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Desde 1961, ano do início (e do fim) do
governo Jânio Quadros, o Brasil vem sendo governado por bandoleiros das mais
variadas laias. É bem possível que, se fossem cidadãos comuns e o país fosse
sério, esses governantes estariam engaiolados. Dos vinte e tantos presidentes
que tivemos na segunda metade do século 20, raros não seria adjetivados como
corruptos.
Devem os brasileiros lamentar-se
amargamente pela quantidade de situações de corrupção que hoje são noticiados
no país —nem sempre foi assim, mas tem quem ache que houve uma evolução da
liberdade de imprensa, assim como de maior atuação política dos cidadãos, que
passaram a se preocupar mais com a atuação do governo nas três esferas de
poder. O povo ficou mais sério? Talvez...
Claro que o Brasil vem evoluindo. E nota-se
que essa evolução, apesar de lenta, é constante, embora sempre haja passos pra
trás. Não se pode depositar esperanças de que tudo vá se resolver de um dia pro
outro, ou que se solucione apenas com leis mais rigorosas. Mas o brasileiro precisa
compreender que deve caminhar para um tempo em que o jeitinho brasileiro, de querer se pôr em vantagem sempre, não seja
mais um comportamento cultural e socialmente aceito. É preciso que o corrupto
sinta que não mais é aceito pela sociedade, que é persona non gratta.
Essa coisa de encarar a corrupção como algo
natural é amplamente prejudicial à sociedade e reduz sobremaneira a
possibilidade de combatê-la. O caminho a ser percorrido na luta contra a
corrupção é longo e tortuoso e o fim da corrupção não será fruto de meras normas,
mas o resultado da aquisição de uma consciência democrática e de uma lenta e mas
decisiva participação popular, o que permitirá a contínua fiscalização das
instituições públicas, reduzirá a conivência e, pouco a pouco, depurará as ideias
dos políticos que pretendem empolgar o poder. Com isto, a corrupção poderá ser
atenuada, mas eliminada nunca será.
Diante disso, devem os brasileiros além de
indignar-se, ir à luta, tentar eliminar a corrupção, primeiro no próprio seio
da sociedade. Mas não basta indignar-se —é preciso ação. Os cidadãos devem
participar mais da vida política do país, acompanhando, fiscalizando, atuando
etc.
Quando, na década de 1970, um grupo de
operários, sindicalistas e intelectuais fundou o Partido dos Trabalhadores (PT)
encheu os corações de muitos brasileiros de esperança de mudanças no modo de
governar a nação. Doce ilusão a nossa. Tão logo foi tomando o poder nos mais
diversos rincões do país, o Partido dos Trabalhadores foi sendo engolfado pelo
tsunami da corrupção tupiniquim.
Muitos petistas históricos abandonaram o
partido —Marina Silva, Hélio Bicudo, Plínio de Arruda Sampaio, Cristovam
Buarque, Heloísa Helena e outros— por conta da corrupção. Os líderes que
ficaram nunca admitiram a face corrupta do partido, desenhada até na cabeça do
seu Grande Guia Lula da Silva.
Poucos, como o ex-ministro Gilberto
Carvalho, admitem que PT, um partido que se dizia diferente dos outros por ser
ético e honesto, sucumbiu à mais grossa corrupção desde que chegou ao poder,
numa escala pouco comum na história brasileira. Em recente entrevista a uma
emissora de tv estatal, Carvalho afirmou que o PT pecou, embora com a melhor
das intenções, e agora tem de “sofrer” para que a política nacional se redima.
“Temos a nossa cota de responsabilidade”,
disse o ex-ministro, um dos principais ideólogos do PT, em entrevista à TV
Brasil, reconhecendo que, por ter se envolvido em escândalos, o partido
enfrenta a crescente hostilidade da opinião pública e de inúmeros estamentos
políticos e econômicos do país e do exterior. “É duro ser apontado na rua, chamado
de bandido, ter companheiros presos”, lamentou o ex-ministro de Lula da Silva
na entrevista.
Carvalho tenta justificar o calvário trabalhista
como uma consequência da boa alma do partido. Segundo o petista, a agremiação
almejava deflagrar um “processo virtuoso”, marca dada por ele à implementação
da política estatista que tinha a pretensão de acabar com a pobreza do país por
decreto. Mas para Lula da Silva chegar “lá”, como dizia o slogan da campanha
presidencial de 1989, foi preciso seguir “o exemplo da prática política dos
partidos tradicionais que mais condenávamos”, afirmou Carvalho.
“Não fosse a contratação do Duda Mendonça (o
célebre marqueteiro das grandes estrelas políticas tupiniquins) em 2002, a peso
de ouro, diga-se, provavelmente não teríamos ganhado (sic) as eleições e não
teríamos feito tudo isso o que nós fizemos”, disse o ex-ministro em sua autocrítica.
Mas não há arrependimento: “Postos os fatos na balança, acho que nós fizemos o
caminho necessário para chegar ao governo, dentro de uma regra do jogo que
estava estabelecida”.
Resumindo, o ex-secretário-geral da
Presidência da República afirma que o PT errou ao se envolver em escândalos de
corrupção e que está pagando por isso. Para ele, o partido “tem que sofrer”. Na
óptica do petista, o partido errou apenas ao seguir a regra do jogo político
brasileiro, que tem o coronelismo e a plutocracia como paradigmas
político-eleitorais desde 1808, quando a nação passou a existir de fato.
Desde Pedro I os governantes brasileiros jamais
se preocuparam de verdade com o aumento do crime organizado no Brasil. Assim,
foram tão lenientes que deixaram o crime dito esculhambado se tornar cada vez
mais e mais organizado. Tão organizado que agora os chefões dessa área substituíram
as chamadas autoridades políticas. E, na verdade, o crime se organizou porque
não aguentava mais a felonia das autoridades.
Enfim, corrupção, crise, crime organizado,
falta de dinheiro, retrocesso social e político. Desde que o Brasil existe
estas são palavras que descrevem a realidade perene da nação. Por isso é fácil
aos poderosos de todos os jaezes fazerem a sociedade aceitá-las como uma
tragédia irremediável no país, da qual o cidadão só sai individual, ocasional e
heroicamente. E como o povo aceita os poderosos passivamente desde sempre, deve
ser sinal que eles estão cobertos de razão. E foi isso que o Carvalho petista quis
dizer: nós aderimos à bandidagem por pura
bondade.
Luca Maribondo
Kerobokan | Bali | Indonésia | 7/outubro/2015
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