quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pavor da escuridão

>>>Considerada como uma obrigação religiosa no início, passando pelo moralismo exacerbado da Idade Média e chegando aos dias de hoje, com os eufemismos das garotas de programa e das modelos, a prostituição conta com mais de 6.000 anos de existênciaisso se a gente levar em consideração apenas a época em que foi criada a escrita e, em conseqüência, a História.
Prostituição e política: tudo a ver

A
prostituição —e com ela os bordéis— tem florescido em todas as sociedades nos últimos seis milênios. Mulheres das mais distintas classes têm se dedicado ao prazer sexual —muitas vezes remunerado—, desde as hetairas da Grécia clássica até as cortegiane di candela da Itália do século 15; desde as kehbebs muçulmanas até as gueixas de hoje.

Ao
ler algo sobre a história da prostituição o leitor se depara com fatos surpreendentes nem sempre retratados na historiografia oficial. Por exemplo, no primeiro ano da Era Cristã, Roma tinha registradas 32 mil prostitutas em atividade, número pouco menor que as 35 mil que viviam em Nova York no final do século 19. Carlos Magno teve cinco rainhas e o mesmo número de concubinas; Roberto, Bispo de Lieja, encontrou tempo suficiente, entre uma oração e outra, para conceber 75 filhos ilegítimos. E vai por afora.

E
tão logo surgiram as prostitutas nasceu também sua relação com os políticos (esta, talvez, a segunda profissão mais antiga do mundo). A prostituição sempre teve relações carnais com o poder. Desde os tempos mais remotos da História as prostitutas estão assim com os poderosos de plantão —pode até dizer que elas tiveram mais influência na sociedade do que as mulheres ditas “de respeito”.

Na Grécia
antiga, por exemplo, enquanto as mulheres “honestas” ficavam aprisionadas no silêncio do gynaceum, completamente reclusas, e sem ter autonomia econômica e social, as prostitutas podiam fazer fortunas. Enquanto as mulheres comuns eram analfabetas, as meretrizes eram letradas e cultas; faziam companhia aos homens e eram peritas em negócios, como as hetairae. Algumas delas ficaram famosíssimas e ganharam um lugar na História, como Aspásia, companheira de Péricles.
Em Roma, a situação das chamadas trabalhadoras do sexo também era bastante confortável: havia lupanares financiados pelo Estado, onde era possível ver atuando mulheres nobres e até imperatrizes, como Julia, filha do imperador Augusto, e Messalina, terceira mulher de Cláudio, que se faziam passar por prostitutas profissionais.
Com a queda do Império Romano e a conseqüente supremacia das religiões e seitas judaico-cristãs, implantou-se uma forte repressão sexual, que existe há mais de dois mil anos. A prostituição degradou-se e tornou-se violenta. Mas surgiu algo que pode se denominar de prostituição de luxo, que ainda mantém grande influência sobre o poder.

Na
Renascença, as amantes dos reis passaram a ter mais influência do que as próprias rainhas, como o caso de Joanne Bécu, condessa du Barry, e Jeanne Antoinette Poisson, madame de Pompadour —curioso que poisson signifique veneno em francês. Esse tipo de coisa acabou por arruinar as finanças da França e tornou-se uma das causas da Revolução Francesa.

quem diga que, nos dias de hoje, a prostituição perdeu muito do seu charmemas isto não é bem verdade. Hoje, a prostituição também tem um caráter duplo: para as mulheres das classes oprimidas, ela significa uma espécie de libertação, pois acabam ganhando mais do que nos empregos convencionais, até porque muitas delas conquistam grandes espaços na mídia, travestidas de atrizes, modelos, apresentadoras de tv, assessoras disso e daquilo em órgãos governamentais. Estas acabam servindo as classes mais altas e ganham status extremamente privilegiados.

Foi o ex-ator e ex-presidente
norte-americano Ronald Reagan quem disse queeu achava que a política era a segunda profissão mais antiga. Hoje vejo que ela se parece muito com a primeira”. Os mais recentes —e os mais antigos tambémacontecimentos políticos do Estado e do País (por falta de espaço não vou citar nenhum, mas basta o gentil leitor abrir os jornais ou ligar a tv) demonstram que o muito execrado Reagan tem um bocado de razão, caso contrário a política não seria, como disse Otto Lara Rezende, “a arte de enfiar a mão na merda” e tirá-la de bem cheirosinha.

Se o leitor fizer uma leitura mais acurada do momento político, verá que a campanha eleitoral de 2010 tem muito a ver com prostituição, com putaria; não no sentido sexual, mas, por derivação, extensão de sentido, com depravação de costumes, devassidão, imoralidade, falta de honestidade, de princípios, safadeza, sacanagem, vileza. A campanha tem demonstrado a concretude da máxima que diz que político jamais tem medo da escuridão, mas tem pavor da escuridão.



Um comentário:

Vampira Dea disse...

Mesmo sendo mulher vou confirmar uma coisa: muitos casamentos no passado já foram salvos por essa antiga profissão.
O mais triste é que cada dia elas começam mais cedo