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Eleitores da terceira maior democracia do mundo, a
Indonésia (segundo o Estadão), foram às urnas na quarta-feira, 9 de abril/2014,
pra determinar não apenas quem vai participar do Legislativo, mas também quais
partidos políticos poderão colocar candidatos na disputa pela Presidência, em eleições em julho próximo. Depois de dez anos sob a liderança do presidente
Susilo Bambang Yudhoyono, muitos indonésios têm pedido mudanças. As eleições
parlamentares darão uma visão inicial se os eleitores optarão por líderes
tradicionais e fortes ou novos rostos com apelo populista.
E o pleito foi mesmo uma guerra. No Jakarta Post, um dos
principais jornais da Indonesia, li que muitos candidatos que não
conseguiram votos suficientes para se eleger tornaram-se deprimidos depois de
supostamente ter perdido tudo o que tinham, incluindo fundos pessoais, em seus
esforços pra obter os votos necessários pra se eleger.
Relatórios recentes, diz o jornal, chegados de todo o
país, têm mostrado que de mais de seis mil candidatos legislativos concorrendo
para cadeiras na Câmara dos Deputados, um punhado diz ter caído em depressão,
exibido tendências maníaco- depressivas e outros disturbios mentais. Há
inclusive registros de suicídios devido às perdas que sofreram. O jornal não
informa numeros (imprensa daqui não é muito diferente da de Mato Grosso do Sul
em matéria de informação).
Um caso: no domingo, 13 de abril, a agência de notícias
Antara informou que Muhammad
Taufiq, 50, candidato a um cargo legislativo,
ficou tão frustrado depois de saber que não tinha obtido votos suficientes para
garantir um lugar, que, companhado por um amigo, foi a uma junta de apuração em
East Java e tomou a força uma urna de funcionários que estavam fazendo a
contagem de votos. Um porta-voz da policia informou que Taufiq e seu amigo
levaram a urna para casa de um parente antes de ser capturado por funcionarios
do Comitê de Supervisão de Eleições, uma especie de justica eleitoral local,
que tem poder de policia em epoca de eleição.
Um dos muitos outros relatos de candidatos frustrados
veio de Java Oriental, onde Miftahul Huda, um candidato legislativo do Partido
Hanura, havia doado uma certa quantia em dinheiro para construir uma mesquita
local. Miftahul foi aos lideres muçulmanos locais exigiu que o templo
devolvesse o seu dinheiro quando descobriu que havia perdido a eleição depois de
receber apenas 29 sufrágios em sua aldeia.
Um relatório trágico veio de Banjar, West Java, onde uma
jovem mãe se enforcou depois de perder nas eleições legislativas. Moradores
encontraram o seu corpo em uma cabana de bambu numa aldeia de West Java.
Terceira maior democracia do mundo, segundo o jornal,
depois da Índia e os EUA, realizou uma eleição legislativa em 9 de abril em que
os eleitores votaram para eleger 560 deputados da Casa Legislativa, bem como
mais de 18.000 vereadores. Ainda segundo o Jakarta Post, os candidatos para os
conselhos locais gastaram pelo menos 100 milhões de rupias indonesias (quase de
20 mil reais) cada um em campanha, vendendo a maioria de seus ativos e drenando
as suas poupanças pessoais.
Tika Bisono, um psicólogo muito conhecido por estas
bandas, disse ao jornal que a depressão e outros problemas de saúde mental
entre os candidatos derrotados durante as eleições legislativas foi uma questão
previsível que ocorreu devido à falta de critérios claros de partidos
políticos. "Então —explica Bisono—, verifica-se que todos devem preparar
uma enorme quantidade de dinheiro para investir (como candidato legislativo],
mas quando falham, é muito possível que se tornem deprimidos". Ela disse
que os partidos políticos devem ser responsáveis pela assistência aos seus
candidatos, incluindo lidar com seus problemas econômico-financeiros caso não
sejam eleitos .
De acordo com Tika Bikono, alguns candidatos deprimidos
não tinham se preparado adequadamente antes da campanha, o que significa que
arriscaram todas as suas economias para ganhar assentos no legislativo. No
entanto, o psicologo expressou sua esperança de que os membros da famílias dos
candidatos os apoiem durante o processo de cicatrização.
Enquanto isso, o analista político do Instituto de
Ciências da Indonésia (Lipi) , Ikrar Nusa Bhakti, disse que alguns dos
candidatos que falharam não tinham qualquer experiência de trabalho para as
pessoas em suas áreas. "Esses candidatos são tão apaixonados, mas eles
nunca tiveram (...) experiência de trabalho na area, alem de não conhecer os
seus constituintes, caso contrário teriam ficado mais conhecidos e teria ganho
votos", disse. Ele disse ainda que os partidos políticos devem corrigir
seus sistemas de recrutamento, incluindo analises das redes sociais de seus
candidatos, capacidade financeira e registros. "As pessoas devem ser
realistas quando decidem se candidatar a cargos legislativos", acrescentou
.
De acordo com um dados de 2010 do Ministério da Saúde,
citado pela tribunnews.com, a eleição nacional em 2009 resultou em 7376 o número total de candidatos legislativos que
foram diagnosticados com problemas de saúde mental.
Jojo Rohi, vice-secretário-geral do Comitê de
Acompanhamento Eleitoral Independente (KIPP), disse que, com base na eleição de
2009, a Indonésia iria ver uma tendência semelhante após as eleições
legislativas de 2014, devido ao preço elevado salário de candidatos
legislativos. "Nós temos que desafiar todos os líderes partidários para
alertar o público para não votar em candidatos que prometem dar dinheiro",
disse Jojo, também citado por tribunnews.com.
No Brasil também é comum os candidatos derrotados em
eleições cairem em depressão. Mas em terras tupiniquins não chega a ser um caso
de saúde pública nem vira assunto da mídia nacional nem das regionais. Trabalhando
na imprensa por longos anos, observei inúmeros casos de depressão pós
eleitoral, alguns muito graves.
Procura-se um culpado. Esta é a primeira reação da
maioria dos candidatos que ficam decepcionados com o seu desempenho eleitoral. Lamúrias,
lamentações, crises, estresse, tristeza profunda, enfim, o candidato entra em
uma verdadeira depressão pós-eleitoral. As avaliações são sempre repletas das
mais estapafúrdias justificativas para o infortúnio vindo das urnas. Poucos são
capazes de admitir: a culpa é minha".
Argumento é o que não falta: compra de votos, cooptação
de cabo eleitorais, poder econômico dos adversários, falsificação de títulos
eleitorais, traição e até erro na hora da apuração dos votos (exemplo: o
candidato teria dez mil votos, mas na hora aparece apenas mil), no Brasil feita
por máquinas de votar chamadas de urna eletrônica (não é urna, mas o nome
ficou). São poucas as avaliações críticas e autocríticas —os candidatos sempre
fazem autocrítica a favor, pois da contrária os amigos se encarregam. É sempre
mais fácil (e menos traumático) colocar a culpa nos outros.
Evidente que há casos de fraudes graves em campanhas
eleitorais, eleições e apurações (nossas maquinetas de votar não são tão
confiáveis assim), mas em geral o candidato não admite que a sua não-eleição
deve-se a um fato básico e simples: ausência de votos suficientes pra garantir
a vitória. Políticos experientes, que já ganharam e perderam eleições, estão
sempre lembrando: obter votos é coisa muito difícil.
Nada a ver. Angústicas, crises, decepção, depressão, além
de não resolverem o problema, acabam baixando o moral dos militantes, além de provocar
má impressão do candidato junto ao eleitor. Nesse sentido, a receita pra
superar os problemas da derrota eleitoral vem do poeta e compositor Paulo
Vazonlini na canção "Volta por Cima", tornada famosa por Noite
Ilustrada na década de 1960: "Reconhece a queda / E não desanima / Levanta,
sacode a poeira / E dá a volta por cima"...
Luca Maribondoquarta-feira, 15/mar./2014Umalas | Bali | Indonésia
Um comentário:
Entre outros trechos, gostei também deste: Terceira maior democracia do mundo, segundo o jornal, depois da Índia e os EUA, realizou uma eleição legislativa em 9 de abril em que os eleitores votaram para eleger 560 deputados da Casa Legislativa, bem como mais de 18.000 vereadores. Ainda segundo o Jakarta Post, os candidatos para os conselhos locais gastaram pelo menos 100 milhões de rupias indonesias (quase de 20 mil reais) cada um em campanha, vendendo a maioria de seus ativos e drenando as suas poupanças pessoais."
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