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Numa única parada em uma esquina de Campo Grande , recebi nada menos que oito folhetos promocionais e publicitários dos mais variados modelos , tipos e tamanhos . Alguns sofisticadíssimos, fartamente coloridos. Uns poucos criados com leiautes moderníssimos, mas muitos lembrando os antigos reclames das primeiras décadas do século passado . Dois ou três escritos em português , a maioria em uma língua indefinível , que lembra vagamente o idioma falado no Brasil —é um dialeto que só os publicitários conhecem... E mal .
É tal a quantidade desse material publicitário distribuído nas esquinas mais movimentadas de Campo Grande —principalmente nessas épocas de festas reiligio-marqueteiras—, que é possível que o cidadão encha o carro de folhetos , folders, opúsculos , filipetas, flyers, prospectos , volantes , boletins e quejandos após rodar pelo centro da cidade e aceitar todas as peças que lhe entregarem.
Se o passante se der ao trabalho de ler um ou outro desses reclames , descobrirá que o supermercado tal “garante o menor preço e se compromete a devolver a diferença na hora ”; já o seu concorrente jura que o que vende é “mais barato , mais barato , mais barato ”. Tem o sabe-se-lá-o-que (a filipeta não é assinada) que , autoritariamente, é imperativo : “Exerça seu direito – multas de trânsito ??? Não pague!!! Recorra...”.
Tem também o reclame do político em campanha extemporânea que se vangloria: “Somos um partido vitorioso ! Temos um projeto vitorioso !”. A nova loja de computadores alardeia que é “a maior rede de soluções em informática e telefonia celular do Mato Grosso do Sul (sic)”. O serralheiro alerta : “se o seu portão está acordando seu visinho (sic) quando abre ou fecha é sinal que alguma coisa está errada”.
Uma moçoila de ar manso e tímido distribui cartões informando na “loja especializada em produtos e acessórios eróticos ” era possível adquirir extensores penianos (já pensou?!), vibradores, lubrificantes e fantasias (?). A maga e conselheira espiritual vende seu peixe asseverando ser capaz de encontrar “respostas e soluções para todos os seus problemas ”, desfiando uma longa lista dessas pequenas grandes desgraças que eventualmente afetam as pessoas comuns .
É um festival de poluição visual e ambiental: na maior parte dos casos , o material é muito feio e mal-ajambrado e, quase sempre , vai parar nas ruas e calçadas , aumentando a já enorme quantidade de lixo espalhado pelas vias públicas da cidade . E o campo-grandense , cuja cidadania parece estar sempre em baixa , ajuda a esculhambar ainda mais o ambiente , jogando todos esses papéis nas ruas da cidade .
É certo que , com boa propaganda , o cidadão comum é capaz até de acreditar em ovo sem casca . Mas o material publicitário distribuído nas esquinas da cidade acaba dando razão ao humorista Millôr Fernandes, que diz: “propaganda – a madrinha da prostituição ”. Mas também demonstra que a propaganda continua sendo a alma do negócio , ainda que muitas vezes pareça um negócio sem alma .
Luca Maribondo
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