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Aprendi o neologismo qualquerismo
enquanto ideologia política ainda na década de 1970. Na definição do cientista
social José de Souza Martins, em seu livro "Do PT das Lutas Sociais ao PT
do Poder", o qualquerismo é um fenômeno que entre nós parece esboçar-se
com a crise política do Partido dos Trabalhadores e o esgotamento da
polarização ideológica por ele representada e preconizada, como se viu a partir
dos movimentos de rua iniciados em 2013.
"Num certo sentido, se assemelha ao movimento do
'qualunquismo', que nasceu na Itália, em 1944, após a queda do fascismo, com o
jornal L'Uomo Qualunque, entre a
Democracia Cristã e o Partido Comunista. Era expressão da saturação do homem
comum e cotidiano, o da maioria silenciosa, da pequena burguesia e de uma parte
da burguesia, com as polarizações ideológicas do momento e expressão de um
certo afã de viver o agora.
"Foi fundado pelo jornalista e dramaturgo Guglielmo Giannini
e convertido em partido político, em 1946, em prol da revolução qualquerista.
Declinou em 1948 (...)"
Simplificando, Qualquerismo —ou Qualunquismo—
define atitudes e comportamentos políticos muito difundidos em países
ocidentais que tem como substrato comum a exaltação do indivíduo e do seu
trabalho, a defesa da família e da propriedade e a promoção da ordem e da lei. No
seu conceito, o papel dos partidos e qualquer atitude de dissenso quanto ao
sistema são considerados por estes movimentos como fenômenos que, provocados
por minorias agressivas e não representativas, perturbam a ordem e a
convivência social, que é a vontade da maioria —daí o surgimento extemporâneo
da violência. As mais importantes encarnações do Qualunquismo se verificaram na
Itália e na França, mas se encontram exemplos dele também nos Estados Unidos,
no Brasil e na Dinamarca.
Como foi dito acima, o movimento que deu
origem ao termo surgiu por conta do semanário "L'uomo qualunque",
fundado em Roma por Guglielmo Giannini. A mais completa exposição de seus vagos
princípios pode ser encontrada num livro do próprio Giannini, "La Folla"
(a multidão), (de 1946). Explorando uma ampla camada de opinião pública chamada
maioria silenciosa, formada de burgueses e despolitizada, e que logo após a
guerra não tinha nenhum partido político que representasse seus interesses,
Giannini logrou fazer eleger 36 parlamentari
para a Constituinte (2 de junho de 1946). Outros grandes êxitos obteve semanas
depois, nas eleições municipais de Roma e, em seguida, em abril de 1947, nas eleições
regionais da Sicília, ilha ao sul da Itália.
A reorganização do partido fascista com a
denominação de Movimento Social Italiano, a penetração da Democracia Cristã no
eleitorado moderado, graças à sua propaganda anticomunista, ao aumento da
presença do partido monárquico e à incapacidade natural da Fronte dell'uomo qualunque (Frente do homem comum), para
organizar-se e estruturar-se, devido à sua base social tipicamente refratária a
qualquer tipo de participação constante, todos estes fatores provocaram sua
rápida decadência.
Na França, o Qualunquismo se apresentou sob as
aparências de um fenômeno coletivo dos pequenos comerciantes e artesãos contra
a política fiscal do Governo. Os temas principais, além da exigência da redução
dos impostos contra o Estado "vampiro", eram a luta contra a
corrupção pública e a imoralidade privada. Nos Estados Unidos, o Qualunquismo
assumiu a forma de maioria silenciosa.
No Brasil, o fenômeno do Qualunquismo se
manifesta com maior virulência nos Estados onde existem partidos de direita
organizados, que se tornam portadores das exigências destas maiorias
silenciosas. Vê-se então quão tênue é a distinção entre o Qualunquismo e o
fascismo e quão urgente é um aprofundamento do problema das atitudes
sócio-políticas das chamadas classes médias. Sua principal liderança surgiu no
final da década de 1970 na figura de Luiz Inácio Lula da Silva, que no início
do século 21 se tornaria presidente da República.

O professor Martins, citado no início deste texto, fornece uma breve definição do ex-presidente agora preso: "Muito antes de Lula da Silva ser quem é e de saber quem seria, a movimentação da Igreja Católica na região operária do ABC, em São Paulo, cujo bispo era dom Jorge Marcos de Oliveira, já projetava e construía o perfil de uma possível liderança sindical e até política de esquerda, anticomunista, baseada na grande tradição conservadora e nos pressupostos críticos e progressistas do personalismo do pensador católico francês Emmanuel Mounier, O dedo do destino ali traçado apontava na direção de um menino da Vila Carioca, que não sabia ser o escolhido. Nesse acaso, Lula já o era antes mesmo de o ser".

O professor Martins, citado no início deste texto, fornece uma breve definição do ex-presidente agora preso: "Muito antes de Lula da Silva ser quem é e de saber quem seria, a movimentação da Igreja Católica na região operária do ABC, em São Paulo, cujo bispo era dom Jorge Marcos de Oliveira, já projetava e construía o perfil de uma possível liderança sindical e até política de esquerda, anticomunista, baseada na grande tradição conservadora e nos pressupostos críticos e progressistas do personalismo do pensador católico francês Emmanuel Mounier, O dedo do destino ali traçado apontava na direção de um menino da Vila Carioca, que não sabia ser o escolhido. Nesse acaso, Lula já o era antes mesmo de o ser".
Qualquerismo é, portanto, a definição política do homem comum,
isto é, a sua participação na vida política da sua cidade, seu estado, seu
país. Porém, nunca é aprofundada nem perene. Em geral segue um ciclo baseado no
messianismo, que consiste na crença em um líder ou guia capaz de reorganizar e
restabelecer a ordem política, econômica e social que os mitos locais descrevem
como originais.
Lula da Silva é um eloquente exemplo desse messianismo. Usou
muitas demandas do brasileiro, notadamente o mais carente, para tornar-se o
grande guia do povo. Tornou-se um líder político insofismável e elegeu-se parlamentar
e presidente da República por duas vezes, além de colocar em seu lugar uma de
suas seguidoras mais fanáticas, Dilma Rousseff, que acaba acabou sendo
derrubada por aquilo que os seus asseclas denominam de golpe político.
Venerado, Lula da Silva deixou subir à cabeça um forte complexo de
potestade e acabou cometendo erros que o levaram a ter o mesmo comportamento
autocrático e cleptocrático de grande parte de seus antecessores e buscou
obstinadamente o poder nacional, o poder internacional e a riqueza, o que
acabou levando-o ao xilindró.
Lula da Silva se diz injustiçado —quando está do nosso lado, a Justiça é justa. Quando está contra nós, a Justiça é injusta, é o pensamento lulopetista —claro, né?!. Mas isso, só Javé sabe. Mas o fato é que está na cadeia, condenado pela Justiça brasileira. Sem os holofotes da política e dos meios de comunicação de massa, logo deverá ser esquecido, pois o homem comum é volúvel e frívolo e logo ungirá um novo messias à brasileira.
Lula da Silva se diz injustiçado —quando está do nosso lado, a Justiça é justa. Quando está contra nós, a Justiça é injusta, é o pensamento lulopetista —claro, né?!. Mas isso, só Javé sabe. Mas o fato é que está na cadeia, condenado pela Justiça brasileira. Sem os holofotes da política e dos meios de comunicação de massa, logo deverá ser esquecido, pois o homem comum é volúvel e frívolo e logo ungirá um novo messias à brasileira.