um total recorde de quinze: Marquinhos Trad (PSD) e Rose Modesto (PSDB). Juntos, ambos obtiveram 62,2% dos votos válidos, ou 261.432 sufrágios. Trad foi votado por 147.694 eleitores, e Modesto por 113.738 ––a diferença em favor de Marquinhos Trad é de 33.956 votos (a fonte é o TSE).
No dia 30 de outubro os dois disputam o segundo turno das eleições municipais de 2016 pra decidir quem vai sentar-se na principal cadeira do Paço Municipal da Avenida Afonso Pena por quatro anos. E o que se deve esperar da segunda etapa da campanha eleitoral? A se julgar pela campanha do primeiro turno, não deverá haver grandes novidades, com as costumeiras ressalvas.
Na campanha do primeiro turno, Trad e Modesto não falaram novidades em suas propostas pra administrar a cidade, mas ambos partiram para invectivas que provocaram respostas grosseiras e mal-educadas. As propostas de ambos ficaram no arroz-com feijão da maioria das campanhas eleitorais deste "brasilzão de meu Deus". E, como se sabe, quem dá cabrito e cabra não tem, deve explicar de onde o bicho vem. Nenhum deles explica de onde virão os recursos para concretizar seus planos político-administrativos.
Numa seção eleitoral da zona sul da cidade foi possível entreouvir a frase poética "existirmos, a que será que se destina? Neste mundo cruel, qual será a nossa sina?" Seu autor recebeu em resposta uma sentença também bastante eloquente: "eu vi uma luz no fim do túnel, enchi de esperança o coração, mas a luz que lá vi era de um trem carregado de ilusão..." Conclusão: depois da campanha a análise é de que os nossos políticos e governantes dividem-se entre os totalmente incapazes e os capazes de tudo...
Há quem ainda fale em Democracia. Mas no Brasil, a Democracia começa na votação e acaba na apuração. Mas o eleitor mudou: muitos descobriram que podem não mudar o mundo, mas mudam as cabeças, o que já não é pouco. Se as pessoas não conseguem realizar nossos sonhos, irão pelo menos evitar a concretização dos seus pesadelos. O problema da Democracia no Brasil é que a maioria não é democrata. Aliás, a grande maioria do povo brasileiro nem sabe o que é Democracia.
O cidadão parece ter notado que nas campanhas eleitorais os canalhas, mentirosos, salafrários, corruptos, estão sempre buscando engabelar a sociedade. Muitos já intuíram que nas campanhas eleitorais brasileiras, a verdade é sempre mal recebida, mas a mentira é recebida de braços abertos. Modesto e Trad são exemplos eloquentes. A tucana é uma espécie de poste do governador Reinaldo Azambuja, que busca se cacifar pra reeleição em 2018. Trad ganhou a adesão do atual prefeito Alcides Bernal, que afundou nos próprios buracos de sua campanha capenga. Foi uma adesão devidamente documentada, apesar da gente não poder confiar em documento assinado por um político como o Dr. Bernal.
Marquinhos e Rose
Mas a mentira não funcionou muito bem desta feita. Muitos medalhões foram pra casa. E PSDB foi o partido que conseguiu o maior número de prefeituras em Mato Grosso do Sul nas eleições 2016. Dos 79 municípios, 36 deverão ser administradas por tucanos, o que representa 46,83%. O PMDB sofreu uma perda de 23 prefeituras nas eleições de 2012 para 17 neste pleito. O PR elegeu oito prefeitos, o PSB cinco, DEM e PEN três e o PDT dois. O PMN, PSL, PSC, e PTB elegeram um prefeito cada sigla. O PT que na última eleição tinha conquistado 12 prefeituras, desta vez não elegeram nenhum.
Uma correlação de forças mas justa também causou uma campanha mais asséptica: as ruas ficaram mais limpas, sem o entulho publicitário de santinhos e cartazes afixados em postes; a proibição de recursos às campanhas por parte de empresas exigiu mais sola de sapato, com os candidatos se obrigando a percorrer as ruas de regiões e bairros, reforçando os eixos da articulação social e da mobilização de grupos; a indignação contra os escândalos que mancham o perfil de políticos, gestores públicos e empresários propiciaram postura mais crítica do eleitor.
A recorrente parolagem de condenação às elites, que os lulopetistas e seu entorno plasmaram com afinco nos últimos 20 anos, azedou as relações de parcelas significativas da sociedade. Construiu-se, de um lado, um inferno para "eles" e um céu para "nós", divisão que começou a fragmentar quando os "olimpianos" foram flagrados nas teias do mensalão e arremetidos ao poço do descrédito pelo tsunami do petrolão. O ambiente político e social se liberta do grilhão expressivo que ainda faz eco em grupos incrustados na universidade pública, em setores da cultura (bafejados pelo Estado protecionista da Lei Rouanet) e em turbas agressivas de movimentos do arquipélago que reúne ilhas como UNE, MST, MTST, CUT e adjacências.
Por isso, é razoável supor que os partidos políticos ganharão densidade ideológica, deixando de ser entes amorfos, insossos e incolores. Da mesma forma, é possível prever campanhas menos exuberantes, mais modestas, sem estardalhaços, acompanhadas atentamente por um eleitor crítico. Observa-se em todos os rincões, mesmo os mais distantes, o crescimento da racionalidade. Donde se pode tranquilamente afirmar: no Brasil, o voto começa a escapulir do coração para entrar na mente. E espera-se que isso aconteça pelas bandas da Morenópolis também.

Mas pelo que se viu até agora, ambos os candidatos apenas darão o pior de si pro eleitorado.

Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil

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