Analfa vota em analfa |
Na realidade , deve-se meditar muito , antes de se dar este passo definitivo e irrevogável , que fará com que o cidadão passe a ler tudo que se publica, hoje em dia , em livros , jornais , revistas , cartazes e Internet . É de suma importância que o analfa seja instruído no sentido de saber o que está à sua espera a partir do momento que aprendeu o alfabeto .
E se for honestamente instruído, é possível que recue no derradeiro instante , decidindo por não tomar contato com o mundo exótico , sanguinário e selvagem das pessoas que sabem ler . Afinal , uma pessoa letrada é sempre potencialmente perigosa, notadamente para analfabetos e para os poderosos de plantão —por que você acha que o presidente Lula da Silva vive descendo a madeira nas pessoas letradas?
Vive o Brasil um momento especial : a orgia da campanha eleitoral . E este é um dos grandes problemas dos analfabetos —analfabetos totais ou analfabetos funcionais —, o momento do voto . O voto , como se sabe, é uma poderosa arma democrática . É tão democrática , que todos os totalitários (autócratas, déspotas , ditadores , tiranos etc.) se utilizam dela quando querem provar que estão com a razão .
Deverá o analfabeto votar no alfabetizado, seu inimigo natural ? Deverá o analfabeto votar em outro analfabeto , que muitas vezes não sabe nem ler nem escrever ? Como se sabe, existe um grande número de analfabetos e ignorantes no meio político-partidário.
De acordo com a lei da luta de classes , só um analfabeto poderá defender realmente o interesse dos analfabetos ; por outro lado , setores reacionários e alfabetizados, dispostos a conceder o voto , não se dispõem a conceder a candidatura ; em outras palavras , o analfabeto , igual ao brasileiro naturalizado, poderia votar , mas não poderia ser votado.
Esta prática , aliás , parece da mais revoltante injustiça : todos são iguais perante a lei : animais , vegetais , minerais , analfabetos ou brasileiros naturaIizados: quem vota deve poder ser votado.
Acresce ainda , ao doloroso dilema , a descoberta feita por alguns gramáticos , de uma terceira posição : a do semi-analfabeto . A situação destes, hoje tão numerosos , é pungente , só comparável à de pessoas pertencentes às raças mistas (como se sabe, filhos de brancos com mulheres negras ou de negros com mulheres brancas são , freqüentemente , infelizes , porque a intolerância do meio-ambiente não permite que sejam reclamados, seja por um grupo étnico , seja por outro . Isto tudo , naturalmente , antes de se descobrir que no Brasil não existe preconceito de raça , e de se fazer uma lei a respeito de uma coisa que não existe).
A questão é das mais complexas. Só mesmo um estudo jurídico e sociológico aprofundado, talvez subvencionado pela Unesco, poderá determinar quantos membros de um governo autenticamente representativo deverão ser alfabetizados, quantos analfabetos e quantos semi-analfabetos . Enquanto esse magno problema não for solucionado, não haverá paz social em nosso País .
A campanha tenaz que alfabetizados movem contra analfabetos prosseguirá implacável , fazendo um número cada vez maior de vítimas , ferindo indiscriminadamente culpados e inocentes . Por isto , do alto dese blog, lançamos um apelo de caráter humanitário , apartidário , tendo em mira apenas o benefício da coletividade .
A ong de Instituto dos Analfabetos e Combate à Alfabetização (Iaca) solicita que esta humilde página da Internet publique o seguinte :
"Analfabeto : o voto é a tua arma e o alfabeto o teu maior inimigo . Votar em analfabeto é o dever de todo o analfabeto . Só o analfabetismo redimirá o analfabeto . Por um Brasil cada vez mais intransigentemente iletrado , vote em analfabeto ." (Contribuição para a Campanha do Incremento do quadro social da Iaca).
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