sábado, 2 de julho de 2011

Hacker ou cracker?

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Por conta das invasões de sites —principalmente do Governo— que aconteceram há alguns dias, a palavra e o conceito de hacker bombaram. Toda a mídia passou a falar nos piratas dos mares cibernéticos, contando suas rocambolescas aventuras pelo mundo virtual: eles são os autores das mais enredadas vilanias com o uso de computadores. Não sei se por maldade ou por ignorância, os jornalistas que cobrem suas venturas e desventuras ao chafurdar pelos charcos do ciberespaço os tratam de hacker. Mas hackers eles não são. Pode crer: hacker, ou pirata de computador, não é criminoso implacável como se pensa e como insistem os jornalistas, que quase nunca aprofundam seus pensamentos e informações.

Exemplo disso é a história dos piratas tradicionais, aqueles dos "sete mares". Um pirata, antes de ser bom ou mau, precisava ter conhecimentos monumentais e profundos nas mais diversas áreas do saber. Enquanto outros olhavam para os céus e viam apenas estrelas, os piratas viam mais. Achavam seu caminho num mapa invisível. Seguindo os ventos da coragem e o prazer da descoberta, esses homens andaram por todo o planeta, nem sempre atuando como bandidos.

“O hacker é alguém que estuda a ciência dos computadores com o objetivo de ultrapassar os manuais, ir além dos ensinamentos dos livros e escolas. Assim, ele pretende explorar ao máximo todos os recursos que a informática pode oferecer. Hacker é o constante e insaciável estudante das ciências da computação. No mundo digital, todos os hackers têm um objetivo comum: o de conquistar a liberdade tecnológica. O hacker não tem a vontade capitalista, ou seja, ele não está em busca de dinheiro e sim, de reconhecimento", define Wayne Rocha, autor de dois livros sobre Linux, um sucedâneo do Windows de grande sucesso, criado por hackers —os sistemas operacionais baseados em Linux, por conta disso, são quase imunes a vírus.
Hackers e crackers

Hacker é simplesmente o sujeito que conhece os sistemas operacionais (e os computadores) como a palma da mão e está sempre fuçando essas maquinetas. Uma vez que para entrar num computador sem autorização são necessários grandes conhecimentos (ainda que não seja necessariamente essa a realidade), rapidamente o termo se difundiu com um novo significado: o de intruso ou violador que acessa o controle de uma máquina em rede sem ter recebido permissão para isso.

Mas existe o hacker do mal: o cracker (assim como há o pirata do mal). Ao contrário dos hackers, os crackers são aqueles que realmente têm intenções malévolas. “As semelhanças entre os dois são muitas e é por isso que ocorre muita confusão na hora de utilizar a nomenclatura", afirma Rocha. "O cracker é um irresponsável que não mede conseqüências e ataca sem piedade", completa Thiago Zaninotti, consultor em segurança de informações. O hacker é movido exclusivamente pelo desafio intelectual de romper as defesas de um sistema operacional —e quando consegue, encerra sua batalha.

o cracker, é aquele que inicia sua batalha exatamente quando consegue romper as defesas do computador, tendo em vista a obtenção de benefícios, sempre prejudicando alguém. Assim, a mesma descoberta que pode levar a salvar vidas, também pode eliminá-las. A constatação de uma falha tecnológica pode ser feita por alguém interessado em solucionar a questão de segurança, como também por alguém com objetivos de espionagem, de vandalismo ou coisa pior.

Como em qualquer área em que haja seres humanos, os atos criminosos na Internet são inevitáveis, e fazem parte do cotidiano digital. Muitas vezes são difíceis, para não dizer impossíveis, de serem solucionados. Os crackers conseguem ficar incógnitos e raramente deixam “impressão digitalou outras marcas que possam ser rastreadas. As investigações no mundo virtual são um problema real e as leis não são capazes de garantir segurança e privacidade ao mesmo tempo. No Brasil nem há leis pra isso, embora tenhamos leis até pra respirar.

As autoridades de todos os países estão confusas, porque não existe legislação adequada (quando existe alguma legislação) para este tipo de crime. Leis estão sendo elaboradas para penalizar os crimes cibernéticos, mas estas mudanças na legislação não têm a velocidade da Internet, e tornam-se ultrapassadas e ineficientes rapidamente. Bem como, do ponto de vista tecnológico, não existe conhecimento para que estas autoridades sejam capazes de definir o futuro virtual da humanidade.

Políticos, legisladores e empresários do mundo todo vivem discutindo meios para eliminar as ameaças. Os responsáveis pela construção e crescimento da rede estão em debate sobre o envolvimento ou não nesta problemática. Eles não acreditam que tenham que fazer o papel de polícia, e muito menos de políticos. Na verdade, não se consideram responsáveis pela repressão e não estão dispostos em trabalhar contra a liberdade on-line.

Por sua vez, os políticos, geralmente, não tem conhecimento técnico para poder legislar sobre os crimes cibernéticos. A policia não está preparada para absorver essa tecnologia a curto e médio prazos, e acompanhar globalmente as rápidas mudanças que temos presenciado. No Brasil, como sempre, as coisas são muito piores. Além da incapacidade dos políticos e dos policiais para tratar desse assunto, não se conta, ainda, com um grupo coeso de técnicos militantes e de organizações ativas para resolver os muitos problemas que existem na Internet. Neste caso, a diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja mas não bota o ovo.

A Internet brasileira chegou de forma pronta, e seu desenvolvimento se deu instantaneamente, aproveitando as soluções criadas no exterior, principalmente nos EUA. Desta forma, o crescimento da rede se deu de cima para baixo, acarretando um distanciamento das comunidades virtuais, que ajudaram a difundir a Internet nos outros países. Este é o motivo pelo qual não existe nenhuma organização da sociedade estabelecida visando diminuir as ingerências dos bandidos que sempre surgem em todas as áreas.

Essas impossibilidades deixam o sistema virtual indefeso para uma infinidade de crimes. Estão todos preocupados com os ataques dos vândalos contra o patrimônio das empresas ou do governo. Mas a recíproca também é verdadeira. Isto é, preocupados quando as empresas invadem e corrompem a privacidade dos indivíduos. Os legisladores, portanto, não podem simplesmente ignorar esta situação, e privilegiar um lado em detrimento do outro, apesar da influencia do poder econômico e de outros interesses escusos.

A saber, a nossa imprensa, nossos legisladores, e pessoas ligadas a Internet comentam exaustivamente os ataques dos supostos crackers, mas não dão o espaço necessário para discutir a invasão da privacidade do cidadão. Parece que ninguém se importa realmente com este assunto. O que não deixa de ser verdade, mas o desinteresse é obra do desconhecimento.

Esta questão terá um fim adequado para todos quando os políticos e a mídia tiverem um olhar aberto para todas as nuances dos problemas existentes, privilegiando não apenas a defesa aos ataques contras empresas e instituições, mas protegendo o cidadão não individualmente, mas também como membro da comunidade virtual. É preciso ter sempre na cabeça que foi do underground do mundo da tecnologia que surgiram grandes marcas, serviços e softwares que estão transformando a rotina de todos e apontando o modo como humanidade viverá neste novo século.

No caso específico dos "hackers"  das invasões recentes, todos ficaram indignados —e com razãocom seus atos. Mas todos os que sofreram com seus ataques atacam o cidadão de outras maneirastambém usando alta tecnologia—, cobrando taxas escorchantes, fazendo os maiores rolos em suas operações y otras cositas más. Assim, quando ouvir falar em bancos, empresas, geradoras de energia elétrica e assaltos (por bandidos comuns ou crackers), pergunte logo: de fora pra dentro ou de dentro pra fora? No mais, fica por conta da ignorância de alguns profissionais da mídia o desvirtuamento de mais uma palavra, de mais um conceito. Aliás, há hoje na mídia uma grande onda de difusão da ignorância.

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