terça-feira, 4 de outubro de 2011

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Pedro Ortale, músico e compositor nascido no interior de São Paulo, hoje vivendo em Brasília depois de passar alguns anos em Campo Grande, passou recentemente pela Morenópolis e não gostou do que viu.

E tascou lá na sua página no Facebook: “estive em Campo Grande semana passada. Fazia pouco mais de três meses que não passava por lá. Minha sensação é que a cidade está, a cada dia que passa, se tornando uma cidade fast food. Sem cara, sem identidade, sem gosto. Ou, com gosto universalizante”.

E continua Ortale: “a cidade, a meu ver, está a cara dos administradores que vem monopolizando o poder no Estado e, evidentemente, em Campo Grande. Uma oligarquia conservadora e sem criatividade. Fiquei triste por ver que o que sobra são motoristas pouco educados trafegando pelas avenidas que encobrem córregos, trilhos e deslocam feiras. A história da cidade pouco importa! O que vale é o asfalto que financia a mediocridade e as eleições”.

Claro que a reflexão do Pedro Ortale provocou uma penca de comentários no Facebook, quase todas a favor do músico. O videomaker Cândido da Fonseca, por exemplo, argumenta que “a proximidade com Brasília corrompe tudo ao redor... Embora nossa contribuição tenha sido grande em todo o espectro político. Ainda bem que o (Oscar) Nyemeyer disse que se soubesse disso não faria uma cidade em forma de avião, mas de camburão (?). O povo deu a chance de mudar e continua esperando, mas acabaram-se ideologias e estão assassinando a esperança. A inocência é morta. Difícil ser feliz.

Ivana Pereira é conformista: “Campo Grande está assim mesmo, mas nossas raízes ainda estão por lá, num passado que não existe mais, o pior é isso, e assim ficamos meio perdidos e cidadãos do mundo. O melhor é o mato mesmo”. Já
Marly Araújo elogia: “Excelente definição do que acontece por aqui, a cidade está perdida”. Ortale retruca: “o pior é que adoro Campo Grande! Por isso minha tristeza em acompanhar a cidade sendo dilapidada em seus símbolos culturais”.

“Por aqui o modelo é o mesmo Pedrinho... Pois você acredita que estão ‘destruindo’ os canteiros centrais da Afonso Pena... Desfazendo assim a identidade histórica e cultural da nossa Campo Grande... É muito triste ver o asfalto tomar conta de tudo e petrificar em preto a imagem que caracteriza a nossa cidade”, reclama Maria Lúcia Teixeira.

Flavia Vieira também reclama:  “ mais triste é a destruição do parque (das Nações Indígenas) para a construção de um aquário. Uma cidade deste tamanho! Destruir um parque maravilhoso com tantos outros lugares para fazer este aquário?” Ortale não se faz de rogado e responde: “Flávia, eu me pergunto: onde está o contraponto na politica local?’

O arquiteto Ângelo Arruda também dá pitaco: “Pedro, a sua reflexão é verdadeira, mas somos vozes solitárias nessa cidade onde o sertanejo e o bailão imperam; onde a Câmara de Vereadores não tem serventia para nenhum movimento; onde a televisão abre as pernas para apresentadores políticos medíocres e demagogos; onde a cultura popular míngua e onde os partidos, todos os partidos, comungam dessa burrice de se envolver com as emendas parlamentares e deixam de lado a sociedade. Morar em CG ‘tá difícil pra cacete; só sobram restos, como já disse Guilherme Arantes. Morar aqui era um enorme orgulho pra mim. Mas não sou vesgo em achar que isso é culpa dos Trad e companhia não: é culpa nossa também.

“Ângelo, imagino o tamanho da sua tristeza! Um arquiteto comprometido com a valorização dos patrimônios culturais.... Bem, pelo menos temos alguns espaços democráticos para colocar nossa indignação. Concordo com você: é, também, culpa nossa. Permitimos!”

Li tudo isso e fiquei cá pensando com meus zíperes: Arruda foi o único a colocar o dedo na ferida, ainda assim de leve. Campo Grande é isso tudo de ruim que estão mesmo falando —ou até pior. Mas é o que é não por culpa dos políticos e governantes, mas por responsabilidade dos morenopolitanos. Afinal, quem coloca os políticos onde estão é o povo. Cada povo tem os governantes que merece.

Um comentário:

Valdir DM disse...

Bom, Luca, não fico histérico com a famosa frase do Pelé, de que "brasileiro não sabe votar". Nesse caso, e em muitos outros (mas não em todos, claro), Pelé tinha e tem razão. Brasileiro, quando vota certo, é por descuido.

CG é a cidade dos "desastres" construídos (para propiciar caríssimas obras "de emergência"). Onde se constrói um Aquário do Pantanal... a 300 quilômetros do Pantanal (deveria se chamar AFA - Aquário do Footing da Afonso). Onde as Universidades são de fato Universaldeias, com todo mundo, de professor a aluno, envolvido na busca de títulos e na exconjuração do conhecimento. Onde o sonho coletivo é morar num pombal com grife, pagando por ele 5 vezes o que vale. Onde os crimes da "administração" são todos atribuídos ao Mordomo (vide caso das intoxicação dos 180 escolares, debitada a... merendeiras). Onde (nos parques e adjacências) pretensos atletas se exercitam, não nas calçadas em boas condições preparadas para eles, mas no asfalto, desafiando os automóveis... e ainda ganhando aviso de trânsito para os motoristas tomarem cuidado com eles...

Uma cidade patética. Mas parece que as outras não são muito melhores. Talvez devamos conferir as da Argentina...