quarta-feira, 22 de abril de 2015

_A moderna esquerda bundinha

Bundinha é a palavra pejorativa originária da burguesia paulistana utilizada pra descrever o sujeito ou sujeita que se diz esquerda, socialista, mas que leva uma vida de luxo, glamour, balada e oba-oba. O termo indica que os membros da também chamada esquerda caviar não são sinceros nas suas crenças, uma vez que pregam algo (uma sociedade socialista e igualitária) e, de maneira hipócrita, faz outro completamente diferente (se beneficia do sistema capitalista).

Termos análogos são champagne socialist, em inglês, gauche caviar, em francês ou ainda esquerda caviar. Antigamente, bem antigamente, eram chamados no Brasil de esquerda festiva.

O “Petit Larousse”, conceituado dicionário francês, define esquerda caviar como uma expressão pejorativa para se referir ao "progressivismo combinado com um gosto pela burguesia, pela alta sociedade e situações adquiridas". E o jornalista brasileiro Mino Carta define gauche caviar como "representantes do chique radical".

Mas qual é a origem do termo nesse sentido? Bundinha é o diminutivo de bundão, regionalismo que significa indivíduo tolo, retrógrado e, no nordeste, a partir da Bahia para o norte, é jagunço, criminoso —na verdade, grupo de jagunços, garimpeiros e criminosos, ligados a políticos, que assolaram o sertão no início do século 20.

Hoje, pouco tem a ver com jagunços, hoje chamados de “seguranças”, até porque os bundinhas são bem delicadinhos no trato pessoal, embora extremamente agressivos nas redes sociais. São defensores fanáticos do Governo, quando estão no poder, e afirmam que quem está no governo deve se arrogar a missão de tentar cuidar da vida das pessoas, como se elas não fossem capazes de tal.

Mas dependendo do discurso politicamente correto e sedutor, as pessoas tendem a ficar permeáveis ao paternalismo do Estado. Não ouse ser opositor do governo. Na cabecinha dos bundinhas, o governo tudo pode. Mas a gente bem sabe o que normalmente sai da bunda. A filosofia básica dos bundinhas reza que o lucro e a busca pelos interesses pessoais são fruto da ganância e da imoralidade humana e, por conta disso, pregam um novo céu e uma nova terra, tal e qual monepastores (pastores dinheiristas).

Após isso , qualquer quantia em dinheiro que for tirada do bolso do contribuinte torna-se algo justo e moralmente aceito, pois, quem detém o poder se acha no dever de ditar o que é melhor para cada um. Esquecem-se que o Estado é mais imoral ao arrancar o fruto do trabalho alheio sob a forma de impostos escorchantes.

Ignora o bundinha que a busca do indivíduo por seus interesses pessoais se deve à tentativa de trazer a provisão material para seu bem estar e sobrevivência, satisfação e realização pessoal, visando sucesso e felicidade —estamos falando de felicidade pública. E isso nada tem a ver com a ideologia da classe dominante.

O bundinha diz ser contra ditaduras militares devido à suspensão da ordem democrática no passado e pelas mortes (e é verdade). Porém, possuem a moral seletiva e infame, pois a Rússia e a China, de Stalin e Mao, mataram milhões. E quando se relembra tais eventos, o silêncio desse turma é tétrico.

Devido ao fato de acharem que só eles e mais ninguem conhecem o caminho e os meios necessários para superar os problemas da humanidade, alguns milhões de mortes seria um sacrifício insignificante em prol da revolução. Segundo a patrulha politicamente correta, seria impossível superar as dificuldades do homem no atual arranjo social, pois capitalismo seria a origem de todos os males da humanidade.
Getty Images
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Logo, tais mudanças sociais demandariam a revolução socialista. Todo aquele que levantar bandeiras ditas progressistas pelos mais pobres e exluídos, porém dentro do contexto capitalista de produção, é considerado reacionário, pois defende melhorias fora da óptica revolucionária. O vocabulário da esquerda ainda repousa em uma visão do Século 19. Do ponto de vista da moçada bundinha, um contestador da ordem seria reacionário.

Para finalizar, a esquerda rejeita a noção de responsabilidade individual. O indivíduo, segundo eles, não é determinado pelas suas atitudes, e sim pelo grupo ao qual supostamente venha a pertencer. Não quero dizer que com isso não existam etnias e classes sociais. Existem. Mas, pra eles, socialismo é tudo; individualismo é o horror.

Porém, tais condições não devem ser usadas para se definir as pessoas, pois tal raciocínio coletivista pode nos conduzir a pensar que a pessoa que é da classe média, por exemplo, é igual aos seus pares, o que não é verdade.  A introdução do pensamento coletivista em qualquer debate reduzirá  sempre a necessidade de argumentação daqueles que enxergam o mundo dividido em grupos e classes sociais, ignorando o indivíduo e suas características pessoais.

Honra lhes seja feita. Os bundinhas de hoje levantaram a bandeira do progressismo e se adonaram da busca da igualidade. E os do Brasil foram os primeiros que assumiram os casarões dos condomínios de luxo e as coberturas triplex, e as suntuosas viagens para os lugares da moda e os paraísos fiscais. Lembra uma antiga anedota: quando Moisés leu o conteúdo das tábuas dos Dez Mandamentos pra multidão, os bundinhas, postados à esquerda do Sinai, logo começaram a gritar. “Se manda, chega de mimimi —esse decálogo é reacionário, coxinha, repressivo, individualista e ditado de cima pra baixo”.

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