quarta-feira, 23 de abril de 2014

_Puxa-saco puxa tudo, até o tapete

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Como se não bastassem os conhecidos e contumazes bajuladores de carteirinha, parece ter aumentado, e muito, nestes últimos anos aqueles que adotaram a prática louvaminheira. Será uma onda corta-jaca? Eles agora estão em toda parte; nos gabinetes, nos restaurantes, nos auditórios e nas redes sociais —estes últimos são o baba-ovos virtuais.

Puxa-sacos —ou bajuladores—, são seres que vivem à sombra das chamadas celebridades, seja uma liderança política, um empresário nouveau-riche com dinheiro pra gastar, um filho de papai mimado que deseja usar seu poder aquisitivo para capitalizar-se politicamente; astros dos esportes ou das artes e cultura em busca da fama ou um novo déspota em busca de uma galera pra ser mandada. Conclui-se que o puxa-saquismo é uma das mais deploráveis facetas da condição humana. Através dela, o bajuladores negligenciam suas personalidade e dignidade em favor de alguém que acredita ser de uma estirpe superior à sua. Não por crer piamente nisso, mas por objetivar tirar alguma espécie de proveito.

Bajula-se o ego alheio por algum interesse. Serve-se de capacho por estratégia, seguindo a seguinte lógica: pise em mim hoje que amanhã poderei pisar em alguém menos favorecido. Daí a classificação de tal condição como genuinamente deplorável. O puxa-saquismo faz com que aqueles que servem de capacho, fiquem cegos, e não enxerguem os erros e deslizes que os protagonistas desse tipo de relação porventura cometam.

É como aqueles tipos de relacionamento, em que um dos parceiros corneia escancaradamente o seu par, mas o chifrado prefere não crer, ou simplesmente vê e finge não ser com ele. No meio da burocracia governamental, essas figuras são seres que habitam o submundo da política, sondando lideranças, abrindo portas, carregando pastas, deitando-se como se foram capachos, verdadeiros meninos de recados.

Não possuem personalidade própria, mudam de ideologia como trocam de cuecas, suas opiniões, na verdade, são as opiniões do doutor seu chefe, a quem juram amor eterno —pelo menos até ser cortejado por outro chefete —prostituto como sói acontecer com todos os puxa-sacos, também é infiel.

Extremamente resiliente, o puxa-saco tem uma forma rigorosa e peculiar de se adaptar ao meio em que vive, por mais adverso que este lhe seja. Essa capacidade é fruto de uma linguagem universal, legada por diversos ancestrais, transmitidas por meio de parábolas, reunidas no livro "Carinho e Devoção Sem Exigência de Afetividade Mútua", uma espécie de manual do bajulador, escrito no século IV a.C;

Se for examinar mais perto, pode-se verificar que cérebro do puxa-saco é muito pequeno, fato que dificulta seu raciocínio para tarefas que exijam certas habilidades, tais como: descascar banana, andar de bicicleta, jogar dama etc. O puxa-saco geralmente é um cara solitário, não tem amigos, isto explica o fato de dedicar-se a alguém que não conhece com uma fidelidade, digamos, canina.

É difícil encontrar um puxa-saco que se irrite com facilidade; é possível que o bajulador contumaz seja o indivíduo menos estressado da sociedade moderna. No entanto, caso alguém cometa algum desatino contra seu tutor ou padrinho político, ele é capaz de se transformar no mais bravo e assombroso dos viventes. Um sansão cabeludo e cafofa.

Em geral, o puxa-saco não é tão apegado ao dinheiro quanto o avarento, entretanto idolatra o poder e os poderosos. Pode reparar: onde há alguém com o mínimo de poder lá existe um bajulador, sendo que quanto maior o grau de hierarquização de alguém dentro de uma esfera de poder, maior será o grau de bajulação de um puxa-saco.

Outra característica inata do puxa-saco é que ele não prima pela fidelidade, apegando-se inevitavelmente ao sucessor de seu chefe hierárquico no momento em que este mais precisa de sua devoção. Essa característica fez o cientista observar que "a fidelidade canina do puxa-saco é relativa, dependendo do osso que lhe derem para roer".

Aqui e ali é possível pinçar observações muito perspicazes a respeito dos bajuladores: a maioria dos puxa-sacos é formada por homens; as mulheres que são puxa-sacos costumam dormir com seus superiores; as pessoas mais idosas são as que menos ligam para bajulação; existem pessoas que se eternizam como puxa-sacos nas repartições públicas; o desvio de comportamento que acomete o puxa-saco é hereditário; o puxa-saco geralmente é muito inseguro quanto ao seu futuro; e, por último, todo puxa-saco é arrogante.

Nas sedes das instituições governamentais, casas parlamentares, palácios, paços etc. é sempre possível encontrar gente de quatro fingindo que está procurando a tampinha da caneta. Há puxa-sacos não expertos em suas especialidades que acabam transformando seus líderes, chefes, comandantes em verdadeiros deuses, esquencendo-se de que estes não dão a mínima para os mortais que os idolatram.

Esses puxa-sacos, entretanto, estão cada vez mais ousados. Desde que, no inicio da década de 1970, ganharam uma denominação oficialesca —um tanto pejorativa, diga-se—, passaram a circular pelos corredores do poder com o ar da tartaruga que venceu o coelho nos cem metros rasos. O neologismo, aspone, passou a denominar, segundo os dicionários, indivíduo que exerce um cargo sem função real ou útil, que surgiu por consequência do acrônimo trocista do sintagma assessor de porra nenhuma.

É fácil reconhecer um puxa-saco, principalmente na política; eles estão sempre nos corredores que dão acesso aos gabinetes dos poderosos, barrando cidadãos, implicando com jornalistas, cumprindo um papel sempre assemelhado ao burocrata, pois a burocracia, regra de ninguém e forma de preconceito, é a maneira mais moderna e eficaz de despotismo. Mas é sempre preciso ter cuidado com eles,  até porque quem puxa saco, puxa qualquer coisa... Puxa também o tapete de chefes e déspotas.

Em Campo Grande, depois que a nova gestão assumiu o Paço da Afonso Pena, uma considerável leva de puxa-sacos surgiu dos e nos quatro cantos da cidade. Nenhuma novidade: a estrutura das administrações públicas no Brasil permite que, ao bel prazer dos gestores, muita gente goze de inúmeras benesses e ganhe empregos muito bem remunerados, tornando-se barnabés lambe-cus. Daí a justificativa da existência dos puxa-sacos, parasitas muito comuns nos gabinetes administrações públicas, onde vivem seres que parecem necessitar grandemente desses gigolôs da politica pra se sustentar no poder.

Luca MaribondoUmalas | Bali | Indonésia23 de abril de 2014



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