sábado, 17 de julho de 2010

::.Falta de tesão

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Faltando pouco mais de dois meses para as eleições de 2010, nota-se que o está nem aí para a política. Ainda na ressaca por causa do fracasso da seleção do estapafúrdio Dunga Verri, o cidadão parece mais interessado nos brutais assassinatos de mulheres acontecidos ultimamente. Está certo que as campanhas eleitorais mal chegaram às ruas, que os programas eleitorais ainda não começaram no rádio e na tv. Com isso, o eleitor permanece indiferente.

A primeira função do Horário Eleitoral Gratuito é mobilizar o eleitor para a disputa —entretanto, isso não tem acontecido nos últimos pleitos, ainda que a televisão seja o principal veículo de difusão a política. As pessoas despertam para a “hora da política”, como costumam chamar o período de eleições, com a veiculação do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral – HGPE. Ao menos é o quem têm demonstrado estudos realizados por especialistas de algumas universidades brasileiras.
De acordo com esses estudos, é, com o HGPE, quando elas se dão conta de que precisam decidir o voto. Trata-se de um momento de incertezas e angústias na medida em que a percepção da necessidade da escolha do candidato vem associada à crença de que qualquer político que venha a ser escolhido dificilmente corresponderá à sua expectativa.


Contudo, paralelo à idéia de que os políticos não cumprem o que prometem, existe a percepção de que pelo menos alguma coisa eles fazem. Ou seja, a dúvida está em identificar entre os candidatos aqueles que maiores benefícios proverão uma vez eleitos. É precisamente esta incerteza que motiva a busca pela informação.


Na tentativa de adivinhar o futuro, o eleitor busca informações na mídia e na conversa do dia-a-dia. Neste contexto, o Horário Eleitoral é reconhecido como o espaço por excelência na medida em que é ali que ocorre o embate mais evidente entre os políticos —claro que filtrado pelos profissionais do marketing e da comunicação, que nem sempre pautam seu comportamento pela ética. Desta forma, a segunda função do HGPE é prover o eleitor de informações, barateando o seu custo. Na maioria dos casos, o HGPE acaba virando tema de conversas na família, no trabalho, no botequim, nas festas.


Ao assistir o material de propaganda política, o eleitor procura conhecer melhor os participantes da pugna e os seus respectivos programas de governo. Sobretudo, demanda informações que sirvam de garantia de que de fato as propostas apresentadas sejam passíveis de realização. O eleitor busca compreender o cenário da disputa a fim de incrementar a sua credibilidade em relação aos candidatos. Em última instância, ele quer segurança para decidir o voto.


Nesse ponto, as características pessoais dos candidatos ganham relevância. Se o eleitor percebe um candidato como sério e seguro, ele tende a identificá-lo como um político forte e capaz de realizações. O eleitor se utiliza ainda de outras informações na busca de garantias de realização das promessas. O partido do político também pode servir de garantia. As pessoas são capazes de classificar os principais partidos em partidos dos ricos ou dos pobres e em partidos fracos ou fortes. Toda essa classificação é realizada dentro do limite cognitivo que apresentam.


Em relação direta com o candidato através da mídia, o eleitor pode aceitar ou rejeitar o discurso eleitoral. Ele tende a aceitar os discursos congruentes com as suas atitudes e a negar aqueles que causam discrepância. Descartam os discursos discrepantes a fim de garantir coerência e estabilidade no seu sistema de crenças.


De modo geral, os eleitores refutam os argumentos contrários simplesmente descartando-os sem qualquer razão evidente, descredenciando a fonte ou distorcendo e interpretando de maneira desvirtuada a propaganda. No entanto, quando eles percebem os argumentos da parte contrária como sólidos e irrefutáveis, buscam então rever suas atitudes prévias.


Ao se exporem aos programas, surgem outras incertezas, agora sobre o processamento da propaganda. A aceitação da percepção individual no grupo social é importante para a cristalização da persuasão. Os grupos buscam o alinhamento das atitudes apresentando argumentos, que de modo geral, se originam na propaganda política dos candidatos e são aplicados à realidade dos grupos.


Desta forma, os eleitores buscam no Horário Eleitoral e na Internet informações que amenizem a angústia individual motivada pela incerteza sobre o voto e ainda argumentos que possam ser utilizados para justificar a sua postura sobre a eleição no seu grupo social. Esta percepção fica agora mais clara com a utilização da Internet, notadamente das mídias sociais, ainda que os políticos, mesmo os mais proficientes culturalmente, tenham atentado pra esse poder de fogo todo da tecnologia da informação.


Entretanto, parece estar havendo uma mudança de percepção do eleitor em Campo Grande, pois a tradição tem mostrado que os números das pesquisas realizadas após o início do horário eleitoral acabam por demonstrar que os programas de rádio e tv têm tido pouco influência nas crenças do distinto público a respeito das suas opções eleitorais, tanto no que se refere aos candidatos a governador e senador, quanto aos postulantes ditos “proporcionais”, isto é, candidatos deputado federal e deputado estadual. Não faz muito tempo, Vander Loubet, deputado federal petista candidato à reeleição, ponderou que o eleitor ainda não estava no cio (e foi execrado por isso!).


O candidato a deputado federal pelo PMDB Esacheu Nascimento, por seu lado, aposta na Internet. Entretanto, ainda vai precisar de um tempo de campanha pra avaliar os resultados. Nascimento vai reduzir a papelaria e se voltar pra propaganda virtual. No mínimo, gastará menos e reduzirá os danos ambientais.


Mas agora, neste momento, a propaganda eleitoral, incluindo os programas de rádio e tv do horário eleitoral gratuito, não seja (e nunca foi) suficientemente excitantes para dar tesão no eleitor — e, como já disse Roberto Freire, sem tesão não há solução. A Internet talvez seja uma alternativa mais estimulante para o eleitor; os políticos, no entanto, ainda não atentaram para o seu poder de fogo, com raras exceções.

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