domingo, 24 de abril de 2016

Golpe na inteligência do cidadão

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Argumento, repetido à exaustão, de que estaria sendo tramado um golpe contra o governo Dilma Rousseff invade espaços midiáticos, multiplicados pela rede lulopetista, corre o mundo. O vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, seriam os líderes dos conspiradores. A estratégia pregada, nesse caso, é tentar colar a imagem de Cunha à imagem de Temer. Como sofre uma bateria de denúncias, o presidente da Câmara, como tentam o PT e o governo, contaminaria a imagem do presidente da República. Ou seja, o mal de um geraria danos para o outro. Essa é a intenção dos comunicadores petistas, sempre —e estupidamente— usando a filosofia goebbelista da propaganda nazista.

Mme. Dilma Rousseff, entretanto, se esquece é que o povo não é tão besta assim. Não entra nesse joguinho estúpido. Ela acha que é simples dizer que fulano é o demônio em pessoa e que esta identidade demoníaca pode ser simplesmente transferida a um coletivo pelo simples fato deste grupo ser contrário ao governo. Por isso, Dilma começa a sofrer o contragolpe: os 367 deputados que votaram são conspiradores? Os milhões de pessoas que saíram às ruas desde 2013 são conspiradores? O STF (Supremo Tribunal Federal), que definiu o rito do impeachment, é golpista? Os oito ministros do STF entre os onze que formam o Colegiado são traidores golpistas? Dilma, lacrimosa, pode até gerar comoção em algumas pessoas. Mas ela é uma pessoa dura, autoritária, nervosa, arrogante e não tem como sustentar essa postura.

Não vai ter golpe! Este é o grito de guerra da esquerda, que nem é tão esquerda assim. Mas afinal, o que é na verdade esse golpe? Analisando o que dizem os lulopetistas, os que mais usam o vocábulo, a gente nota que eles não têm a menor ideia do seu significado. A ignorância é quase total. A expressão golpe de Estado faz referência às mudanças no Governo feitas na base da violação da Constituição do Estado, normalmente de forma violenta, por parte dos próprios detentores do poder político.

Segundo o Dicionário da Política (Norberto Bobbio), “tomando como objeto de pesquisa os anos recentes, achamo-nos frente a uma verdadeira proliferação de golpes, embora com características bem diferentes. Na verdade, no início dos anos 1970, mais de metade dos países do mundo tinha Governos saídos de Golpes de Estado, e o Golpe de Estado, por conseguinte, tornou-se mais habitual como método de sucessão governamental do que as eleições e a sucessão monárquica”.

Resumindo, o tal Golpe de Estado é a tomada inesperada do poder governamental pela força e sem a participação do povo. O que os lulopetistas estão chamando de golpe não tem tomada inesperada do poder pela força (já viu coisa mais propalada ultimamente?) e sem a participação do povo (o povo está participando de tudo, contra e a favor). Enfim, o golpe é a subversão da ordem constitucional e tomada de poder por indivíduo ou grupo de certo modo ligados à máquina do Estado.

Na verdade, Dilma Rousseff está sendo confrontada com a possibilidade de um impeachment, previsto na Carta Magna de 1988, mecanismo político-legal que permite a muitas nações defenestrarem mandatários acusados de improbidade, crimes e outras felonias sociais e políticas. A mandatária nega os ilícitos e insiste em argumentar que não há justificativa legal para o impeachment, mas os especialistas garantem ter elementos para acusá-la de improbidade administrativa, crime de responsabilidade, desobediência, extorsão, crime eleitoral, falsidade ideológica e responsabilidade fiscal. Sete ao todo.

Acrescente-se aí mais um: estultícia política. Ao contrário do criador e mentor, Lula da Silva, a presidente nunca teve o jogo de cintura suficientemente flexível para enfrentar o jogo político de Brasília. Dilma Rousseff não tem vivência política e nunca foi muito querida entre os servidores, incluindo os ministros, dos mais altos escalões, pelos mesmo motivo que não é estimada pelos políticos: arrogância, arroubos de impaciência, indelicadeza e rispidez no trato. Sem experiência e inaptidão para o trato político —em Brasília estão alguns dos mais malandros políticos do planeta—, Dilma trocou os pés pelas mãos o que a levou a um isolamento político e pessoal inéditos notadamente para um presidente da República.

Toda essa dificuldade no trato com assessores e no jogo político parece ter muito a ver com a organização da sua cabeça: Dilma Rousseff tem sempre a entonação de imposição, de arrogância, o que reduz seu poder de argumentação e persuasão. Não se sabe bem porque, a presidente não é capaz de elaborar um plano mental de organização de ideias, do pensamento, pois faltam-lhe, coesão, coerência e capacidade de ordenar os pensamentos.

Eis uma exemplo eloquente de sua incapacidade para organizar as ideias: "E não tem como estocar vento, não é? Não tem como. Não, nós estocamos água. A grande coisa que o Brasil fez foi estocar água, porque hidrelétrica, também, a água passou, acabou. Nós estocamos água. A água era a forma de a gente controlar a produção de energia com base na hidreletricidade. Como não tem como estocar vento, tem de ventar para ter eólica. Há que ventar. E o vento, não sei se vocês sabem, não venta igual 24 horas por dia, nem os 365 dias do ano. Eu estou falando isso porque eu já medi vento, viu? Eu medi vento no Rio Grande do Sul. Eu sei o que significa medir vento.” São tantas as falhas em seus discursos que acabaram por provocar a elaboração de inúmeros livros a respeito das suas falas estapafúrdias.

Sempre haverá quem resolva dizer que a frase transcrita acima é falsa ou foi inventada. Mas a sentença foi retirada ipsis verbi de discurso da presidente da República durante a reunião ordinária do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e publicada no Portal do Planalto em 4/abr./2012. Quem quiser confrontar não precisa recorrer à mídia (afinal sempre desmentida pelos lulopetistas), mas checar no portal do Palácio do Planalto, que pode ser parcialmente confiável: http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-a-reuniao-ordinaria-do-forum-brasileiro-de-mudancas-climaticas-brasilia-df


Na verdade, é a presidente e seus prosélitos que estão frequentemente aplicando golpes certeiros e doloridos na inteligência do cidadão brasileiro. Exceto dos seus sectários. O que é uma clara demonstração da falta de inteligência e brilhantismo da mandatária. Uma pena —afinal, a maioria confiava no melhor discernimento e capacidade de uma mulher no comando da governança do país. Dilma Rousseff vai entrar na história como a mandatária que não deixou podre sobre podre.

Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil

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