quarta-feira, 3 de novembro de 2010

[[Continuar voando

¬¬¬Sonhei que voava. Um sonho recorrente, um desejo sempre flutuando no turbilhão dos meus neurônios, algo sempre presente em meus pensamentos. Acho que é por isso que eu gosto de ficar vendo as coisas do alto. Fico horas e horas nas janelas do meu apartamento, apreciando as pessoas, os ônibus, os carros, tudo tão pequeno embaixo.

Nos aviões, sempre faço questão de sentar do lado das janelas. Assim, posso ver a vida acontecer embaixo, numa dimensão que a faz parecer tão de brinquedosempre tenho ímpetos de esticar as mãos e pegar as coisas tão pequenas que parecem estar em outra dimensão, muito diferente da seriedade da realidade.

Eu sei voar. Não como um pássaro. Certamente não como o Super-Homem ou o Capitão Marvel, ou qualquer outro desses super-heróis voantes. Também não como um avião, helicóptero, disco-voador ou qualquer outra máquina voadora. Muito menos como um anjo, que, como todo mundo sabe, são seres divinos e alados que fazem a ligação entre o Todo-Poderoso e os homens. Os anjos possuem conhecimento sobre todas as áreas, de forma intuitiva e atendem a humanidade segundo as suas necessidades. Mas esta é outra história.

Apenas e tão-somente voava —isto é, flutuava no ar... E pronto! Um sonho inteiro vendo coisas por cima. A rua da casa de meus avós, fios (cuidado!), araras azuis, pombos cinzentos, árvores no quintal. E, claro, pessoas me olhando, espantadas. Afinal, onde se viu ou ouvir falar de um ser humano voando por seus próprios meios?

Porém mais espantado estava eu: era muito fácil voar. Simples. Como nunca ninguém tinha voado sozinho antes? Basta esticar as palmas das mãos como se se quisesse aparar o vento, jogando-o para baixo delicadamente. Nada de bater os braços, dar impulso com os joelhos, não, não! Palmas em diagonal ao chão, e pronto. A mão esquerda um pouco mais pra e, e pronto, eis uma curva suavemente bem feita. E com as mãos mais juntas ao corpo a descida é confortável.

No começo, voarmedo. É estranho ver que é suficiente o desejo de voar. Meu pesado corpo mais-leve-que-o-ar? Como se sustenta? E na hora de descer? E se eu me machucar? E a dor? Percebi que essas inseguranças são incompatíveis com o vôo. Não se pode voar pensando nisso. Não pense. Voe.

Voar serenamente, silenciosamente, delicadamente. Ver de longe e do alto as pessoas indo pra , vindo para , observar o fluxo dos carros, dos ônibus, das motocicletas, conhecer os tetos das casas, dos edifícios. Brinquedos esquecidos no fundo de uma piscina. O carrinho de mão abandonado na obra. A obra inacabada e abandonada por algum governante inepto.

E meu vôo continua. Mais na frente, um parque de diversões com uma roda-gigante. A lona de um circo mais adiante. E a pontuda torre da igreja. Será possível ir tão alto? Sim, claro que é possível, mas não necessário. Não é necessário quebrar nenhum recorde de velocidade, altitude, tempo. voar. Apenas voar.

Acordei. Mas todas as boas sensações do vôo vieram comigo: voar é preciso. Era preciso ser livre. Ser um pássaro para voar por tantos caminhos e descaminhos, tantos horizontes. sentir o quanto à natureza é bela e generosa e, ao mesmo tempo, o quanto é cruel e sábia. Olhar as pessoas do alto, ora em sua glória, ora em seu fracasso: ver o mundo de cima e, por isso, sentir-se grande, na minha pequenez, e forte na minha fragilidade. Observar que o mundo é perfeito e grande e os seres humanos tão mesquinhos e pequenos. E se comece um novo vôo. O vôo da liberdade. Continuar voando, mesmo que de olhos abertos.

Um comentário:

Carmen Eugenio disse...

Voar é preciso!!!
Veleu Grande Luca!!