quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

_Soluço normal

Rodrigo Gularte, outro brasileiro no corredor da morte de uma prisão da Indonésia, também deve ser fuzilado no país asiático por tráfico de drogas. As autoridades indonésias negaram o pedido de clemência realizado pelo governo brasileiro, segundo informou nesta terça-feira (20/1/15) o Itamaraty. Gularte, 42, foi condenado à morte em 2005 por ingressar na Indonésia com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surf. A data da execução ainda não foi fixada.

No final de semana passado, as autoridades da Indonésia fuzilaram seis condenados por tráfico de drogas, entre eles o brasileiro Curumim Cardoso. Após o fuzilamento, a presidente Dilma Rousseff —que tentou em vão salvar a vida do Curumim chamou para consultas o embaixador brasileiro em Jacarta para manifestar seu repúdio à execução.

Apesar da rejeição do segundo e último pedido de clemência previsto no processo, a defesa de Rodrigo Gularte ainda mantém a esperança de que Jacarta reconsidere sua decisão por razões médicas. Diagnosticado com esquizofrenia, Gularte poderia evitar a execução com uma transferência para um hospital psiquiátrico, como prevê a lei indonésia.

Mas a Indonésia não demonstra nenhuma disposição para mudar suas leis e mostra estar aferrada à política de condenar os traficantes de droga pegos com a boca na botija. E o governo da RI tem o apoio da sociedade, mesmo porque o uso de drogas ilícitas é um problema sério no país. Rejeitando o clamor por causa das execuções de cinco cidadãos estrangeiros condenados por crimes de drogas, o governo continua empenhado em aplicar a pena capital.

Nos jornais do início desta semana, a gente fica sabendo que a ministra dos Negócios Estrangeiros, Retno Marsudi, disse que o governo exigiu que os países respeitem a posição firme da Indonésia contra os narcóticos devido à propagação desenfreada do consumo de drogas. Ela informou que o o governo havia rejeitado um apelo da ministra dos Negócios Estrangeiros da Austrália Julie Bishop, que pediu clemência para dois cidadãos australianos, Andrew Chan e Myuran Sukumaran, ambos traficantes de drogas condenados.

Ganewati Wuryandari, um especialista em relações internacionais do Instituto de Ciências da Indonésia (Lipi), disse que as execuções não eram susceptíveis de prejudicar as relações com outros países no longo prazo.

Em todo o mundo, o tráfico de drogas é um motivo de agastamento  nas relações entre os países. A Indonésia, que já executou seis condenados em 2015, tem 135 cidadãos condenados à morte por questões relacionadas ao tráfico de drogas na Malásia e na China. E tem 34 estrangeiros condenados em suas prisões esperando para enfrentar os pelotões de fuzilamento no futuro próximo —um brasileiro inclusive.

Na verdade, penso eu, a reação internacional não passa de um soluço normal que faz parte de uma dinâmica típica das relações entre os países. A pena de morte é um estrupício legal em muitos países, inclusive o Brasil, mas muita gente é favorável, até porque nós, humanos, ainda estamos muito longe de acabar com a barbárie, apesar de todo o verniz de civilização que nos cobre.


Luca Maribondo
Umalas Bali Indonesia


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