Adhemar de Barros foi uma dessas figuraças da política brasileira até o final de década de 1960 —ele morreu em 1969. Barros foi o criador de um slogan que marcou as políticas paulista e paulistana: "São Paulo não pode parar", usado por políticos de todas as cepas e que tempos depois seria revivido por Paulo Maluf, um dos mais ferrenhos seguidores de Barros.
Este slogan tornou-se o ideal de inúmeros políticos de
São Paulo, a tal ponto que, em 1973, o então prefeito paulistano, e
ex-secretário de obras de Ademar de Barros, José Carlos de Figueiredo Ferraz,
foi exonerado pelo governador Laudo Natel por ter dito que São Paulo tinha de
parar de crescer —o tempo mostrou que Figueiredo Ferraz tinha razão.
Médico por formação, Adhemar de Barros foi político
empreendedor e realizador de obras monumentais, como o Hospital das Clínicas e
a Via Anchieta. Como homem público,
pregava a defesa dos interesses das camadas menos privilegiadas da população e,
por meio de ações paternalistas, angariava apoio popular. Um populista de marca
maior.
A fama de administrador ousado e dinâmico cresceu, no
entanto, paralelamente às denúncias de corrupção em seus governos. Essas
acusações apontavam para a cobrança de propina e o desvio sistemático de dinheiro
público. Apesar da defesa que promoveu nos tribunais e junto à opinião pública,
Adhemar jamais conseguiu dissociar sua reputação como empreendedor da pecha de
peculatário, comportamento sintetizado na frase "rouba, mas faz".
Este slogan de campanha eleitoral, o mais famoso de
Ademar de Barros, claro que não assumido abertamente, o "rouba, mas
faz" —que, apesar de ser uma frase cunhada por seu adversário Paulo Duarte
(nada ver com o deputado estadual petista)— acabou por ser o slogan da sua
campanha eleitoral para prefeito de São Paulo, em 1957. Ele se promoveu por
conta das inúmeras acusações de corrupção.
Barros foi acusado também de desvio de verbas públicas
nos períodos em que era chefe do executivo paulista. E quanto a desvio de
verbas, seus adversários diziam que existia a "Caixinha do Adhemar"
para financiar suas campanhas eleitorais. Em reposta à crítica, os ademaristas
tinham um refrão muito popular, criado por dois compositores famosos na época:
Herivelto Martins e Benedito Lacerda:
Quem não conhece?
Quem nunca ouviu
falar?
Na famosa
'caixinha' do Adhemar.
Que deu livros, deu
remédios, deu estradas.
Caixinha
abençoada!"
Folder da campanha do com o slogan ademarista |
Mas se o gentil leitor pensa que não há mais quem pense
em seguir o estilo deixa-que-eu-chuto do dr. Adhemar, engana-se. Surge agora na
capital de Mato Grosso do Sul, 55 anos depois da campanha do Dr. Adhemar de
Barros, um candidato que parece ter uma grande admiração pelo político
paulista. As peças de propaganda eleitoral do candidato do PMDB à Prefeitura de
Campo Grande Edson Giroto são encimadas pela frase grandiloquente "Campo
Grande não pode parar". Pode até ser uma jogada dos marqueteiros da
campanha, mas que revela um banzo ademarista, lá isso revela.
Ora viva! É o estilo Adhemar de Barros de governar
redivivo. O material gráfico, com foto tão photoshopada que o tornou semelhante
a uma das estátuas do Museu de Cera de Madame Tussauds, Giroto, paulista como
Adhemar de Barros, é daqueles que pensa que a Morenópolis não deve mesmo ter
freios. "Vamos acelerar o ritmo das realizações, porque a nossa Capital
não pode parar", profetiza ele enfatizando sua admiração pelo estilo
Barros.
Olhando à distância, o morenopolitano torce
fervorosamente para que o Senhor Edson Giroto não adote o outro slogan do seu
ídolo Adhemar de Barros, cujo espírito deve estar sobrevoando a Afonso Pena.
"Rouba mas faz" de fato não iria pegar muito bem. Já foi dito que na
política nada se perde e nada se transforma —e a gente espera que não se
corrompa.
Luca Maribondo
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