quarta-feira, 5 de junho de 2013

[Como qualquer brasileiro

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Mais do que uma questão jurídica demarcação de terras um problema político. O procurador da República Emerson Siqueira concorda: “falta vontade política para solucionar a questão indígena”.  Para Siqueira muitas são as alternativas para minimizar os efeitos do conflito fundiário em Mato Grosso do Sul, inclusive reparação por titulação errônea de terras. A omissão da União, porém, em enfrentar questão só tem agravado a tensão.

Uma nota do Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul esclarece que “os conflitos fundiários em Mato Grosso do Sul são históricos e resultam de uma série de ações e omissões do Estado brasileiro. Para se entender a tensão do campo, é preciso antes analisar a história de ocupação do Estado, que resultou no esbulho de comunidades indígenas de seus territórios tradicionais e na concessão de títulos públicos a particulares”.

Tudo começou no final da Guerra do Paraguai (1870), quando houve a anexação de áreas que não integravam o território brasileiro. Para garantir a soberania do país na região, a União fomentou a ida de colonos para o Estado de Mato Grosso, propagando a riqueza do solo e a certeza de um pedaço de terra aos colonizadores. Mas eram terras ocupadas por comunidades indígenas, que foram tituladas em sua grande maioria pelo Estado de Mato Grosso e, em alguns casos, pela União a particulares


Em consequência, os índios que moravam nessas áreas foram confinados em reservas indígenas, criadas no século XX, sem respeitar as diferenças étnicas e grupais. Mais: os índios eram praticamente considerados apátridas, não eram nem brasileiros nem paraguaios. Sem defesa, eles aceitaram a situação, mas não sem muita animosidade. Essas reservas constituem, atualmente, o único espaço de terra de que os índios dispõem para viver, cultivar, preservar recursos que garantam seu bem-estar e de sua reprodução física e cultural.

Diz a nota do MPF que, “se, de um lado, os índios lutam pelo reconhecimento e retorno ao território tradicional de que foram expulsos, por outro, proprietários de terra que possuem títulos de boa-fé, outorgados pelo estado brasileiro, não querem perder o valor da ‘terra nua’ ao terem suas áreas identificadas como tradicionais”.

Com a colonização e com outras atitudes, o Estado brasileiro fazia propaganda da marcha para o oeste, ao mesmo tempo em que reduzia a importância dos povos indígenas na questão. Para essa propaganda, contou inclusive com o jogo e o uso da palavra e da língua como apoio político. Na década de 1950, por exemplo, os antropólogos deram a sua mãozinha para prejudicar os indígenas.

Naquela época, a grafia dos etnônimos brasílicos foi estabelecida na 1ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada no Rio de Janeiro em novembro de 1953; segundo esta, os substantivos e adjetivos são invariáveis e grafam-se, no caso dos primeiros, com inicial maiúscula: os Apinayé, os Borôro, a cerâmica kadiwéu etc. Era uma forma velada de discriminar os índios através da palavra. Era como dizer, vocês são brasileiros iguais a nós, mas não tão brasileiros assim.

É a língua a principal forma de união e de integração de um povo, de uma nação. Sem língua, não há comunicação, não há cultura. Os índios brasileiros são, de origem, analfabetos. Têm, portanto, de aceitar alfabeto, língua, linguística, gramática, que lhes são impostos. Ao terem a gramática dos seus etnônimos diferentes dos outros povos do mundo, estão sendo discriminados. Por que ninguém fala os Árabe, os Celta, os Dakota, os Basco etc?

Dia desses escrevi no Facebook que existem muitas motivações para essa questão dos índios no Brasil, mas a maior delas é essa discriminação. E não estou falando da discriminação dos agressores, dos contrários aos indígenas. Estou falando dos defensores, que os discriminam de uma forma velada, disfarçada. Não vou me alongar sobre o assunto aqui, mas os defensores o fazem no momento que os chamam de índios ou de indígenas (palavras que nada têm a ver uma com a outras, a não ser o fato de iniciarem com as mesmas sílabas)

Nós, os povos de origem caucasiana que vivemos no Brasil, os discriminamos quando escrevemos os nomes de suas tribos e etnias com iniciais maiúsculas, com letras de um estranho alfabeto fonético, que fala em caiowa em vez de caiuá, mas não altera o guarani. Isso é uma forma política e linguística de discriminar.

É como dizer:"índio, você é igual, mas eu sou mais igual do que você"... A propósito. Índio é relativo à Índia, Ásia, ou o que é seu natural ou habitante; hindu, índio, índu. Indígena é relativo a população autóctone de um país ou que neste se estabeleceu anteriormente a um processo colonizado, isto é, o contrário de alienígena, ponto final. O resto é uso político indecente da palavra. Os índios moram no Brasil, a língua falada no Brasil é o português. Seus nomes devem ser grafados como os de quaisquer brasileiros. 

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