terça-feira, 18 de setembro de 2012

[Autismo politiqueiro


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Nesta época em que as eleições estão nas ruas e as campanhas eleitorais pegando fogo, mais quentes do que bolso de cabo eleitoral, naturalmente surgem os debates eleitorais na televisão. Sobre esses debates vale a pena uma breve análise. O que são e para que servem esses teledebates? Antes de responder à pergunta, cabe uma breve digressão sobre sua história. 

O embrião do que viriam ser os debates políticos aconteceu em outubro de 1960, no confronto entre John Kennedy e Richard Nixon pela presidência da Ianquelândia, que atingiu uma audiência de 90 milhões de pessoas. No Brasil, começou na campanha eleitoral do mesmo ano: não chegou a sser bem um debate, mas uma longa entrevista dentro do programa "Pinga-Fogo", na extinta Tv Tupi, na época a maior rede de tv do país: os candidatos à presidência Adhemar de Barros e Henrique Teixeira Lott aceitaram participar, entretanto o sul-mato-grossense Jânio Quadros recusou o convite, optando por fazer um comício em Recife (PE), o que deixou o debate um tanto insosso. 

Com o golpe militar de 1964, os debates entre políticos foram escamoteados da televisão. Apesar disso, segundo registros existentes, o primeiro debate televisado de verdade ocorreu no Rio Grande do Sul, em 9 de setembro de 1974, entre candidatos ao Senado: Nestor Jost (Arena, o partido governista) e Paulo Brossard (MDB, o partido quase-governista). O teledebate foi transmitido pela Tv Gaúcha, atual RBS TV. Brossard foi bem no debate e ganhou a eleição.

Para impedir derrotas eleitorais do partido governista —já registradas nas eleições estaduais de 1974—, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), o ministro da Justiça de então, Armando Falcão, lança um decreto que restringia a propaganda eleitoral na tv, permitindo apenas que fossem mencionados a legenda do candidato, seu curriculum, número de registro na Justiça Eleitoral, fotografia.

Apesar da Lei Falcão, foram registrados alguns debates em 1982. As restrições da tal lei só seriam revogadas em 1984, a partir da liberação da propaganda eleitoral na televisão. Em 1985, foi regulamentada uma legislação própria para propaganda gratuita no rádio e na televisão. Fim da digressão...

Sem entrar nos mérito das polêmicas causadas pelos debates, pode-se dizer que sua função primordial é trazer ao público, de forma direta, as propostas e visões dos candidatos, suas diferenças de comportamento, ou seja, seria desnudar para o eleitor quem são, como agem, o que pensam, aqueles que pretendem nos representar politicamente, através dos grandes meios de comunicação: rádio, tv e, hoje em dia, a Internet. 

Os debates televisivos são o grande ato das campanhas políticas modernas, mais ainda do que o horário eleitoral gratuito, mais ainda que os comícios, pois a mobilização que causam na população e o alcance do número de eleitores é muito maior do que qualquer outro ato de campanha. Por isso, se preparar de forma adequada para eles é de suma importância para qualquer candidato que pretenda ganhar a disputa. 

Em geral, erros num debate costumam descartar do jogo quem os cometeu. Por outro lado, candidaturas são alavancadas pelos que, na opinião do eleitor, se saíram bem, “venceram” o debate! Esses, de uma maneira geral, são os que irão brigar, de fato, pela vitória! 

No sábado passado, aconteceu um debate na Tv Guanandi (Rede Bandeirantes) com os sete postulantes à Prefeitura da cidade. Ao debate faltou, de modo geral, uma visão mais ampla da cidade e de seus problemas mais candentes, pois os projetos mencionados foram debatidos como questões pontuais, sem qualquer proposta mais concreta ou aprofundamento.

Na verdade, aconteceu a união dos seis candidatos de oposição contra o governista Edson Giroto (PMDB), apoiado pelo governador André Puccinelli e pelo prefeito Nelsinho Trad, ambos também do PMDB. Logo depois do debate, o prefeito fez sua avaliação do que houve no sábado: pra ele foi “a sintonia perfeitamente combinada (sic) entre seis candidatos para atacar a administração e o nosso candidato”.

Trad considerou que que o bombardeio feito por pelos seis contra Giroto “confunde os eleitores” e muitas vezes, “no calor do debate”, o candidato não consegue “colocar a verdade acima de tudo”. O prefeito é um pândego. Primeiro que os seis contra Giroto é exatamente o que se deveria esperar. Afinal, o peemedebista é o candidato da situação, é o postulante que conta com a tutela das máquinas governistas estadual e municipal. Ou ele por acaso supôs que algum oposicionista fosse um docinho com Giroto.

Depois, será que ele estava esperando alguma dose de verdade num debate entre políticos em busca do segundo cargo administrativo do Estado? Num debate entre políticos em corrida eleitoral, a verdade é apenas o que sobra depois que se esgotaram os estoques de mentiras.

Não é por menos que o economista Normann Kallmus admite que "não apliquei meu tempo assistindo o festival de atrocidades e asneiras que costuma povoar os tais 'debates'. Tenho, no entanto, percebido um grau crescente do que eu denomino 'autismo politiqueiro': aquela condição na qual supostas respostas são afirmações completamente desconexas em relação à pergunta feita". "Autismo politiqueiro", a locução cunhada por Kallmus, define bem o que foi o debate, é ou não é?
Isso tudo ficou patente nas chamadas considerações finais do debate. Nada além de platitudes: os candidatos anunciaram como meta a humanização de Campo Grande, pensamento complementado com o corolário costumeiro: a necessidade de mudança e renovação política.

O único que fugiu do clichê foi Giroto, o ungido dos deuses peemedebistas. Não conseguiu fazer fluir seu discurso de encerramento, vendo-se obrigado a ler trechos da sua peroração num papelucho sobre a bancada, deixando claro todo seu nervosismo e insegurança. Não foi pior nem melhor que seus adversários, mas ficou claro que não consegue enfrentar a oposição com serenidade. Faltou a Giroto alguém que manejasse o controle remoto. E ficou provado que nos momentos decisivos, os anões e os gigantes do circo têm estatura normal.

Mas nós eleitores, coitados, ficamos sem norte, sem sul, sem ocidente, nem oriente...




Luca Maribondo

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