segunda-feira, 24 de maio de 2010

[O bom diálogo]

>>>Depois de mais de uma semana de ausência, eis-me de volta a este blog abusado.



Diálogo. Diz o Dicionário Houaiss que diálogo é “fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos —colóquio, conversa, bate-papo”. O que me causa estranheza, já que sempre pensei que o prefixo di significasse dois e não “ou mais indivíduos”. Conversação é o “ato de conversar; conversa, colóquio”. Conversar nada mais é que falar, discorrer. Falar é se expressar por meios de palavras. Palavra, diz o mesmo Houaiss, é a “unidade da língua escrita, situada entre dois espaços em branco, ou entre espaço em branco e sinal de pontuação”, que possui um significado.


Diálogos podem ser interessantes ou extremamente chatos, dependendo de quem são os dialogadores. Um colóquio entre dois rural boys sobre a sexualidade da poesia nas composições de Zezé di Camargo & Luciano vai ser anormalmente plano, chato. Agora um diálogo entre dois culturetes sobre a influência de Marcel Duchamps na pintura minimalista-pantaneira pode não ser um diálogo plano, mas ainda assim deve ser muito chato. Enfim, o diálogo em geral é chato pela suas próprias limitações ou dos interlocutores.


Numa analise simplista, o objetivo do diálogo é comunicar, expressar, discutir idéias. Comunicar é o ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens, não importando o meio, seja através de sons, grafismos ou até mesmo símbolos gestuais e a expressão corporal. Apesar de tantos meios disponíveis, o diálogo se utiliza basicamente da palavra. Em um diálogo, os gestos, expressões e onomatopéias não passam de meros coadjuvantes. Coadjuvantes são aqueles que auxiliam, que servem de escada para o ator principal, como o Erasmo Carlos para o Roberto Carlos ou o Coutinho para o Pelé ou ainda o Tom para o Jerry .


Claro que existem exceções, como quando alguém comenta, com palavras em um diálogo, algo desairoso sobre a senhora genitora do ouvinte e este retribui com um ato multimídia denominado sopapo nos cornos ou soco na fuça. Neste caso o diálogo se torna um coadjuvante para o dito sopapo, que pode ser comumente substituído pelo chute no saco, principalmente por interlocutoras do sexo feminino. Apesar de equivalentes, sopapo nos cornos e chute no saco resultam em reações desiguais, tanto física quanto moralmente.


Tive a oportunidade de comprovar tal observação da subutilização da linguagem em diálogos em viagens que fiz por alguns países deste nosso sofrido planeta. Países estes vulgarmente chamados de Paraguai, Argentina e Bolívia. Por ser turista e freqüentar ambientes com muitos outros turistas, tive a oportunidade de entrar em contato com muitos gringos —gringo é uma denominação internacional e pejorativa para turistas, principalmente americanos (americanos do norte para ser mais preciso). Mas no caso podemos utilizar o termo gringo para qualquer branquelo de bermuda, camiseta e com uma máquina fotográfica procurando pousadas ou lembrancinhas baratas em seus respectivos guias de viagem. Conheci gringos portugueses, gringos bósnios, gringos iraquianos, e até gringos norte-americanos, entre outros.


Apesar do Brasil ser um país latino e estar localizado na América do Sul, os brasileiros não falam a mesma língua dos supra citados Paraguai, Argentina e Bolívia. O idioma dos brasileiros é o bom português —e nem sempre tão bom assim. E todo bom brasileiro sempre acha que sabe um bom espanhol. Espanhol este falado nos já supra-supra citados Paraguai, Argentina e Bolívia. Mas na verdade, o bom espanhol brasileiro é equivalente ao bom alemão americano (americano do norte): não serve pra nada, muito menos pra conversar. Ou seja, brasileiro mal consegue falar o português direito e ainda quer se meter a falar espanhol.


Apesar dos países europeus estarem muitos próximos uns dos outros, há uma diversidade lingüística enorme. Os gringos franceses não falam a mesma língua dos gringos alemães que vivem ali do lado. Os gringos italianos, como todo bom italiano, falam italiano. Assim como os gringos turcos falam turco, os gringos moldávios falam romeno e assim sucessivamente. O fato é que quase nenhum gringo fala um bom espanhol. Gringo este americano (do norte) ou não. Com exceção dos gringos espanhóis, estes, que pela lógica, falam espanhol.


Em 1887, o médico judeu-polonês Ludwik Lazar Zamenhof criou um idioma para facilitar de comunicação internacional. Denominada esperanto, a novilíngua era a esperança de uma língua universal. A esperança do esperanto foi quebrada pela influência cultural norte-americana (do norte). Através do domínio financeiro, do marketing, de Hollywood e de música pop barata, conseguiram transformar a língua inglesa em uma língua que, de certa forma, apesar de burra, é universal.

Conseqüentemente, nós brasileiros, que não falamos espanhol bem, e os gringos (não necessariamente americanos —do norte), que também não falam espanhol bem, ambos falamos inglês, não necessariamente bem também. Obviamente o inglês não é a língua nativa de ninguém (exceto dos gringos americanos e dos gringos ingleses), que resulta em algumas falhas na comunicação verbal, devido a uma menor amplitude lexical.

Isso não significa que eu tenha algo contra o diálogo. Pelo contrário: afinal, como foi dito no começo, diálogo é a “fala em que há a interação entre dois ou mais indivíduos —colóquio, conversa”. Sou, portanto, extremamente favorável ao diálogo, à conversa. E é conversando que a gente se entende, como se sabe. Principalmente na política, atividade em que se aplica a regra de que diálogo bom é aquele em que você obriga o interlocutor (interlocutor não é locutor que fala no interfone, viu?!) a calar a boca!

Texto: Luca Maribondo
Ilustração: Boris Lyubner

Um comentário:

Vampira Dea disse...

Seria bom que mais pessoas aprendessem o esperanto.