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Os bordéis
têm florescido em todas as sociedades desde o início da História da humanidade
—há 6.300 anos aproximadamente, com os primórdios da civilização sumeriana. Não
é por acaso que a prostituição é chamada de “a mais antiga profissão do mundo”,
o que nos leva ao fato que a segunda profissão do mundo é a dos escritores
sobre prostituição: desde que nasceu a primeira rameira surgiu logo atrás
alguém documentando sua vida.
Mulheres
das mais distintas classes têm dedicado a vida ao prazer sexual, desde a Grécia
clássica até as cortigiane di candela
da Itália do século 15; desde as kehbebs
muçulmanas até as geishas japonesas
de hoje. Em português há grande número de denominações, do comportado garota de
programa ao debochado puta, passando por cortesã, dama, horizontal, madame,
marafa, marafona, messalina, moça-dama, mulher-dama, mundana, murixaba, pécora,
piranha, prostituta, quenga, rameira, rapariga, vadia, vulgívaga, zabaneira e
outros.
O termo
bordel surgiu no século 10, derivado de bordello,
cabana, choça e, depois, antro de devassidão. Antes, havia directorium (talvez tenham até denominado as antigas pastas dos
computadores) e lupanarium (o lugar
das lobas, como as prostituas foram chamadas em determinadas épocas). Depois,
variou em português ao longo do tempo e conforme a região: bordel, prostíbulo,
alcouce, lupanar, serralho, puteiro, açougue, casa de mulheres, covil, curro,
casa de tolerância, inferninho, crefe, brega, castelo, liceu, conventilho,
cabaré...
Qualquer
que seja o termo utilizado, porém, o que confere um interesse extraordinário ao
bordel é o modo como ele reflete a sociedade em que funciona. Tanto quanto à música,
a pintura, a fotografia, a literatura, mais recentemente o cinema, todas as
artes, enfim — através da sua arquitetura, sua decoração, seus empregados, suas
comidas e bebidas — retrata a cultura da época. E, obviamente, antes de mais
nada, a sociedade e a política onde está inserto.
A Internet,
com toda a sua modernidade tecnológica, não ficou imune à sina dos locais de
prostituição. Os lupanares eletrônicos e os sites de pornografia estão entre os
mais acessados na Rede Mundial de Computadores. A prostituição cibernética
cresce diariamente em proporções geométricas: quem precisa de uma dessas moças
de vida airada basta abrir o computador e buscar nos sites.
A história
do bordel em Mato Grosso do Sul, se reveste de uma aura toda especial, que
envolve a marginalidade, os políticos notórios, revolucionários desgarrados,
contrabandistas, e até um certo mistério, possui uma aura toda especial, talvez
por ser área de fronteira. Nele encontramos a prostituta que se torna
imperatriz e a imperatriz que se torna prostituta. E também as rainhas da
ribalta que desejam possuir suas próprias casas de tolerância, cortesãs que
atingem a imortalidade e meretrizes que determinam o curso da política de
determinada cidade ou região. Neles há cocotes ninfomaníacas e filles de joie lésbicas.
Entre os
cáftens e cafetinas da nossa história há ladrões exímios, chacinadores, jagunços
e suicidas aos montes. Trata-se de um bando muito variado, de que fazem parte
os perversos e malvados, virtuosos e nobres — exatamente como no resto da
humanidade. Quanto aos proprietários, patrocinadores e protetores dos bordéis,
estes apresentam um cortejo notável: banqueiros e empresários, capitalistas
loucos e assassinos amáveis, astros do cinema e monges, degoladores e reis,
fidalgos arrojados e patifes bastardos, charlatões e pastores evangélicos,
assaltantes e janotas, alcaiotes e príncipes, traficantes e aristocratas
empobrecidos, santos e espiões, sádicos e sodomitas, filósofos e degenerados,
padres pecaminosos e excomungados, pintores malucos, políticos respeitáveis e
gênios.
Com uma
turma dessas moldando a história do bordel, não admira que a instituição não
exista na maior parte das sociedades primitivas. Trata-se essencialmente de um
produto da civilização.
Como em
quase todas as cidades do mundo, antes os bordéis eram segregados. Muitos deles
ficavam restritos a guetos em que a maioria dos habitantes eram as meretrizes,
suas famílias, e os trabalhadores da área, garçons, leões-de-chácara (hoje
chamados de seguranças), cozinheiros, cafetões, cafetinas, parteiras e outros.
As casas eram identificadas à noite por lâmpadas vermelhas em suas portas.
Tinham nomes insólitos, Casa do Portão Rosa, Boate da Tia Zica, Ponto Azul ou
algo parecido.
Em Campo
Grande, hoje esse modelo não mais existe. Os lupanares se espalharam pela
cidade e estão nos bairros das “zelites”, na periferia –existe até
condomínios-puteiros em edifícios decadentes do centro da cidade—, tão
disfarçados que são facilmente confundidos com as residências mais caturras e
conservadoras. Luzes vermelhas, nem pensar. Os frequentadores são apenas os
iniciados, esotéricos, que só participam da esbórnia se são convidados ou
indicados pelos frequentadores mais expertos. E as moças? Ora, as moças podem
ser qualquer uma, a garota que caminha de shortinho pela sua calçada ou a
menina loirinha sentada à ponta do balcão.
Se mudou a
forma dos bordéis se espalharem pela cidade, sem segregação ou ruas e bairros isolados,
suas funções de casas da alegria continuam as mesmas: homens procurando diversão
com sexo fácil e descompromissado em mulheres transformadas em objetos de consumo
de massa.
2 comentários:
Só penso que você deixou de mencionar o maior, mais organizado e mais caro lupanar do país, quiçá do mundo: o congresso nacional.
Lá as senhoras putas e os senhores putos se refestelam e se lambuzam de prazer pelas entranhas escancaradas da população que num coito consentido, se satisfaz por ver o prazer alheio.
Pensando bem, não, lá não é um puteiro. Se fosse, nós, fodidos, seríamos remunerados.
Com essa liberdade sexual deslavada, ainda existe as ditas casas de tolerância?!!Quem precisa?
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