segunda-feira, 11 de julho de 2016

Esquecer seus nomes

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Num dia qualquer da semana passada, o vereador morenopolitano Marcos Alex Azevedo de Melo (PT), mais conhecido pelo codinome Alex do PT, foi insultado e quase surrado num bairro da periferia de Campo Grande por líderes e cidadãos da comunidade. O evento acabou se tornando manchete do jornal local “Correio do Estado” (e notícia em outros veículos) ao revelar que “Hostilidade do eleitor assusta candidatos”. O periódico observou que “escândalos de corrupção, como os descobertos nas operações Lava Jato e Lama Asfáltica, azedaram a relação dos políticos e do eleitorado. Na Capital (Morenópolis), casos de agressões desmotivaram pré-candidatos a andar pelos bairros”.

No Brasil, país farto em recursos naturais, mas duramente vilipendiado por políticos e administradores inescrupulosos e corruptos desde a época colonial, principalmente por aqueles que passaram anos na oposição pregando a ética e a honestidade, mas apenas como representação histriônica, as relações político/eleitor se deterioram a olhos vistos.

A coisa desandou há pouco mais de uma década, quando oposicionistas de esquerda de fachada, posando de paladinos da moralidade e, quando chegaram ao poder, em vez de colocar em prática os seus princípios, preferiram o fisiologismo, o fanatismo, o sectarismo, a destruição da educação e da cultura, a alienação do povo, em nome da pseudo-erradicação da pobreza com programas assistencialistas baratos, que mais beneficiaram banqueiros, empresários e políticos e seus parentes desonestos do que a população pobre e, principalmente, a miserável.

Na vida, quase tudo é consertável, remediável, inclusive o fisiologismo e a corrupção. A famigerada corrupção, oriunda de Pindorama (não pense que os indígenas são santos —nada os difere dos alienígenas em matéria de probidade), institucionalizada nos últimos anos de forma agressiva, praticamente uma metástase, em todos os poderes —Executivo, Legislativo e mais lamentavelmente no Judiciário—, que abandonaram seus papéis constitucionais, pois atualmente são plenamente dependentes e harmônicos entre si na preservação e impunidade da corrupção disseminada.

Ressalte-se que existe uma minoria disposta a combatê-la e que alimenta a esperança de pelo menos incomodar e punir os corruptos. A desesperança no combate da corrupção, principalmente com a conivência do Judiciário e a omissão da mídia, preocupada com suas verbas de publicidade, no lucro escancarado, relegando seu papel maior de difundir e informar sem censura, sem farsas e trampolinagens, transformou a grande maioria da população brasileira em partícipes na tolerância à corrupção, deixando-se destruir pela falta de elementos essenciais à sobrevivência…

Passou da hora do cidadão acabar com tudo isso. As transformações não virão de cima pra baixo. Corruptos de todos os jaezes não querem mudar. Mudanças só virão de baixo para cima. No passado não nos importávamos com esses problemas e suas consequências porque eram periféricos, mas agora estão nas portas de todos e, com a omissão da sociedade não serão resolvidos, porém ampliados e ficarão, num futuro muito próximo, descontrolados —aliás, já estão descontrolados.

Há no Brasil milhões de leis. Ninguém sabe quantas. Mas já se fala na criação de dispositivo legal enquadrando a corrupção na categoria dos crimes hediondos, com a sua aplicação eficaz e independente. Difícil crer nisso, mas talvez seja o início da mudança da vontade popular, livre e soberana. Também não se pode poupar dos agravantes, os agentes públicos e privados que deveriam pelo conhecimento de ofício, em razão do seu grau e profissão, evitá-la e combatê-la.

No Brasil, a corrupção está em todos os patamares da sociedade, disfarçada com o jeitinho brasileiro de ser. Faz parte do folclore tupiniquim. O povo brasileiro é estranho. Todos os dias vê-se nos jornais as mazelas do país: criminalidade, corrupção, falta de saneamento, educação esculhambada, serviços de saúde letais, de segurança insegura, trânsito caótico... E ainda assim, o povo parece não querer mudar nada.

As pesquisas eleitorais dão como certa a vitória de todos os bandoleiros de sempre. De dois em dois anos o povo é obrigado a escolher nossos candidatos, mas acaba elegendo aqueles se trocam por dinheiro e bens os votos dos supostos cidadãos. Ninguém parece se importar com seu país, seu Estado, seu país.

Impossível esquecer de um quadro veiculado há uns anos no Casseta & Planeta, em que um dos humoristas do programa entrevistava as pessoas na rua e perguntava: “Você é corrupto?” Ao que a pessoa respondia: “Não”. Então o pseudo-repórter perguntava: “E se eu te der R$ 100, você muda de ideia?” A pergunta ficava no ar, mas a expressão do entrevistado já dava a resposta... Esse é o perfil do brasileiro.

O fato é que há muito tempo o brasileiro não acredita nos políticos. Sabe-se que todas as suas promessas são apenas conversa fiada para convencer o eleitor de que vale a pena. A maioria acredita que todo político desvia dinheiro. Rouba, em bom português. Já se ouviu tantas histórias de gente que era “honesta” e depois de eleita foi obrigada a entrar no esquema (honesta?).

A solução? Não existe. Não se acredita numa solução. Será que ofender e surrar os candidatos, políticos, governantes, servidores públicos etc. resolveria alguma coisa?! Provavelmente não. A violência certamente não tem o poder de melhorar as pessoas. Você sabe o que está acontecendo no país? Nada... Simplesmente o domínio da malta, que tomou o lugar da cidadania... E muito gentilmente. Política é a ciência da corrupção e não será a violência que acabará com os políticos corruptos.

Não dá pra entender como é que alguns (muitos) optam por corrupção, quando há tantas maneiras legais de ser desonesto. O escritor norte-americano Ray Bradbury argumentou que “eu odeio toda a política. Eu não gosto de nenhum partido político. A pessoa não deve pertencer a eles —deve ser um indivíduo, de pé no meio. Qualquer pessoa que pertence a um partido para de pensar”.

A corrupção política é apenas uma consequência das escolhas do povo. Por isso, somente o povo conseguira eliminar a corrupção. Basta ao cidadão usar sua inteligência e seu conhecimento e votar nas pessoas certas. Mas xingar e surrar os candidatos nada resolverá. O melhor castigo para os políticos é esquecer seus nomes.

Luca Maribondolucamaribondo@gmail.comCampo Gande MS Brasil

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