Como se não bastassem os conhecidos e contumazes
bajuladores de carteirinha, parece ter aumentado, e muito, nestes últimos anos aqueles que adotaram a prática louvaminheira. Será uma onda corta-jaca? Eles agora
estão em toda parte; nos gabinetes, nos restaurantes, nos auditórios e nas
redes sociais —estes últimos são o baba-ovos virtuais.
Puxa-sacos —ou bajuladores—, são seres que vivem à sombra
das chamadas celebridades, seja uma liderança política, um empresário nouveau-riche
com dinheiro pra gastar, um filho de papai mimado que deseja usar seu poder
aquisitivo para capitalizar-se politicamente; astros dos esportes ou das artes
e cultura em busca da fama ou um novo déspota em busca de uma galera pra ser
mandada. Conclui-se que o puxa-saquismo é uma das mais deploráveis facetas da
condição humana. Através dela, o bajuladores negligenciam suas personalidade e
dignidade em favor de alguém que acredita ser de uma estirpe superior à sua.
Não por crer piamente nisso, mas por objetivar tirar alguma espécie de
proveito.
Bajula-se o ego alheio por algum interesse. Serve-se de
capacho por estratégia, seguindo a seguinte lógica: pise em mim hoje que amanhã
poderei pisar em alguém menos favorecido. Daí a classificação de tal condição
como genuinamente deplorável. O puxa-saquismo faz com que aqueles que servem de
capacho, fiquem cegos, e não enxerguem os erros e deslizes que os protagonistas
desse tipo de relação porventura cometam.
É como aqueles tipos de relacionamento, em que um dos
parceiros corneia escancaradamente o seu par, mas o chifrado prefere não crer,
ou simplesmente vê e finge não ser com ele. No meio da burocracia
governamental, essas figuras são seres que habitam o submundo da política,
sondando lideranças, abrindo portas, carregando pastas, deitando-se como se
foram capachos, verdadeiros meninos de recados.
Não possuem personalidade própria, mudam de ideologia
como trocam de cuecas, suas opiniões, na verdade, são as opiniões do doutor seu
chefe, a quem juram amor eterno —pelo menos até ser cortejado por outro chefete
—prostituto como sói acontecer com todos os puxa-sacos, também é infiel.
Extremamente resiliente, o puxa-saco tem uma forma rigorosa
e peculiar de se adaptar ao meio em que vive, por mais adverso que este lhe
seja. Essa capacidade é fruto de uma linguagem universal, legada por diversos
ancestrais, transmitidas por meio de parábolas, reunidas no livro "Carinho
e Devoção Sem Exigência de Afetividade Mútua", uma espécie de manual do
bajulador, escrito no século IV a.C;
Se for examinar mais perto, pode-se verificar que cérebro
do puxa-saco é muito pequeno, fato que dificulta seu raciocínio para tarefas
que exijam certas habilidades, tais como: descascar banana, andar de bicicleta,
jogar dama etc. O puxa-saco geralmente é um cara solitário, não tem amigos,
isto explica o fato de dedicar-se a alguém que não conhece com uma fidelidade,
digamos, canina.
É difícil encontrar um puxa-saco que se irrite com
facilidade; é possível que o bajulador contumaz seja o indivíduo menos
estressado da sociedade moderna. No entanto, caso alguém cometa algum desatino
contra seu tutor ou padrinho político, ele é capaz de se transformar no mais bravo
e assombroso dos viventes. Um sansão cabeludo e cafofa.
Em geral, o puxa-saco não é tão apegado ao dinheiro
quanto o avarento, entretanto idolatra o poder e os poderosos. Pode reparar:
onde há alguém com o mínimo de poder lá existe um bajulador, sendo que quanto
maior o grau de hierarquização de alguém dentro de uma esfera de poder, maior
será o grau de bajulação de um puxa-saco.
Outra característica inata do puxa-saco é que ele não
prima pela fidelidade, apegando-se inevitavelmente ao sucessor de seu chefe hierárquico no momento em que este mais precisa de sua devoção. Essa
característica fez o cientista observar que "a fidelidade canina do
puxa-saco é relativa, dependendo do osso que lhe derem para roer".
Aqui e ali é possível pinçar observações muito perspicazes
a respeito dos bajuladores: a maioria dos puxa-sacos é formada por homens; as
mulheres que são puxa-sacos costumam dormir com seus superiores; as pessoas
mais idosas são as que menos ligam para bajulação; existem pessoas que se
eternizam como puxa-sacos nas repartições públicas; o desvio de comportamento
que acomete o puxa-saco é hereditário; o puxa-saco geralmente é muito inseguro
quanto ao seu futuro; e, por último, todo puxa-saco é arrogante.
Nas sedes das instituições governamentais, casas parlamentares,
palácios, paços etc. é sempre possível encontrar gente de quatro fingindo que
está procurando a tampinha da caneta. Há puxa-sacos não expertos em suas
especialidades que acabam transformando seus líderes, chefes, comandantes em
verdadeiros deuses, esquencendo-se de que estes não dão a mínima para os
mortais que os idolatram.
Esses puxa-sacos, entretanto, estão cada vez mais
ousados. Desde que, no inicio da década de 1970, ganharam uma denominação
oficialesca —um tanto pejorativa, diga-se—, passaram a circular pelos
corredores do poder com o ar da tartaruga que venceu o coelho nos cem metros
rasos. O neologismo, aspone, passou
a denominar, segundo os dicionários, indivíduo que exerce um cargo sem função
real ou útil, que surgiu por consequência do acrônimo trocista do sintagma assessor de porra nenhuma.
É fácil reconhecer um puxa-saco, principalmente na
política; eles estão sempre nos corredores que dão acesso aos gabinetes dos
poderosos, barrando cidadãos, implicando com jornalistas, cumprindo um papel
sempre assemelhado ao burocrata, pois a burocracia, regra de ninguém e forma de
preconceito, é a maneira mais moderna e eficaz de despotismo. Mas é sempre
preciso ter cuidado com eles, até porque
quem puxa saco, puxa qualquer coisa... Puxa também o tapete de chefes e
déspotas.
Em Campo Grande, depois que a nova gestão assumiu o Paço
da Afonso Pena, uma considerável leva de puxa-sacos surgiu dos e nos quatro
cantos da cidade. Nenhuma novidade: a estrutura das administrações públicas no
Brasil permite que, ao bel prazer dos gestores, muita gente goze de inúmeras
benesses e ganhe empregos muito bem remunerados, tornando-se barnabés lambe-cus.
Daí a justificativa da existência dos puxa-sacos, parasitas muito comuns nos
gabinetes administrações públicas, onde vivem seres que parecem necessitar
grandemente desses gigolôs da politica pra se sustentar no poder.
Luca MaribondoUmalas | Bali | Indonésia23 de abril de 2014
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