sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Analfabeto vota em analfabeto

>>>Ao contrário do que muitos pensam, o analfabeto não quer mal ao alfabetizado, que foi seu irmão. Quer apenas não ser excessivamente importunado, para poder, talvez, converter-se, livre de coação. Pois o alfabetizado, como o evangélico novo, o lulo-petista novo, o psicanalisado novo ou o recém-casado, procura converter todo mundo à sua , e com isso acaba transformando-se num grande chato.

Analfa vota em analfa
Na realidade, deve-se meditar muito, antes de se dar este passo definitivo e irrevogável, que fará com que o cidadão passe a ler tudo que se publica, hoje em dia, em livros, jornais, revistas, cartazes e InternetÉ de suma importância que o analfa seja instruído no sentido de saber o que está à sua espera a partir do momento que aprendeu o alfabeto.

E se for honestamente instruído, é possível que recue no derradeiro instante, decidindo por não tomar contato com o mundo exótico, sanguinário e selvagem das pessoas que sabem ler. Afinal, uma pessoa letrada é sempre potencialmente perigosa, notadamente para analfabetos e para os poderosos de plantãopor que você acha que o presidente Lula da Silva vive descendo a madeira nas pessoas letradas?

Vive o Brasil um momento especial: a orgia da campanha eleitoral. E este é um dos grandes problemas dos analfabetosanalfabetos totais ou analfabetos funcionais—, o momento do voto. O voto, como se sabe, é uma poderosa arma democrática. É tão democrática, que todos os totalitários (autócratas, déspotas, ditadores, tiranos etc.) se utilizam dela quando querem provar que estão com a razão.

Quando estendido ao analfabeto, passa a chamar-se voto do analfabeto, ocupando, neste caso, invariavelmente, tempo diário nos parlamentos em seus diversos níveis e espaço diário na mídia. O voto do analfabeto, concebido como arma, propõe, ao analfabeto, desde logo, um magno problema: como utilizá-Ia, ou seja, em quem deve votar?

Deverá o analfabeto votar no alfabetizado, seu inimigo natural? Deverá o analfabeto votar em outro analfabeto, que muitas vezes não sabe nem ler nem escrever? Como se sabe, existe um grande número de analfabetos e ignorantes no meio político-partidário.

De acordo com a lei da luta de classes, um analfabeto poderá defender realmente o interesse dos analfabetos; por outro lado, setores reacionários e alfabetizados, dispostos a conceder o voto, não se dispõem a conceder a candidatura; em outras palavras, o analfabeto, igual ao brasileiro naturalizado, poderia votar, mas não poderia ser votado.

Esta prática, aliás, parece da mais revoltante injustiça: todos são iguais perante a lei: animais, vegetais, minerais, analfabetos ou brasileiros naturaIizados: quem vota deve poder ser votado.

Afinal das contas, não é justo que num governo eivado de sêres alfabetizados (apesar de quedúvidas sobre esta afirmativa), os analfabetos não tenham voz, eles que representam, verdadeiramente, a maioria da população brasileira.

Acresce ainda, ao doloroso dilema, a descoberta feita por alguns gramáticos, de uma terceira posição: a do semi-analfabeto. A situação destes, hoje tão numerosos, é pungente, comparável à de pessoas pertencentes às raças mistas (como se sabe, filhos de brancos com mulheres negras ou de negros com mulheres brancas são, freqüentemente, infelizes, porque a intolerância do meio-ambiente não permite que sejam reclamados, seja por um grupo étnico, seja por outro. Isto tudo, naturalmente, antes de se descobrir que no Brasil não existe preconceito de raça, e de se fazer uma lei a respeito de uma coisa que não existe).

Assim, os semi-analfabetos giram entre dois campos de atração contrários, sem que haja um critério que possa realmente defini-los, eles seriam inimigos naturais do alfabetizado ou do analfabeto? Como classificá-Ias? Como examiná-Ias? Que elementos ocupariam a banca examinadora? Apenas alfabetizados? Ou um misto de alfabetizados e analfabetos, como no caso de concursos para cargos públicos ou cátedras universitárias? E que atitude tomariam aqueles semi-analfabetos aceitos e perfeitamente integrados nas classes dirigentes, alguns dos quais governam, inclusive com notória competência, os destinos do País?

A questão é das mais complexas. mesmo um estudo jurídico e sociológico aprofundado, talvez subvencionado pela Unesco, poderá determinar quantos membros de um governo autenticamente representativo deverão ser alfabetizados, quantos analfabetos e quantos semi-analfabetos. Enquanto esse magno problema não for solucionado, não haverá paz social em nosso País.

A campanha tenaz que alfabetizados movem contra analfabetos prosseguirá implacável, fazendo um número cada vez maior de vítimas, ferindo indiscriminadamente culpados e inocentes. Por isto, do alto dese blog, lançamos um apelo de caráter humanitário, apartidário, tendo em mira apenas o benefício da coletividade.

A ong de Instituto dos Analfabetos e Combate à Alfabetização (Iaca) solicita que esta humilde página da Internet publique o seguinte:
"Analfabeto: o voto é a tua arma e o alfabeto o teu maior inimigo. Votar em analfabeto é o dever de todo o analfabeto. o analfabetismo redimirá o analfabeto. Por um Brasil cada vez mais intransigentemente iletrado, vote em analfabeto." (Contribuição para a Campanha do Incremento do quadro social da Iaca).

Em todo caso, é sempre bom imaginar que o seu país, o seu Estado, a sua cidade, pode ser melhor governado por alguém letrado, pra que este governante não saia por dizendo platitudes e falando asneiras. Por isso, este blog está fazendo um apelo e propondo, ao mesmo tempo, uma grande campanha nacionalquiçá, internacional: "alfabetize um político antes que ele vire candidato".

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