quinta-feira, 4 de março de 2010

[Vampiros: ser ou não-ser]

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Sempre tem gente dizendo que vampiros são seres démodé, mas isso não é bem verdade. As lendas de vampiros existem desde a pré-história e, desde que o irlandês Abraham "Bram" Stoker publicou Drácula em 1897, os vampiros jamais saíram de moda. Prova disso são os livros da norte-americana Stephenie Meyer, autora da série de livros de vampiro Twilight (Crepúsculo), que renovaram a legenda desses seres que à noite se reanimam e saem de seus túmulos para sugar o sangue dos vivos, tais como políticos de má cepa. Meyer vende milhões de livros.

Vampiro, pra quem não sabe, são damas e cavalheiros que habitam filmes e livros de vampiros, e que se encontram, de modo geral, em estado de morto. Raros são os vampiros que já não tenham, no início da obra, morrido umas quatro ou cinco vezes —e se vieram a bafuntar apenas uma vez, é certeza de que ressuscitarão no filme ou livro seguinte.

Portanto, nisso os vampiros diferenciam-se fundamentalmente dos seres humanos. Uma vez mortos, os humanos raramente reaparecem, a não ser em retratos de família, anúncios de missa ou livros religiosos. Já o vampiro, não: basta morrer para logo ressurgir, para ressurgir como vivo e muito lampeiro. E surgindo como vivo pode se ter a certeza de que o vampiro está absolutamente morto.

De maneira geral, o vampiro dos filmes e livros tem as seguintes características: são cavalheiros de meia idade, bem apessoados, boa família, inteligentes, cultos, trajam-se com elegante sobriedade (apesar das capas esvoaçantes) e não gastam mais do que ganham —você já viu vampiro esbanjando dinheiro? Mas há jovens e belas vampiras e até bebês-vampiros em filmes e livros. Lendo e vendo esses livros e filmes, a gente chega à conclusão de que o vampiro tem uma renda polpuda em países em que existem vampiros, o que o livra das prosaicas preocupações materiais mais prementes.

Há também uma explicação simples para a capacidade que o vampiro tem pra gastar pouco dinheiro: estando morto, vivendo num féretro durante o dia, só saindo de casa à noite, dotado da capacidade de voar e se mover em altíssima velocidade, pode economizar a maior parte da sua renda, investindo-a em imóveis e ações, principalmente bancos, ou financiando campanhas eleitorais, que, como se sabe, é o investimento de maior retorno que existe.

Vampiros que foram desta para melhor há muito tempo ou há muitos filmes de vampiros atrás conseguem, inclusive, amealhar fortunas consideráveis. Por isso moram em castelos antiqüíssimos —e carésimos— na Transilvânia, em casa magníficas no Canadá ou em suntuosos prédios públicos em Brasília.

Analisando, porém, a vida do vampiro, a gente chega à conclusão de que o dinheiro não os torna nem mais feliz nem mais infeliz do que a média; vampiros, como todo mundo, andam sempre um tanto insatisfeitos com a vida(!), sonhando com uma coisa ou outra, desejando o que não têm, suspirando pelo passado ou pelo futuro.

Vampiros gostam de passear, vão ao cinema de vez em quando (inclusive para assistir filme de vampiro, embora lamentando as deformações com que são retratados) e não têm, apesar do que o próprio cinema divulga, mais sede de sangue do que a maioria das pessoas que vivem em cidade como Brasília, São Paulo, Campo Grande ou o Rio.

Apesar de serem considerados seres anacrônicos, na verdade, desde Bram Stoker os vampiros deram uma enorme contribuição para as artes, a cultura, a economia e a política no século 20 —e tudo indica que a situação perdurará por todo o século 21. Talqualmente os humanos, vampiros são 59% d'água, o que torna líquidas todas as suas pretensões ou liquida com elas. Por isso, vampiros provam que ser já é princípio do não-ser.

Um comentário:

Vampira Dea disse...

Somos economicos mesmo e estamos revoltados com esses novos vampiros que tomam danoninho ou esses que roubam pra comprar panetoni .
Convite: Não perca a semana de homenagem a mulher no Dea e o Mundo, vários autores, textos inéditos.