terça-feira, 27 de outubro de 2009

_Mãos limpinhas

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Ricardo Balestreri, que vem a ser secretário nacional de Segurança Pública, criticou o movimento iniciado contra a transferência de dez traficantes de drogas do Rio de Janeiro para o Presídio Federal de Campo Grande. "Tentar lutar contra isso é explorar o senso comum, o medo da população", vociferou, ao participar da solenidade para receber comenda da Polícia Militar do Estado.

Para o doutor, o grupo trabalha para sensibilizar a população explorando a política do medo. "Querem trabalhar em cima da política do medo", afirmou, destacando que os presos devem ficar em algum lugar do País. "Onde vamos colocar nossos presos? No espaço sideral não é possível, eles têm que ficar dentro do território nacional", debochou. Brincadeira né? Por que em Campo Grande?!

Ele rebateu ainda os temores de que os líderes das facções criminosas tragam para Mato Grosso do Sul os criminosos e as quadrilhas. "É impossível, a comunicação deles com o mundo externo é zero", assegurou. "Eles poderiam ser mandados para qualquer unidade do Brasil, em qualquer presídio de segurança máxima, eles estariam seguros, não trazem nenhum risco à comunidade", garantiu. Como se ele pudesse garantir alguma coisa.

Estamos todos cansados de saber que os bandidos batem e arrebentam, explodem e matam. Em maio de 2006, os líderes do PCC colocaram a maior cidade do pais em estado de guerra. Há poucos dias, fizeram o mesmo na segunda maior cidade: aterrorizaram o Rio de Janeiro. E fazem isso todos os dias, em pequenas e grandes cidades. E aí vem o doutor Balestreri garantir que as autoridades realmente dominam os líderes do crime organizado —aliás, mais organizado que o Estado.

Não sei o que o doutor quis dizer com "explorar o senso comum". Senso comum é uma locução filosófica que, no aristotelismo, na escolástica e no cartesianismo, significa a faculdade cognitiva cuja função é reunir as múltiplas impressões dos nossos sentidos, com o objetivo de unificar a imagem de um objeto percebido. Já na na filosofia romana, e posteriormente no pensamento moderno, conjunto de opiniões, idéias e concepções que, prevalecendo em um determinado contexto social, se impõem como naturais e necessárias, não evocando geralmente reflexões ou questionamentos. Simplificando, senso comum é sinônimo de consenso.

Penso que ele quis dizer que, nós todos que somos contra a presença dos facínoras, estamos todos com medo —e estão explorando nosso medo. E estamos mesmo, até porque não confiamos não só nos meliantes, mas também nas autoridades que têm a obrigação de mantê-los longe da gente. Até porque eu, particularmente, tenho certeza de que o doutor vem aqui, ganha uma medalhinha da polícia, deita a falar platitudes e depois se manda, nos deixando com o pepino na mão. Certamente se comportará como Pilatos: vai lavar as mãos e, com certeza, ainda vai esconder o sabonete e jogar a toalha no lixo.

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