terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

_Cartão vermelho pro Toto. E pra Dilma?...


Dona Dilma Rousseff, presidente de Pindorama, resolveu chutar o pau da barraca na sexta-feira passada, dia 20, e negou as credenciais para o embaixador da Indonésia no Brasil, Toto Riyanto, depois de o haver convidado para a cerimônia de credenciamento com outros embaixadores. Riyanto foi desconvidado quando já se encontrava no Planalto —pura grosseria bem ao estilo da Dona Dilma. O Ministério das Relações Exteriores indonésio, claro, chamou seu diplomata de volta a Jakarta, em protesto à atitude de Brasília em aceitar as credenciais de seu embaixador.

"O Ministério das Relações Exteriores lamenta a decisão do governo brasileiro de de repente negar receber as credenciais depois que convidou o embaixador indicado Toto Riyanto para a cerimônia de credenciais. O governo indonésio não pode aceitar a atitude do ministro das Relações Exteriores brasileiro”, divulgou em nota o ministério da Indonésia.

"A atitude do Brasil é verdadeiramente deplorável e viola a ética diplomática", disse Hikmahanto Juwana, especialista em direito internacional da Universidade da Indonésia, em um comunicado no sábado. "A decisão de Rouseff coloca as relações diplomáticas entre os dois países em situação de risco, relações estas que têm sido mutuamente benéficas por muito tempo", concluiu.

Fala-se até na possibilidade da Indonésia considerar a expulsão diplomatas brasileiros atualmente estacionados na Indonésia. "Mas eu acho que não é necessário recorrer a tal ação ainda", disse ele. "O Brasil deve pensar duas vezes sobre as suas ações futuras, inclusive em relação à protecção dos seus cidadãos que cometeram crimes graves na Indonésia."

Desavenças diplomáticas são tão comuns como brigas entre irmãos, usualmente  impulsionadas pelo orgulho, percepção equivocada e comportamento emocional. Sem menosprezar a sua importância insitucional, contendas diplomáticas muitas vezes começam a partir do nada e acabam em nada.

Quando o presidente Joko Widodo decidiu rejeitar os apelos por clemência de 64 pessoas condenadas por tráfico de drogas e acelerou suas execuções, todo mundo sabia que isso levaria a um protesto internacional. Diplomatas indonésios ao redor do mundo foram se preparando para situações desconfortáveis, dado que 34 dos 64 traficantes de drogas no corredor da morte eram estrangeiros de 15 países, inclusive dois brasileiros.

Que os governos de cada um desses iriam pugnar pelos interesses de seus nacionais já era um dado consolidado. A suspensão temporária dos embaixadores holandeses e brasileiros após as execuções de seus nacionais era um movimento previsível. Mas, como em qualquer crise, é a escalada desnecessária que torna a situação pior. Gestos indecorosos e palavras rudes deterioram a situação, em particular em relação ao Brasil e à Austrália.

Raramente as ameaças induzem à reação desejada. Muitas vezes é o oposto que acontece e leva a um agravamento da situação. Todos os países usam os seus corações em suas luvas de pelica quando seu orgulho nacional é confromtado. E a Indonésia não é diferente. A presidente Rousseff também disse que a execução dos brasileiros teria repercussões negativas.

A atitude estúpida de Dilma Rousseff ameaça até os negócios entre o Brasil e a Indonésia. O vice-presidente Jusuf Kalla já sugeriu a "reavaliação" da aquisição de uma frota de aviões de fabricação brasileira EMB-314 Super Tucano para a Força Aérea Indonésia.

O comércio bilateral entre a Indonésia e no Brasil é de cerca de US$ 4 bilhões, que representa menos de um por cento do Brasil de 454,000 milhões dólares no comércio exterior em 2014. Nenhum dos dois países tem muito a perder ou ganhar de imediato com um rompimento súbito dos laços diplomáticos e econômicos. No entanto, as repercussões de uma ruptura das relações com os dois gigantes emergentes do hemisfério sul, Brasil e Austrália, é simbolicamente mais prejudicial, avaliam líderes políticos da Indonésia.

O que Dona Dilma provocou agora está além de correção diplomática, argumentos jurídicos ou apelos humanitários. Se eles foram feitos para salvar vidas, então a esperança foi condenada. A reação de Dilma alimenta um sentimento tão negativo que é como se ela carregasse pessoalmente os fuzis que irão ser usados pra fuzilar Rodrigo Gularte, o outro brasileiro no corredor da morte de uma prisão indonésia.

Como num jogo de futebol, dona Dilma Rousseff mostrou o cartão vermelho pra Indonésia e mandou seu embaixador Toto Riyanto pro banco quando ele estava prestes a apresentar suas credenciais junto com outros cinco enviados estrangeiros na sexta-feira, dia 20 passado. Rousseff admitiu abertamente que a sua decisão foi em retaliação à recente execução do traficante de drogas brasileiro Marco Moreira, condenado à morte. Outro traficante brasileiro, Rodrigo Gularte, está também no corredor da morte

Rousseff minimizou a importância de sua recusa em receber o diplomata indonésio e seu impacto econômico sobre as relações bilaterais entre os dois países, com o argumento de que o comércio de seu país com a Indonésia é de “apenas” US$ 4 bilhões. Mas pra quem está com dificuldades até pra pagar aposentadorias de idosos, quase dez bilhões de reais ajudam um bocado; ou não?

"Achamos que é importante para que haja uma evolução na situação, para que possamos ter alguma clareza”, diz a media internacional citando Rousseff. "O que fizemos foi  atrasar um pouco a aceitação de credenciais; isso é tudo."

Quaisquer eu sejam seus motivos reais, a presidente brasileira apenas agiu de maneira a cumprir a sua obrigação constitucional de proteger a vida de todos os brasileiros. Mas a grosseria poderia ter sido evitada. Do ponto de vista da Indonésia, o "cartão vermelho" para Toto foi longe demais, para muito além cortesia diplomática. Mas a mídia local ainda prefere apaziguar e argumenta o jornal Jakarta Post  em editorial: “mas não importa o quão humilhante o tratamento, a Indonésia deve agir de forma madura.” O que não se deve esperar de Dona Dilma Rousseff.


A presidente também deixa claro que está jogando pra platéia, já que ela também está sendo ameaçada de levar cartão vermelho e ser expulsa de seu alto posto por conta das inúmeras denúncias de corrupção contra sua administração. E há um erro mais grave em toda a situação: na sua ansia de proteger criminosos brasileiros condenados à morte, a presidente parece não pensar que coloca em risco a situação de brasileiros vivos que moram e trabalham na Indonésia.


Luca Maribondo
Kerobokan :.. Bali :.. Indonésia

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