De um lado , esses levantamentos de opinião funcionam como instrumento de investigação da realidade , capaz de informar eleitores , políticos , partidos , orientando-os em suas decisões . De outro , acobertadas pela imagem de trabalho científico , elas têm sido usadas para desinformar a opinião pública , visando a manipulação do voto . Mas como avaliar os resultados muitas vezes contraditórios que costumam ser publicados, para não ser enganado? Os especialistas no assunto costumam analisar os resultados tendo alguns cuidados básicos .
É sempre bom analisar a amostragem da pesquisa . Não é raro se descobrir que um levantamento apresentado como nacional refere-se a uma pesquisa feita apenas em alguns Estados ou regiões , ou só em capitais e regiões metropolitanas. Em se tratando de eleições presidenciais, nada mais falso . Não se faz uma boa amostra eleitoral hoje no Brasil, que conta com mais 5,5 m il municípios e possui quase 136 milhões de eleitores , em menos de cem cidades , distribuídas em todos os Estados e com eleitorados de todos os tamanhos .
A formulação das questões aplicadas aos entrevistados é outra questão fundamental . Além do risco de perguntas enviesadas, em qualquer momento de um processo eleitoral as respostas de intenção de voto espontâneas serão muito diferentes —e portanto incomparáveis — das respostas estimuladas por listas de candidatos .
É preciso conferir as credenciais de quem elabora e concretiza a pesquisa e os propósitos do cliente , ou seja, quem paga pelo serviço . Quem analisa as pesquisas tem de saber qual o instituto que assina a pesquisa e quem a encomendou. Qualquer pessoa ou grupo tem o direito de fazer e divulgar pesquisas eleitorais . Tanto a qualidade técnica de um levantamento como o compromisso com a verdade dos profissionais nele envolvidos precisam ser comprovados. Ao tomar conhecimento de uma pesquisa eleitoral , o eleitor tem de se informar sobre que instituto a fez e qual seu desempenho em eleições anteriores .
E não se pode esquecer que muitas dessas empresas fazem pesquisas estapafúrdias muito antes das eleições e depois as acochambram quando se aproxima o pleito —por isso , em geral os resultados das eleições estão de acordo com as pesquisas . Além disso, é bom checar quais são os vínculos de interesse entre quem fez e quem pediu a pesquisa , e qual dos dois a está divulgando. Uma pesquisa eleitoral encomendada por um candidato só será publicada se for do seu interesse , merecendo por isso ser lida com muita precaução .
O grau de isenção na divulgação de uma pesquisa , por sua vez , depende diretamente do grau de independência do meio de comunicação em relação aos políticos envolvidos. Muitas vezes esse grau é igual a zero : o político bem avaliado ou em ascensão é parente próximo , ou parceiro econômico em outros empreendimentos , quando não o próprio dono do veículo divulgador da pesquisa . A atenção tem de ser redobrada.
O cidadão tem de ver o resultado da pesquisa com seus próprios olhos . Tem de aprender a ler os dados . Dado que mesmo entre os poucos veículos de fato independentes , a objetividade jornalística é uma utopia que nunca se realiza plenamente , recomenda-se aos telespectadores de todos os canais e aos leitores de todos os jornais que aprendam a ler os dados —as tabelas , os gráficos — por si mesmos . Esse é o único antídoto para não ser levado por interpretações distorcidas. Feito isto , o eleitor tem de exercer depois uma leitura crítica da interpretação que costuma acompanhar as pesquisas eleitorais e tirar as suas próprias conclusões .
Luca Maribondo
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