sábado, 8 de março de 2014

_Mulheres e poder

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Ranking: o Brasil é o quarto país do mundo em população carcerária. Está atrás de EUA, Rússia e China. Ou seja: prende um bocado. Mas prende com critérios despirocados. Cadeia deveria ser pra gente violenta, que oferece concreto perigo para a convivência em sociedade. Ou pra corruptos, que causam mais mal que os violentos e antisociais.

Entre o que deveria ser e o que é há uma enorme diferença. Dentro dos calabouços e masmorras (sim, porque os presídios brasileiros não passam de calabouços e masmorras) estão, fundamentalmente, os pobres, pretos, pardos, putas e policiais. Mais da metade não praticou crime violento. Muitos violentos, no entanto, estão fora —inclusive os corruptos. O Brasil prende muita gente "reputada" perigosa (porque miserável; classe perigosa) e deixa muita gente livre —e agora ainda estão querendo mandar menor pra cadeira. Verdadeiros perigosos e corruptos (os piores), que matam pessoas, estão livres nas ruas.

Mas o assunto aqui é mulher, pra comemorar o Dia Internacional delas. Dia desses, li em algum lugar,que na população carcerária brasileira apenas 7% são do sexo feminino. Esta informação me levou a fazer uma ilação: de maneira geral, a mulher é muito menos desonesta. Isso não quer dizer que não que não haja ladras, assassinas, corruptas, batedoras de carteiras e outras atividades limitadas ao universo feminino.

Particularmente, acho que essa assertiva vale também para a política, atividade que, nos dias de hoje, nem sempre é praticada por gente honesta.

Política implica poder e as mulheres não são infensas a ele. Pelo contrário, elas também buscam o poder. Tal como os homens, as mulheres também buscam freqüentemente os meios a que devem recorrer para aumentar ou preservar ou aumentar seu poder. Mas há um diferencial: as mulheres, de modo geral, não apelam para vilanias ou baixezas para atingir o poder a qualquer custo.

Dito isso, vou fazer uma afirmação que muitos podem considerar polêmica. Penso que essa relação menos espúria da mulher com o poder tem algo a ver com a prostituição. Esta sempre teve relações carnais (sem trocadilho) com o poder. Desde a antiguidade mais remota no período histórico, pode-se dizer que as prostitutas tiveram maior influência na sociedade do que as mulheres consideradas de respeito ou de bem.

Por exemplo, na Grécia, enquanto que as ditas "honestas" ficavam aprisionadas no silêncio do gymnaceum sem poder sair e sem ter autonomia econômica, as prostitutas podiam fazer fortuna. Enquanto as mulheres comuns eram analfabetas, as prostitutas eram letradas e cultas; faziam companhia aos homens e eram peritas em negócios, como as hetairae. Algumas delas ficaram famosíssimas com Aspásia, companheira de Péricles.

Na Roma antiga, a situação das chamadas trabalhadoras do sexo —as moças de vida fácil— era também bastante confortável: havia lupanares financiados pelo Estado, nos quais se inscreviam mulheres nobres e até imperatrizes, como Júlia e Messalina, que imitavam as meretrizes profissionais. Quer dizer, era chique ser quenga.

A partir da queda do Império Romano e da vitória do cristianismo, instalou-se uma repressão sexual que existe já há mais de dois mil anos. A prostituição degradou-se e tornou-se violenta, mas a prostituição de luxo manteve (e mantém) grande influência sobre o poder. Nossos presidentes, senadores, deputados, ministros, juízes que o digam.

Por exemplo: na Renascença, as amantes dos reis, imperadores e nobres em geral passaram a ter mais influência dos que as rainhas e imperatrizes, como no caso de Jeanne, a condessa Du Barry, e Madame de Pompadour. Tal fato acabou por arruinar as finanças da França e tornou-se uma das origens da Revolução Francesa.

Nos nossos dias, a prostituição também tem um caráter duplo: para as mulheres das classes oprimidas, ela significa uma espécie de libertação, pois, de certo modo, ganham mais do que nos empregos convencionais; para aquelas que servem as classes mais altas, a situação é ainda bastante privilegiada,

Pode parecer uma homenagem um tanto excêntrica, mas há nos meus argumentos uma lógica irrefutável: a mulher de hoje ainda tem um longo caminho a percorrer para poder disputar o poder de igual para igual com homem, isso apesar de termos uma mulher na Presidência da República. Mas só terá uma divisão de poder com equidade quando vencer as barreiras sexuais impostas pelas religiões judaico-cristãs e muçulmanas ainda existentes em todos os quadrantes do planeta.

A ampliação da participação da mulher no campo político exige reorganização da vida política, da vida pessoal e negociação familiar, há estratégias que postas em prática por uma agenda comum das mulheres parlamentares no Brasil e no mundo pode favorecer e assegurar um real poder das mulheres. A construção de redes e alianças com organizações de mulheres, à formação em liderança e lobby e advocacia e à inclusão de mais mulheres jovens na luta política. Mas isso significa ampliar a liberdade das mulheres decidirem o que querem fazer de suas vidas.

Luca Maribondo
Umalas | Bali | Indonésia


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