domingo, 8 de fevereiro de 2015

_Reflexos da janela d'alma

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Decidi publicar desta feita não um artigo ou crônica, como geralmente faço, mas uma série de pensamentos, frases, excertos, reflexões, aforismos. São anotações que tenho em meus cadernos e no computador, que registrei por motivos que acabei por me esquecer. Tem seis laudas de texto e pode ser cansativo. Mas você não precisa ler de uma puxada, mesmo porque uma sentença nada tem a ver com a seguinte. Nada há que a ligue exceto meus estabanados pensamentos. Também não tenho ceteza de todas são de minha autoria, pois nem me lembro como vieram à minha mente. São apenas reflexos da janela d'alma: falo de tudo e de quase nada. Boa leitura.

Um pássaro canta na tarde que morre, um concerto de sons nasce do peito emplumado e ele canta plangente, pungente. Há tanta melancolia em seu cantar, que o dia fica triste, entardece e morre. Mas na manhã seguinte, outro dia nasce, com o mesmo canto do pássaro, agora renovado de alegria e júbilo.

A humanidade não seria possível sem a poesia. É ela a mais profunda, a mais etérea, a mais sublime manifestação da alma humana. A intuição poética antecede, como fonte original, o conhecimento euclidiano ou científico. E nos dá o sentido mais perfeito e harmônico da vida. Aperfeiçoando o ser humano, afasta-o do antropóide e aproxima-o dos antropos. Que a mocidade atual, obcecada pela bola e pelo cinema, reduzida quase a uma fotografia peculiar e uma espécie de máquina de fazer pontapés, despreza o seu aperfeiçoamento moral; e, com o seu fato de macaco, prefere regressar à selva a regressar ao paraíso. E assim, igualando-se aos bichos, mente ao seu destino, que é ser o coração e a consciência do Universo: o sagrado coração e o santo espírito. Eis o destino do homem, desde que se tornou consciente. E tornou-se consciente, porque tal acontecimento estava contido nas possibilidades da natureza. Sim, a nossa consciência é a própria natureza numa autocontemplação maravilhosa. Ou é o próprio Criador numa visão da sua obra, através do homem. E, vendo-a, desejou corrigi-la, transfigurando-se em Redentor.

Diante do abismo, a gente acaba por se precipitar. Como uma estrela cadente no céu negro, vasto, infinito, o brilho é forte, com toda força que a gente tem. E antes que a gente se apague, renascemos, fortes no nosso próprio vôo.

A liberdade impõe limites. A razão se impõe ao sentimento. Optar pelo silêncio, mas querer falar, querer gritar, querer agir, querer fazer mudanças. O tempo está esperando. Não podemos estar aqui até o fim.

Com uma caneta devemos desenhar a palavra no papel, seguindo uma meta, o caminho do êxito. Palavra assim não é confundida, pois ninguém chega a conclusão alguma; fica restando algo perdido no espaço com a ilusão.

A arte de escrever é, por essência e princípio, irreverente e tem sempre um quê de proibido; algo assim como essa tentação irresistível que leva os garotos rebeldes de hoje em dia a grafitar a brancura dos muros. A rebeldia é fundamental.

A morte não iguala ninguém: há esqueletos que possuem todos os dentes. A morte é um abrir de todas as porteiras; um desabalado tropel de cavalos.

Eu penso em você, muito. Sabia que isso é uma coisa maravilhosa? A primeira criatura que pensou numa outra criatura ausente, como deve ter se espantado! Com certeza não sabia de que se tratava do seu primeiro pensamento humano.

As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais loucas e imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais exóticas e estranhas, mas nada lhes sobrou, nada lhes ficou. Uma vida não basta apenas ser vivida: precisa também ser sonhada.

A vida da gente é assim. Sem conformismo, temos de viver onde a vida nos leva. Sei que temos o arbítrio para escolher onde devemos viver. Mas impossível controlar as interferências externas em nossa existência: os amores, as mulheres, os filhos, os amigos, os parentes, o trabalho, os projetos, enfim todos aquelas gentes e todas aquelas coisas que, por este ou aquele motivo, vivem se metendo no nosso viver.

A vida está cheia de interferências indébitas, de acasos estúpidos, de personagens errados, de amores e paixões imprevistos, que travam com a gente desencontrados diálogos de surdos; a vida está atravancada de pormenores inúteis, a vida parece um romance mal escrito. A vida diária é apenas um modo de encher o tempo entre o nascimento e a morte, entre a luz e a escuridão, com alguns momentos de felicidade e diversão, e inúmeros pela tristeza e chateação. A vida seria muito melhor se não fosse diária.

A rapidez da vida faz com que a gente acabe deixando boas coisas de lado. E, com o tempo, se não nos comunicamos, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros. E acabamos, em conseqüência, ausentes de nós mesmos.

Escrever é fundamental, porém muita gente tem medo, tem dificuldade para escrever. Aqui, sete regrinhas básicas para você escrever sempre que necessário:
  • Escrever é um verbo de ação. Pensar não é escrever. Escrever é colocar palavras no papel.

  • Coloque paixão em sua escrita. Todo mundo tem amores e ódios, e mesmo a pessoa mais pacata tem uma vida repleta de paixões. A criatividade vem na cola da paixão.

  • Escreva com honestidade. Arrisque expor-se. A originalidade anda lado a lado com a vulnerabilidade.

  • Escreva por prazer e pelos seus valores pessoais. Se você não se divertir com seu texto, como poderá alguém mais fazê-lo? O prazer vem antes do lucro.

  • Continue escrevendo. Ignore comentários negativos ou o seu próprio desânimo. A persistência sempre acaba por render frutos.

  • Escreva bastante. Use tudo à sua volta. O aprendizado vem de seus próprios esforços em colocar palavras no papel.

  • Escreva sobre o que acredita e tenha em si mesmo como escritor. Confie em si próprio.


Essas regras foram elaboradas por Jean Bryant, professora de escrita nos Estados Unidos.

Pra mim, estar de bem com a vida, inclui uma forte dose de conformismo. Mesmo assim, acho que é ótimo estar de bem com a vida. Absorvo dela o que preciso – o resto jogo fora.

Se os homens soubessem como são feitas as salsichas e as leis não comiam as primeiras nem obedeciam às segundas.

Toda neutralidade é falsa. E burra.

Uma relação entre pessoas é feita de pequenos fatos, pequenos eventos, pequenos acontecimentos. É o prosaico, o cotidiano, que constroem e amadurecem uma ligação entre amigos e até entre casais. É o rotineiro que embasa as ligações humanas. E o relacionamento pode ser feito do prosaico a vida inteira. Mas são os grandes acontecimentos que reforçam e enrijecem uma ligação afetiva.

Um corpo sem inteligência não ama. Um corpo sem saúde não desfruta do amor. Um gênio sem amor não tem saúde espiritual. Diante disso tudo, devemos a cada instante procurar a companhia das três virtudes, mesmo que alcancemos uma a uma.

Adormeci, pensando em você. E te vi logo em seguida. Ah! Se tivesse sabido que era um sonho, nunca teria acordado.

O amor é como a gota de mercúrio, é preciso manter a mão aberta para retê-lo. Se a fecharmos, ele escapa.

Nenhum assunto é inteligente por si . As pessoas é que tornam as conversas inteligentes ou idiotas.

A felicidade existe quando a gente acredita nela... Ao fim e ao cabo a felicidade não será apenas uma forma de preguiça? Feliz é o que você vai perceber que era, algum tempo depois... Isso é tudo verdade. Mas isso não é ser feliz; é estar feliz.

Nunca deve se contentar com nada. A constante vontade de tudo deve ser motivo de orgulho e te tornará especial, inquietante.

um instante em que vemos que muitas coisas simplesmente não valem a pena. Não por serem pecaminosas nem por pertencerem ao terreno minado da moralidade. Nem sequer se relacionam com consciência ou motivação menos racional. Nem por serem tristes ou cômicas. Apenas, essas coisas são grandes e atraentes pastéis recheados de vento, oferecidos em esquinas barulhentas.

Paciência é a maior virtude, agora sei. Ainda bem que a tive para perceber que seu lugar é mesmo do outro lado da rua, com outras pessoas, falando sobre assuntos que em nada me interessam (por mais que eu tenha me esforçado). O bom senso me devolveu a paz que quase perdi por recear aceitar que minha felicidade está na calma e não na cama. Sua infância mal ultrapassada. Seu armário trancado demais. A falta de palavras. O excesso de ausência. Tudo minou até a minha incrível capacidade de persistir: nãopra apostar o futuro numa mesa em que o maior prêmio é um orgasmo e um beijo na testa. Pra mim, você simplesmente não vale a pena. Saúde e paz! O resto é conseqüência...

Quase tudo ou quase nada? De sonhos e passeios ao futuro eu vivo.Rabiscos me encantam e deflagram o incerto de meus sonhos. E quando certos, me encontram como desafio. Uma curta espera, e pego fôlego de borboleta. Sigo ainda pelos próprios meios, derivados do limite entre minha infância e maturidade. Nessa lacuna construí muitos sonhos...e quase sem querer os desacreditei completamente. "É hora de repousar !" Analiso e concluo...bom, refazer sonhos é doloroso, mas os tenho ainda. Hoje, com eles modificados, os percebo como antes, intocados, como karma, destino, peça gravada na asa. Peça que reluz, inspira, mas pesa o vôo. E quantos deixei pra trás, em nome desta? Melhor não lamuriar.

Tento seguir, e sigo na intenção de não somente vagar em tentativas, e sim produzir algo que não se desfaça no vento, como sopro cansado. No meu quarto, imagino estruturas sólidas, mas não tão densas... porém fortes. Apoiando livros e amigos, amor e ternura, família e saudade. Meus sonhos foram poeira, que eu removia sem pensar. Também foram bibelôs, que enfeitavam minhas conversas mais íntimas. Hoje fazem parte de toda minha atmosfera. Quase tudo ou quase nada? A fina linha de pensamentos, que aqui estico, e que sempre sustentou meus sentimentos, momentos bons e lamentos, está agora em meu quintal de idéias renovadas.

Esta é a realidade da vida: estamos todos juntos sem saber como nem porquê, é o imponderável que liga os seres e os deixa andar á deriva como pedaço de cortiça ao vento na praia – o resto, se se quiser analisar, é uma babugem de relações sem eira nem beira ao deslizar da corrente que tanto vem de todos os lados, como da disposição em cada um de nós. Os dias foram andando dentro de cada um de nós e na marcha de pormenores domésticos gastámos horas preciosas de nós mesmos. Acerca de comédias fizemos considerações pessoais e quando se tratava de analisar uma tragédia usufruíamos um gozo espiritual de dever cumprido sexualmente.


Não devemos ter medo do passado. Se alguém te disser que ele é irrevogável, não acredite. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão são meras condições acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-las e, mais, numa esfera livre de existências ideais. Também as coisas são na sua essência aquilo em que decidimos torná-las. As coisas não são apenas o que são, mas o valor que damos a elas.

Não basta começar bem, não adianta mediar bem; de pouco servem bons começos e melhores meios, se os fins não se mostram bem sucedidos. Uma vez começadas, as coisas não devem ser esquecidas nem deixadas antes de ser acabadas, pois é sinal de pouco saber começar muita coisa e não acabar nenhuma.

Passaram-se anos, também não sei quantos. Houve uns que casaram, outros que ficaram para ornamento ímpar de jantares familiares e ainda outros que se locomovem pelas esquinas do vício à procura de óleo para uma máquina de onde se desprendeu a mola real do entendimento. Afinal também não importa que o ritmo das coisas tenha sido o mesmo, se todas as coisas existem para um ritmo que lhes é íntimo à sua própria expressão de coisas. Houve sábados e domingos, sextas e quintas, segundas e terças e sempre uma quarta-feira a comandar no equilíbrio do princípio e do fim. Com os dedos mataram-se formigas que estavam fáceis ao alcance de um piparote e através das mãos fizemos a construção de novos dias. Cada um de nós teve uma história mais ou menos grande e mais ou menos importante para contar no seu íntimo. Às vezes eu encontrava um de nós para logo ter a impressão que se apoderava de todos uma moléstia sentimental de visão acabrunhada e de história em história ou de pieguice para pieguice caminhávamos inúteis no amorfo de abajures contemplativos.

Toda essa idéia de uma felicidade como recompensa que outra coisa seria, portanto, senão uma ilusão moral: um título de crédito com o qual se compra de ti, homem empírico, os teus prazeres sensíveis de agora, mas que é pagável quando você mesmo não precisa mais do pagamento. Pensa sempre nessa felicidade como um todo de prazeres que são análogos aos prazeres sacrificados agora. Ousa, apenas, dominar-te agora; ousa o primeiro passo de criança em direção à virtude: o segundo se tornará mais fácil para ti. Se continuar a progredir, notará com espanto que aquela felicidade que esperava como recompensa do teu sacrifício, mesmo para ti não tem mais nenhum valor. Foi intencionalmente que se colocou a felicidade num ponto do tempo em que você tem de ser suficientemente homem para te envergonhar dela. Envergonhar, digo eu, pois, se nunca chega a sentir-se mais sublime do que aquele ideal sensível de felicidade, seria melhor que a razão jamais te tivesse falado.

Os meios virtuosos e ingênuos não levam a nada. É preciso utilizar alavancas mais enérgicas e mais sábios enredos. Antes de se tornar célebre pela virtude e de atingir o teu objetivo, haverá cem que terão tempo de fazer piruetas por cima das tuas costas e de chegar ao fim da corrida antes de você, de tal modo que deixará de haver lugar para as tuas idéias estreitas. É preciso saber abarcar com mais amplitude o horizonte do tempo presente.

Ainda sou útil, apesar da idade avançada. O meu cérebro não perdeu o vigor. Sinto que absorveu muito e que nunca esteve tão bem alimentado. É errado pensar que a velhice é um declive por onde vamos caindo: muito pelo contrário, subimos, e a passos largos, surpreendentes. O trabalho intelectual faz-se tão rapidamente como nas crianças o trabalho físico. Não é que não nos aproximemos do fim da vida, mas o fazemos como se fosse um objetivo, e não o derradeiro e fatal baixio onde encalharemos para sempre.

Ninguém pode encarar-se a si próprio e ver-se até ao fundo. A tua meticulosidade é de ferro, a tua meticulosidade está de tal maneira entranhada no teu ser que sem ela você não existe. Pois até a tua meticulosidade se há de dissolver! E você sem o hábito não existes, nem você sem o dever, nem você sem a consciência. Sem estas palavras a vida não existe para você, e sem escrúpulos que te resta? O que está é temeroso, seres estranhos, seres que, se dão mais um passo, nem eu nem você podemos encarar com eles. Andam aqui interesses – e outra coisa. Com mil palavras diversas e ignóbeis, mil bocas que te empurram para a infâmiaoutra coisa. Tem de confessá-lo. Não é a consciêncianão é o remorsonão é o medo. É uma coisa inexplicável e imensa, profunda e imensa, que assiste a este espectáculo sem dizer palavra – e espera... É a vida.

Experimente agradar a todos e não agradará ninguém.

Nenhum gesto de gentileza, por menor que seja, é perdido.

Tentar e falhar é, pelo menos, uma forma de aprender. Não chegar nem a tentar é sofrer a inestimável perda do que poderia ter sido. Uma coisa é querer aprender. Outra é querer garantias de que não vai errar.

Não existe inteligência se antes nãosensibilidade: nãonada no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos.

Muitas vezes os seres são claros e translúcidos por serem primários e, à medida que vão evoluindo, é que se vão tornando opacos. Pensemos. Talvez seja isto: à medida que mais evoluindo vamos é que vão sendo precisos olhos mais penetrantes para se poder distinguir a qualidade de um ser. Então não será à luz do sol que se deverá considerar a limpidez ou a translucidez do corpo de um ser mas à luz de outros princípios luminosos. Aqui a razão precisava de ter evoluído paralelamente aos olhos, ora os nossos olhos vão de encontro aos seres como de encontro a um muro.


Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase —“e foram felizes para sempre”—, isto depois do Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre.

Luca Maribondo
Kerobokan :. Bali :. Indonesia

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