terça-feira, 7 de setembro de 2010

Um delinqüente de futuro

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Hoje em dia, uma das características mais importantes de uma grande cidade é, sem a menor dúvida, a delinqüência juvenil. Nenhuma grande cidade, do Brasil e do mundo, é realmente grande se não puder orgulhar-se de uma boa dose de juventude transviada — como se dizia antigamente—, a qual possa, de fato, impressionar o estrangeiro ilustre ou mesmo o simples turista nativo ou alienígena.

Contudo, há administradores retrógrados, que não se importam com esta exigência da vida do terceiro milênio e que fazem o possível pra reduzir o prestígio da sua urbe —seja reduzindo o número de jovens delinqüentes, seja falseando as estatísticas que revelam a verdadeira proporção e a importância da delinqüência juvenil. As proibições estimulam, as casas de guarda ensinam, mas o verdadeiro fator educativo é, ainda, o exemplo. E o exemplo que vem do alto é, sem dúvida, o mais importante. Casos típicos são dos jogadores de futebol, dos atores da tv, dos pastores evangélicos e dos políticos, como o presidente Lula da Silva, que tece loas à ignorância e que estimula a desobediência à leivide campanha eleitoral de 2010.

É certo que um grande número de homens públicostal como o mencionado presidente Da Silva, ou o goleiro Bruno, o piloto Felipe Massa ou o boleiro Kaká—, vêm pautando suas vidas de modo a estimular fortemente a juventude dita transviada, mas é preciso que o bom exemplo se alastre de fato e que a sua mensagem de esperança se torne inconfundível. Pois nem todos os menores lêem os jornais e vêm televisão e deduzem, nas entrelinhas e nas frames, as forças que governam verdadeiramente o mundo.

É o casotípico—, por exemplo, de DVR, que, pela sua inteligência, intuição e criatividade, era mais exceção que regra. Desde muito jovem mostrou que havia compreendido o exemplo de alguns dos nossos mais importantes líderes: no primeiro assalto a uma conveniência na Avenida Afonso Pena (principal via pública do Campão), agiu com uma desfaçatez e petulância inéditas, utilizando-se de uma Beretta 92 e uma picape Ranger roubadas.

E se é certo de que nas primeiras vezes não houve necessidade de usar a arma, ocorreu que na terceira, quarta ou quinta vez, sabe-se !, DVR deu de cara com um gerente mal-encarado, atrabiliário e igualmente armado. O tiroteio atraiu um grupo agroboys que chupavam tereré na calçada em frente e que, tomado de curiosidade, logo correu pra ver o que acontecia.

Tanto eles quanto o dono do botequim "Etanol com Cravo", que também surgiu abrasado, se depararam, um átimo depois, com um quadro dantesco. O gerente da conveniência se encontrava estendido numa poça de gasolina, murmurando, sem vida, palavras desconexas, enquanto uma picape preta, adesivada com material de propaganda de um candidato a senador (era época de campanha eleitoral) dobrava, em louca disparada, a Rua José Antonio, rumo ao Monte Líbano.

Resumo da ópera? A polícia prendeu o dono da picape, pacato barnabé lotado na Secretaria de Assuntos Aleatórios do Governo, o qual foi processado e condenado a dois anos e meio de trabalho voluntário num prostíbulo das Moreninhas, pois os homens da cintura grossa acharam mais simples arrancar uma confissão mediante tortura do que capturar o verdadeiro meliante.

Com a aventura, DVR aprendeu a cuidar, no futuro, muito bem de um carro de sua propriedade, comprado com o suor das mãos medrosas, instalando nele dispositivos vários que o tornaram literalmente à prova de roubo e de detecção eletrônica.

Delinquente de futuro
DVR acabou preso (apreendido, em linguagem politicamente correta deste século 21) e trancafiado numa casa de guarda para menores infratores. Graças, contudo, às relações que ali travou, consolidadas mais tarde numa penitenciária de segurança máxima de Dourados (cidade honrada porém desonestamente administrada, em que  até o prefeito está atrás das jaulas), freqüentada por traficantes do Brasil inteiro e terroristas internacionais, obteve, depois de liberado, uma emprego numa empresa de vigilância com o expressivo nome de uma arma símbolo do nazismo, sendo mais tarde designado para chefiar a segurança de um cassino clandestino no Monte Castelo, bairro de classe média-média do Campão.

Hoje, DVR tem casa no Carandá Bosque, sítio em Bonito, casa de praia no Camboriú e dinheiro num paraíso fiscal do Caribe. Jogou futebol por um breve período num grande clube do Rio de Janeiro. É a favor da exploração estatal do petróleo do pré-sal, da reforma agrária e contra a estatização das operadoras de telefonia celular. É contra servir comida em reunião de político com seus simpatizantes. Gosta de filme de ação. Ator favorito: The Rock. Cantores: Netinho (que hoje é candidato a senador por São Paulo) e Lady Gaga. Casado, mas prefere a amante paraguaia.  Palmeirense, mas não é fã do Felipão. Três filhas, "minhas baixinhas doçurinhas", diz. Adora novela: "Passione é do caraca". Não acredita em políticos honestos, "pero que los hay, hay".

E espera morrer em 2031, com 103 anos, em tempo de assistir pela tv interativa à chegada do primeiro homem a Marte, num foguete fabricado na China a preços bem módicos .


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