Because
something is happening here
But you
don't know what it is
Do you, Mister Jones?
Bob Dylan in
"Ballad of a Thin Man"
E o que motiva tanto as pessoas
a estarem conectadas, ininterruptamente ,
com o mundo
virtual? O que tanto
as leva a usar, o tempo
todo , um ,
dois ou mais aparelhos
celulares , aifones, aipedes, noutebuques
com uaifai y otras cositas más. Por que , ao conectar-nos à rede ,
ficamos, em muitas oportunidades ,
conectados ao nada ? Por
que uma verdadeira conversa
é hoje tão
difícil num espaço
público ?
Considerando
a dificuldade apresentada, formula-se a seguinte hipótese :
hoje , de forma
geral , as pessoas
têm pouco ou
nada a dizer
umas às outras, e, por isso , não têm o
que conversar ,
resignando-se a falar qualquer
coisa a quem sempre está distante ,
ainda que
fisicamente próximo . Ou
então ficam mexendo no celular, batendo papo nos Facebook
da vida , ou
jogando joguinhos eletrônicos calhordas , o que
fariam melhor e mais
barato em
suas próprias casas .
Essa necessidade , quase
patológica , de falar
constantemente ao celular
não decorre da importância
que essas pessoas
dão a si mesmas, supondo-se absolutamente indispensáveis ,
porque imaginam que
os outros sempre
necessitam delas? Ou seria a incapacidade de falarem consigo
próprias e pensarem sobre si mesmas que
impulsionariam muitas delas à tagarelice ,
no caso do celular ,
e a não olharem para
si mesmas, no caso
da Internet? Enfim , o vazio interior
das pessoas não
lhes provocaria o medo
atroz de si
mesmas, que , para
ser compensado ,
as leva a buscar
conexão com
todo um
mundo , ou
seja, com ninguém ?
E isso mesmo
acontece com relação
aos televisores nos
bares e restaurantes .
Em seu
livro "1984", George Orwell
compõe com brilhantismo
uma "utopia negativa "
em que
os cidadãos são
vigiados todo o tempo ,
em todo
lugar , pelas teletelas (aparelhos que
transmitem e captam som e imagem ) sob a liderança do partido
no poder e do Big Brother (Mano
Veio ). Em
todos os lares
dos membros das comunidades ,
praças , ruas
e locais públicos ,
as teletelas transmitem a ideologia do partido . Mais que isso :
captam todos os movimentos
de todas as pessoas .
A eficácia da propaganda
é maior : faz com
que o povo
não só
acredite na existência do Mano Véio, mas
o ame e o idolatre. Em um mundo em que o Estado domina e nada
é de ninguém , mas
tudo é de todos ,
talvez , tudo
que reste de privado
seja alguns centímetros
cúbicos no crânio :
aquilo que
chamamos de cérebro .
No ano de 1984, muita
gente conjecturou que
a profecia de Orwell em "1984" não
havia sido cumprida. Vê-se hoje , entretanto , que
estavam todos enganados: as previsões orwellianas são
uma assustadora realidade , até
porque a maioria
não percebeu sua
concretude. As teletelas, agora chamadas televisores ,
computadores , câmeras
(sorria, você
está sendo filmado!), estão aí , em todos os lugares . Percebe-se que
as pessoas buscam preencher
seus vazios
interiores com
formas de ruídos
e imagens que
não passam de manifestações
do próprio vazio .
Parafraseando George Berkeley, substituímos um
vazio por
outro . Porém ,
de onde vem este
vazio ? Em
poucas palavras , do tédio
cotidiano .
Dizem que o século
XXI é o século da comunicação .
Nunca foi tão
fácil comunicar-se com
o mundo como
os dias atuais .
A Internet , efetivamente ,
não só
facilitou o acesso à informação , mas ,
também , o contato
entre as pessoas .
Num átimo , é possível
falar com alguém do outro
lado do mundo .
Porém , esse
acesso tão
fácil significa, necessariamente, que as pessoas
se encontram e trocam informações e conhecimentos ?
É evidente que , ainda que se dê a troca de informações e conhecimentos ,
caso elas
se habilitem para tanto ,
não se pode dizer
que elas
se tornem melhores e mais humanas, mais
conhecedoras de si mesmas e do outro . A parafernália
eletrônica impõe às pessoas
situações paradoxais :
ao anular as circunstâncias
do espaço , aproxima as pessoas , mas ,
ao mesmo tempo ,
as mantém distantes ; talvez não seja
erro afirmar que a parafernália
unifica os pólos extremos ,
mantendo-os em seus
pontos remotos .
Por essa razão ,
decerto , muitos
dos que falam ao celular
berram, gritam como feirantes
em um
mercado superlotado ,
como que
tentando fazer com
que mais
gente os ouça .
Nas redes
sociais virtuais, a maior parte das pessoas não tem a menor ideia do que está
escrevendo. Nem é capaz de entender o que está lendo. E as mídias se tornaram ferramentas
de rede social que têm o objetivo de proporcionar e facilitar a mais completa
liberdade de expressão aos seus usuários. Mas tudo o que a gente vê hoje em dia
é a mais completa inapetência pra se exprimir.
Quanto mais nos
conhecemos, tanto mais
somos livres para
decidir sobre
o que queremos. É nessa perspectiva que
as pessoas usarão (ou
não ) a parafernália
eletrônica como
meio de aproximação
dos indivíduos sem
ser dela escravos .
Em resumo , depois que a tecnologia inventou telefone ,
computador , celular ,
aipode, aifone, Internet , todos os meios
de comunicação a longa
distância é que
estamos descobrindo que o grande problema
da comunicação é o de perto . Enquanto
isso , cada
vez mais
o cidadão é cuidado ,
vigiado, espionado, espreitado, investigado, observado ,
pois não há forma melhor —para governos e empresas — enfiar as mãos nos bolsos de todos
nós para nos vender bobagens e nos extorquir com impostos .
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