sábado, 8 de setembro de 2012

[O refúgio dos patifes

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Patriotism is ths last refuge of a scoundrel (o patriotismo é o último refúgio de um patife). Pelo menos uma vez a cada quatro anos penso na frase célebre do pensador e jornalista britânico Samuel Johnson do século 18 —quase sempre também penso em escrever sobre o tema, mas acabo deixando de lado. Nesta sexta-feira  coincidiu ser 7 de setembro e ter jogo da Seleção Brasileira. Foi quase como Copa do Mundo: bandeiras verde-amarelas espalhadas por todos os lados; fitas amarradas nos postes, carros com bandeirolas, camisas oficiais e/ou piratas, pulseiras, adereços nas cores da moda… A moda da falsidade.

Está certo! Faltam dois anos pra próxima copa do Mundo, que desta feita, será pela segunda vez no Brasil. Sempre que penso no tema me convenço mais ainda do porquê não sou patriota… E nem sempre torço pela Seleção Brasileira de futebol. E nem os outros que nasceram e vivem neste país. A particularidade de torcer por outro país no futebol não me coloca em lado oposto, pois nasci e cresci neste país.

Quando olho para os países vizinhos entendo porque sermos assim faz todo o sentido. Sei que todos os brasileiros amam a seleção, isso é normal. Anormal sou eu, que decido torcer por um rival, principalmente quando a nossa seleção é evidentemente mal montada. Mas o que faz alguém amar algo por alguns instantes e depois de um mês, passar o resto dos dias odiando/reclamando desse algo?

As pessoas são iludidas por uma falsidade temporária. Isto é Brasil. Todos são assim. Amam o país, cantam o hino, choram, vibram, se emocionam, até o final da Copa do Mundo ou a eliminação, que já é um estopim para o desgosto voltar a ser o protagonista e deixar o amor como coadjuvante.

Mas o que é ser patriota? Não seria amar o país em todas as ocasiões? Ou, na primeira oportunidade, comparar com o nível de outras nações e se descobrir a escória em que se vive?

Acho que o Brasil é triste. Deve se sentir o pior do mundo, pois tem que esperar três anos e onze meses para ser abraçado e bem tratado por 190 milhões de filhos. Depois disso, são mais três anos e onze meses de pancadas, acusações, xingamentos, desprezo e por aí vai.

Nem o fato de ser um país onde catástrofes naturais não acontecem (ou são incomuns) serve de argumento. Basta uma chuva mais forte, deslizamentos etc., para virar um país de quinto mundo. É quase como um bullying contra o Brasil. Mas eu ainda admiro esse cara. Por mais que xinguem, falem mal e daí pra baixo, o Brasil se mantém firme, como um adolescente crescendo, ganhando forma, buscando notoriedade.

Pena que tem filhos tão ingratos. Patriotas? Pronunciar essa palavra é quase como falar javanês na Avenida Afonso Pena. Difícil vai ser encontrar alguém que saiba interpretar o que isso significa. Neste 7 de setembro perguntei pra um bocado de pessoas o que é ser patriota. Ninguém me deu uma resposta satisfatória, embora tenha lido coisas instigantes. Uma amiga, Valéria Calixto, disse que ser patriota "é ter espírito de Policarpo quaresma..." A jornalista Liziane Berrocal, que também é candidata a vereadora: "segundo a matéria que eu assisti hoje (na tv) é ser militar". Val Corrêa: "é amar e defender a pátria mãe..." E Margarida de Brum Fernandes: "eu nem vou responder... Precisamos repensar nossos valores..."

Notou que só mulheres responderam? E elas devem ter razão. Mas voltemos ao tema: decididamente não sou o que se possa chamar de “um bom patriota”. Em época de Copa do Mundo, por exemplo, não pinto a cara de verde-amarelo, não solto foguetes quando a seleção canarinho vence nem caio em depressão quando perde. Além disso, excedente de contingente, jamais serei convocado para “morrer pela pátria” e, em caso de convocação, morrerei de cansaço antes de disparar o primeiro tiro.

Sou ser sem a menor serventia para as coisas da guerra, das batalhas. Concordo plenamente com Samuel  Johnson. É certo que, de peito estufado, já entoei o Hino Nacional nas chamadas “paradas cívicas”, obrigado por professores que queriam me impingir um patriotismo forçado. De todos os matizes políticos, os professores eram, de modo geral, literalmente vidrados em convescotes cívicos. Em todas as “datas memoráveis”, nos obrigavam ouvir bateladas de discursos encharcados de civismo.

Sob um sol de derreter o cocoruto, ouvíamos, sem entender nada, alguém metido a historiador discorrer sobre os “grilhões que nos prendiam a Portugal” e coisa e tal. Uma pedreira. Lembro de uma vez em que um dos colegas passou mal e desmaiou no meio de uma parada de 7 de setembro. De quebra, foi brindado com um advertência humilhante. Como se pode ver, já fiz minha cota de sacrifícios pela pátria.

Mas deixemos de rememorações inúteis, que o objeto dessa arenga é outro. Escrevo estas mal traçadas para declarar publicamente que estou torcendo contra o Brasil, ou melhor, estou torcendo contra os políticos do Brasil. E contra os brasileiros de modo geral também. Afinal somos todos nós, brasileiros, que recebemos do Todo Poderoso este magnífico salão de festas e o estamos transformando num quartinho de despejo. E tudo isso sob a liderança dos nossos políticos e governantes.

E pra ficar apenas na questão ambiental, esteja certo de que em breve não sobrará uma nesga de Pantanal pra beliscar uma anta. Nós, brasileiros, logo transformaremos o país num enorme canavial, ou numa gigantesca "sojeira", ou ainda num pasto descomunal. Pode-se argumentar que isso é muito bom para a economia brasileira, o que não deixa de ser verdade. Mas, com certeza, o povo, apesar de entrar na esculhambação, não participará do festim e, de quebra, não terá um pedacinho de alcatra pro churrasco, uma garrafinha de shoyu pro sobá ou uma gotinha de álcool pra cachaça. E sem pinga o Brasil não anda. Sem cachaça nem os patriotas aguentam.

Só quero finalizar dizendo que uma das coisas que fazem um patriota dos bons, sério, é saber escolher os políticos que dirigem nosso país, nossos estados, nossas cidades. E, pelo que estou vendo, vamos votar nos medíocres de sempre. No caso específico de Campo Grande, temos sete candidatos a prefeito, todos sem a menor condição de ser dono de barraquinha de sobá.

Luca Maribondo

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