Patriotism is the last refuge of a scoundrel (o patriotismo é o último refúgio de um
patife). Pelo menos uma vez a cada quatro anos penso na frase célebre do
pensador e jornalista britânico Samuel Johnson do século 18 —quase sempre
também penso em escrever sobre o tema, mas acabo deixando de lado. No momento
em que escrevo faltam 97 dias para a Copa do Mundo 2014. Ainda são poucas as bandeiras
verde-amarelas espalhadas por todos os lados; ainda não se vê fitas amarradas
nos postes, carros com bandeirolas, camisas oficiais e/ou piratas, pulseiras,
adereços com o verde-amarelo que volta a ser moda… A moda da falsidade.
Faltam pouco mais
de tres meses pra próxima copa do Mundo, que desta feita, será pela segunda vez
no Brasil. Sempre que penso no tema me convenço mais ainda do porquê não sou
patriota… E nem sempre torço pela Seleção Brasileira de futebol. E nem os
outros que nasceram e vivem neste país. A particularidade de torcer por outro
país no futebol não me coloca em lado oposto, pois nasci e cresci neste país.
Quando olho para os
países vizinhos entendo porque sermos assim faz todo o sentido. Sei que todos os
brasileiros amam a seleção, isso é normal. Anormal sou eu, que decido torcer
por um rival, principalmente quando a nossa seleção é evidentemente mal
montada. Mas o que faz alguém amar algo por alguns instantes e depois de um
mês, passar o resto dos dias odiando/reclamando desse algo?
As pessoas são
iludidas por uma falsidade temporária. Isto é Brasil. Todos são assim. Amam o
país, cantam o hino, choram, vibram, se emocionam, até o final da Copa do Mundo
ou a eliminação, que já é um estopim para o desgosto voltar a ser o
protagonista e deixar o amor como coadjuvante.
Mas o que é ser
patriota? Não seria amar o país em todas as ocasiões? Ou, na primeira
oportunidade, comparar com o nível de outras nações e se descobrir a escória em
que se vive?
Acho que o Brasil é
triste. Deve se sentir o pior do mundo, pois tem que esperar três anos e onze
meses para ser abraçado e bem tratado por 200 milhões de filhos. Depois disso,
são mais três anos e onze meses de pancadas, acusações, xingamentos, desprezo e
por aí vai.
Nem o fato de ser
um país onde catástrofes naturais não acontecem (ou são incomuns) serve de
argumento. Basta uma chuva mais forte, deslizamentos etc., para virar um país
de quinto mundo. É quase como um bullying contra o Brasil. Mas eu ainda admiro
esse cara. Por mais que xinguem, falem mal e daí pra baixo, o Brasil se mantém
firme, como um adolescente crescendo, ganhando forma, buscando notoriedade.
Pena que tem filhos
tão ingratos. Patriotas? Pronunciar essa palavra é quase como falar javanês na
Avenida Afonso Pena. Difícil vai ser encontrar alguém que saiba interpretar o
que isso significa. Ja perguntei pra um bocado de pessoas o que é ser patriota.
Ninguém me deu uma resposta satisfatória, embora tenha lido coisas instigantes.
Ja recebi respostas assim: "é ter espírito de Policarpo quaresma...";
"segundo a matéria que eu assisti hoje (na tv) é ser militar". Outra:
"é amar e defender a pátria mãe..." Mais: "eu nem vou
responder... Precisamos repensar nossos valores..." Mais uma: “Patriotismo
é quando você ama o seu país mais do que qualquer outro. Nacionalismo é quando
você odeia todos os países, sobretudo o seu”. (Millor Fernandes)
Notou que nao ha
uma definicao mais ou menos comum? Mas as pessoas devem ter la suas razoes. Mas
voltemos ao tema: decididamente não sou o que se possa chamar de “um bom
patriota”. Em época de Copa do Mundo, por exemplo, não pinto a cara de
verde-amarelo, não solto foguetes quando a seleção canarinho vence nem caio em
depressão quando perde. Além disso, excedente de contingente, jamais serei
convocado para “morrer pela pátria” e, em caso de convocação, morrerei de
cansaço antes de disparar o primeiro tiro.
Sou ser sem a menor
serventia para as coisas da guerra, das batalhas. Concordo plenamente com
Samuel Johnson. É certo que, de peito estufado, já entoei o Hino Nacional nas
chamadas “paradas cívicas”, obrigado por professores que queriam me impingir um
patriotismo forçado. De todos os matizes políticos, os professores eram, de
modo geral, literalmente vidrados em convescotes cívicos. Em todas as “datas memoráveis”,
nos obrigavam ouvir bateladas de discursos encharcados de civismo.
Sob um sol de
derreter o cocoruto, ouvíamos, sem entender nada, alguém metido a historiador
discorrer sobre os “grilhões que nos prendiam a Portugal” e coisa e tal. Uma pedreira.
Lembro de uma vez em que um dos colegas passou mal e desmaiou no meio de uma
parada de 7 de setembro. De quebra, foi brindado com um advertência humilhante.
Como se pode ver, já fiz minha cota de sacrifícios pela pátria.
Mas deixemos de
rememorações inúteis, que o objeto dessa arenga é outro. Escrevo estas
maltraçadas para declarar publicamente que estou torcendo contra o Brasil, ou
melhor, estou torcendo contra os políticos do Brasil. E contra os brasileiros
de modo geral também. Afinal somos todos nós, brasileiros, que recebemos do
Todo Poderoso este magnífico salão de festas e o estamos transformando num
quartinho de despejo. E tudo isso sob a liderança dos nossos políticos e
governantes.
E pra ficar apenas
na questão ambiental, esteja certo de que em breve não sobrará uma nesga de
Pantanal pra beliscar uma anta. Nós, brasileiros, logo transformaremos o país
num enorme canavial, ou numa gigantesca "sojeira", ou ainda num pasto
descomunal. Pode-se argumentar que isso é muito bom para a economia brasileira,
o que não deixa de ser verdade. Mas, com certeza, o povo, apesar de entrar na
esculhambação, não participará do festim e, de quebra, não terá um pedacinho de
alcatra pro churrasco, uma garrafinha de shoyu pro sobá ou uma gotinha de
álcool pra cachaça. E sem pinga o Brasil não anda. Sem cachaça nem os patriotas
aguentam.
Só quero finalizar
dizendo que uma das coisas que fazem um patriota dos bons, sério, é saber
escolher os políticos que dirigem nosso país, nossos estados, nossas cidades.
E, pelo que estou vendo, vamos votar nos medíocres de sempre —nao sei se voce
sabe, logo depois da Copa do Mundo comeca a campanha eleitoral. E la vamos nós
ver e ouvir o mesmo blablablá de todas as corridas as urnas.
Luca
Maribondo
Umalas, Bali, Indonésia
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