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Ranking: o Brasil é o quarto país do mundo em população
carcerária. Está atrás de EUA, Rússia e China. Ou seja: prende um bocado. Mas
prende com critérios despirocados. Cadeia deveria ser pra gente violenta, que
oferece concreto perigo para a convivência em sociedade. Ou pra corruptos, que
causam mais mal que os violentos e antisociais.
Entre o que deveria ser e o que é há uma enorme diferença. Dentro dos
calabouços e masmorras (sim, porque os presídios brasileiros não passam de
calabouços e masmorras) estão, fundamentalmente, os pobres, pretos, pardos, putas
e policiais. Mais da metade não praticou crime violento. Muitos violentos, no
entanto, estão fora —inclusive os corruptos. O Brasil prende muita gente "reputada"
perigosa (porque miserável; classe perigosa) e deixa muita gente livre —e agora
ainda estão querendo mandar menor pra cadeira. Verdadeiros perigosos e
corruptos (os piores), que matam pessoas, estão livres nas ruas.
Mas o assunto aqui é mulher, pra comemorar o Dia Internacional
delas. Dia desses, li em algum lugar,que na população carcerária brasileira
apenas 7% são do sexo feminino. Esta informação me levou a fazer uma ilação: de
maneira geral, a mulher é muito menos desonesta. Isso não quer dizer que não
que não haja ladras, assassinas, corruptas, batedoras de carteiras e outras
atividades limitadas ao universo feminino.
Particularmente, acho que essa assertiva vale também para a
política, atividade que, nos dias de hoje, nem sempre é praticada por gente
honesta.
Política implica poder e as mulheres não são infensas a ele. Pelo
contrário, elas também buscam o poder. Tal como os homens, as mulheres também
buscam freqüentemente os meios a que devem recorrer para aumentar ou preservar
ou aumentar seu poder. Mas há um diferencial: as mulheres, de modo geral, não
apelam para vilanias ou baixezas para atingir o poder a qualquer custo.
Dito isso, vou fazer uma afirmação que muitos podem considerar
polêmica. Penso que essa relação menos espúria da mulher com o poder tem algo a
ver com a prostituição. Esta sempre teve relações carnais (sem trocadilho) com
o poder. Desde a antiguidade mais remota no período histórico, pode-se dizer
que as prostitutas tiveram maior influência na sociedade do que as mulheres
consideradas de respeito ou de bem.
Por exemplo, na Grécia, enquanto que as ditas "honestas"
ficavam aprisionadas no silêncio do gymnaceum sem poder sair e sem ter
autonomia econômica, as prostitutas podiam fazer fortuna. Enquanto as mulheres
comuns eram analfabetas, as prostitutas eram letradas e cultas; faziam
companhia aos homens e eram peritas em negócios, como as hetairae.
Algumas delas ficaram famosíssimas com Aspásia, companheira de Péricles.
Na Roma antiga, a situação das chamadas trabalhadoras do sexo —as
moças de vida fácil— era também bastante confortável: havia lupanares
financiados pelo Estado, nos quais se inscreviam mulheres nobres e até
imperatrizes, como Júlia e Messalina, que imitavam as meretrizes profissionais.
Quer dizer, era chique ser quenga.
A partir da queda do Império Romano e da vitória do cristianismo,
instalou-se uma repressão sexual que existe já há mais de dois mil anos. A
prostituição degradou-se e tornou-se violenta, mas a prostituição de luxo manteve
(e mantém) grande influência sobre o poder. Nossos presidentes, senadores,
deputados, ministros, juízes que o digam.
Por exemplo: na Renascença, as amantes dos reis, imperadores e
nobres em geral passaram a ter mais influência dos que as rainhas e
imperatrizes, como no caso de Jeanne, a condessa Du Barry, e Madame de
Pompadour. Tal fato acabou por arruinar as finanças da França e tornou-se uma
das origens da Revolução Francesa.
Nos nossos dias, a prostituição também tem um caráter duplo: para
as mulheres das classes oprimidas, ela significa uma espécie de libertação,
pois, de certo modo, ganham mais do que nos empregos convencionais; para
aquelas que servem as classes mais altas, a situação é ainda bastante
privilegiada,
Pode parecer uma homenagem um tanto excêntrica, mas há nos meus
argumentos uma lógica irrefutável: a mulher de hoje ainda tem um longo caminho
a percorrer para poder disputar o poder de igual para igual com homem, isso
apesar de termos uma mulher na Presidência da República. Mas só terá uma
divisão de poder com equidade quando vencer as barreiras sexuais impostas pelas
religiões judaico-cristãs e muçulmanas ainda existentes em todos os quadrantes
do planeta.
A ampliação da participação da mulher no campo político exige
reorganização da vida política, da vida pessoal e negociação familiar, há
estratégias que postas em prática por uma agenda comum das mulheres
parlamentares no Brasil e no mundo pode favorecer e assegurar um real poder das
mulheres. A construção de redes e alianças com organizações de mulheres, à
formação em liderança e lobby e advocacia e à inclusão de mais mulheres jovens
na luta política. Mas isso significa ampliar a liberdade das mulheres decidirem
o que querem fazer de suas vidas.
Luca Maribondo
Umalas | Bali | Indonésia
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