Em julho de 1993, oito jovens com idades entre 11 e 19 anos
que dormiam nas proximidade da Igreja da Candelária, no centro do Rio de
Janeiro, foram executados a tiros por homens que chegaram ao local em dois
Chevettes. Pelos crimes, foram condenados três policiais militares. Hoje, 22
anos depois do massacre, as motivações ainda são desconhecidas, porém, uma das
teses apontadas pela investigação é vingança. Meninos de rua teriam apedrejado
um carro da polícia, um dia antes, após a prisão de um traficante que vendia
cola de sapateiro. Outra causa possível foi o atropelamento da mulher de um
policial que fugia de um arrastão cometido por menores.
Mas isso de fato não importa. O que interessa, no caso, é o
fato de que quase sempre que a polícia sai em campo pra defender os interesses
do cidadão, este quase sempre se ferra: de cidadão se transforma em vítima,
geralmente vítima defunta, pronta para a tumba. Ou no mínimo vítima no
hospital, engessada dos pés ao queixo, mais perfurada do que cérebro de
político.
Difícil, entretanto, escapar das chacinas policiais no
Brasil. Mas quem escapa "apenas" com ferimentos e outros males
"menores", tipo agentes do governo, sistema público de saúde,
trânsito, a própria polícia, impostos e a política, deve ter um santo dos mais
fortes e, com certeza, está sendo preservado pelo Todo-Poderoso para o mais
glorioso dos destinos, provavelmente uma sinecura no Senado Federal ou na
Diretoria da Petrobrás.
Essas vítimas da polícia logo que recebem alta aliam-se ao
partido que se encontra no Governo —qualquer governo, do municipal ao federal—
e passam a dedicar-se à Pátria e aos humildes. E desde o começo prometem
defender os interesses dos que estiverem no poder, seja pela força das armas,
seja pela força do dinheiro, seja pela força da propaganda —geralmente do tipo
nazista, a mais efetiva.
Essas pessoas acabam adonando-se do poder político e se
forçam com a maior dignidade para tornar-se exemplo digno de ser imitado pela
mocidade da sua pátria, recebendo dezenas de títulos de doutores honoris causa, estátuas em jardins de
celebridades e menções de ex-presidentes de países que não dão a mínima para o
Brasil.
Luca Maribondo
Campo Grande MS
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