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Barbara Maria Vallarino Gancia, 59, é jornalista. Foi colunista da "Folha de S.Paulo" até 2016, apresentadora do programa "Saia Justa", da GNT. Filha de Piero Gancia, ex-piloto de corrida de automóveis e primeiro campeão brasileiro de automobilismo. Faz uns dias, em seu perfil no Facebook, a sra. Gancia resolveu trolar a indignação seletiva dos sectários do senador interrompido Aécio Neves e daquilo que ela chama de antipetismo em geral. Num copioso rol de treze pontos, analisa posturas de quem apoiou o impeachment da presidente interrompida Dilma Rousseff, mas que, segundo ela, nunca foi contra a corrupção.
Barbara Maria Vallarino Gancia, 59, é jornalista. Foi colunista da "Folha de S.Paulo" até 2016, apresentadora do programa "Saia Justa", da GNT. Filha de Piero Gancia, ex-piloto de corrida de automóveis e primeiro campeão brasileiro de automobilismo. Faz uns dias, em seu perfil no Facebook, a sra. Gancia resolveu trolar a indignação seletiva dos sectários do senador interrompido Aécio Neves e daquilo que ela chama de antipetismo em geral. Num copioso rol de treze pontos, analisa posturas de quem apoiou o impeachment da presidente interrompida Dilma Rousseff, mas que, segundo ela, nunca foi contra a corrupção.
Para Bárbara Gancia os eleitores do dr. Neves comportam-se
como salafrários: I) "Não sou nem de
esquerda, nem de direita, sou pelo Brasil!" —é de direita; II) "Não
tenho partido, meu partido é o Brasil!" —vota no PSDB; II) "Quero que
a corrupção seja combatida no PT, PSDB ou PQP!" —quer que a corrupção seja
combatida apenas no PT. No perfil pessoal, só tem publicações contra o PT.
Contra o PSDB ou PQP, nada; "IIII) Não sou coxinha nem petralha, sou
brasileiro!" —é coxinha; "Quero meu país livre da corrupção!" —vota
em Alckmin há 15 anos; VI) "PT gosta de sustentar vagabundo!"—perdeu
a escrava doméstica e tá tendo que lavar os pratos; VII) "PT dá casa pra
vagabundo!" —é proprietário de várias casas para alugar e estão
encalhadas; VII) "Estou indignado com tanta corrupção!" —segurou o
cartaz 'Somos milhões de Cunhas'; IX) "Nenhum político presta!" —é
analfabeto político; X) "Tempos bons eram os de FHC!" —é patrão e não
paga direitos trabalhistas nem tira nota fiscal; XI "Não sou de direita,
mas tem que tirar essa vagabunda do poder!" —votou em Aécio e está com o
avatar de Bolsonaro na foto do perfil; XII) "O PT não ensina a pescar e
ainda rouba os rios e o anzol!" —é fã de Lobão, assina a Veja, assiste e
ri com Danilo Gentili, e publica 'pensamentos' de Arnaldo Jabor; XIII) Não bato
panelas contra partido A ou B, mas contra a corrupção!" —tem que bater uma
panela de pressão na própria cabeça.
Não é difícil tomar tento de que o texto é eivado de
sectarismo, preconceito e intolerância lulopetistas. Resumindo, dona Bárbara
tenta demonstrar que quem é contra o ex-presidente Lula da Silva e seu Partido
dos Trabalhadores (PT), que ora no catecismo da pseudo-esquerda, é da
extrema-direita empedernida e a favor da corrupção. Pra ela, ser de direita é
ser a favor da corrupção; como se houvessem corruptos de esquerda.
É bem provável que, entre a esquerda e a direita, melhor
ficar com a esquerda. Esta prega um modo mais generoso de vida, de defesa dos
fracos contra os empoderados —não há, porém, anjos em nenhum dos lados. Mas os
seguidores da sinistra (vocábulo aqui usado como sinônimo de esquerda) têm uma
deficiência estúpida: o exercício de julgar o outro por suas ideias. Para os
lulopetistas e esquerdistas de modo geral, quem não reza pelo seu breviário é
um ser ignominioso. Ideias e
ideologias têm importância extrema. Mas não é apenas isso. Existem canalhas
desabotinados que são esquerdistas de alto coturno. O que torna um indivíduo
melhor não são apenas suas ideias; mas seus sentimentos e seu comportamento,
sobretudo a forma com que trata seus semelhantes.
Desde meados da década de 1990, Pindorama é governada por um
partido dito de esquerda, PSDB e PT um após o outro —este último curiosamente
com um nome e conceito semelhantes aos do Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães, mais conhecido internacionalmente como Partido Nazista.
Muita gente, porém, criou a mistificação de que o PT é o antônimo da ditadura
militar (1964/1985). Não é.
Os dois, PT e ditadura, buscaram reduzir as diferenças
sociais através de programas e projeto, não com mudanças de sistema. Ambos, PT
e ditadura, foram desenvolvimentistas, através de programas de redistribuição
de renda. No governo militar, a mídia foi censurada. O PT buscou a censura
através de um hipócrita "controle social da mídia". O PT e a ditadura
de 1964 foram são estatizantes, os dois apostaram na indústria automobilística
como pilar de desenvolvimento e tiveram seus empresários-modelo, em ambos os
casos financiados pelo BNDES.
Lula da Silva aproveitou o bom momento econômico
internacional e fez o Brasil crescer até 7 ,5% num ano. Semelhante a Emílio
Médici, um general-presidente, levou o país a 10%. Depois de Médici, assim como
depois de Silva, a economia virou. Seus sucessores, Ernesto Geisel e Dilma
Rousseff, tiveram de enfrentar momentos delicados e um país em princípio de
ruptura social. Sarney e Maluf, velhos próceres da Arena/PDS, o partido da
ditadura, foram eleitores entusiasmados do PT —embora Maluf, agora condenado,
reclamasse que o PT estava à sua direita. E por aí vai...
Esquerda e direita no Brasil são gêmeas univitelinas. Mas
nem a esquerda nem a direita aproveitaram seus bons momentos para fazer
reformas estruturais. E o Brasil mais degenerado torna-se como nação. Nas gestditadura
e nas gestão do PT, o país melhorou para milhões de indivíduos; piorou como nação.
Foram medidas paliativas, não curativas. Não mal-intencionadas, mas com vontade
de realizar o melhor, mas que deram em nada por falta de vontade política.
Madame Gancia demonstra sobeja e claramente a filosofia política
do lulopetismo —disseminada por toda a esquerda brasileira— de não admitir
inteligência, cidadania, decência fora do PT. A nação seria muito mais justa e
decente se todos compreendessem que tanto à destra quanto à sinistra há quem
queira que no Brasil todos —absolutamente todos— tenham iguais direitos e
obrigações. Ou seja, todos tenham o favor da cidadania e da justiça.
Atual momento político do Brasil demonstra que há ratos que
decididamente decidiram-se por não abandonar o navio, mesmo que este esteja
naufragando. Imaginam poder encontrar um tesouro submerso. A estupidificação
humana é o momento em que se convence de que a concentração de poder tem
unicamente por fim à manipulação dos cidadãos, pela necessidade de uma pretensa
ordem social de que o ser humano necessita. Não fosse assim, ainda hoje os
humanos seriam neandertais dormindo na areia em cavernas. Quem não chegou a
esta fronteira de pré-loucura jamais identificará a manipulação diária de que é
alvo. E quem sabe manipular a sociedade cria o fanatismo.
É horrível observar que as mesmas pessoas que criticam os
outros sem o menor pudor, sem resquícios de constrangimento, são essas as
mesmas pessoas que não filtram suas palavras, e que são as mais sensíveis
quando recebem críticas. É o ser que despeja no outro aquilo que não suporta
que seja despejado em si próprio. O excesso de crítica é o modo mais eficaz de
exterminar qualquer relacionamento.
Barbara Gancia é uma defensora sectária das chamadas
esquerdas. E escreveu sua lista como uma fanática. Pelo seu texto deduz-se que
nunca se deve discutir com um fanático, até porque eles não são de compreender
e aprofundar os argumentos de uma discussão. Pior, os fanáticos não compreendem
que em qualquer altercação há outras alternativas. Despropositado, o fanatismo
impede o indivíduo de ser racional.
Os fanáticos agem instintivamente, são cegos e não percebem
a realidade. Não aceitam o contraditório, e diante do conflito reagem com
estupidez quando são confrontados. O fanático adora os seres que consideram
superiores, sejam guias, líderes, mistagogos, condutores, mentores, mestres,
santos, deuses. Por isso, é quase impossível encontrar um fanático confesso
—fanáticos nunca admitem seu próprio fanatismo. O fanático é o palhaço da política...
Friedrich Nietzsche observou que "homens convictos são
prisioneiros." Tem um bocado de gente convicta vivendo em prisões virtuais
—são prisioneiros de suas próprias mentes, trancafiadas pelas limitações
impostas por si mesmas, vivendo com a miséria, a ignorância, a ruína. São, não
por burrice ou ignorância, mas por memória congênita, prisioneiros do
julgamento dos seus semelhantes. Temem outras alternativas que não sejam as já analisadas,
testadas e comprovadas. Os criativos constroem caminhos, dão origem a opções, proclamam
a própria independência, enquanto os outros vêm atrás disputando o troféu de
melhores ou piores em reprodução.
Luca Maribondo
Campo Grande | MS | Brasil
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