quinta-feira, 23 de junho de 2011

[Escolhendo amigos e inimigos

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Na Avenida Afonso Pena, onde fica o Paço Municipal, até a previsão do tempo anda sujeita a chuvas e trovoadas, com cumulonimbus, nuvens associadas a tempestades fortes com raios e trovões. No paço de Nelsinho Trad, prefeito da mui honrada Morenópolis, o tempo fechou e o céu ficou cinzento como o asfalto sempre mal cuidado da cidade.

Ventos de quadrante eleitoral fracos, com rajadas a favor de inimigos. Furacão de intenções de votos se deslocando para o território adversário, baixa umidade na capacidade de trabalho dos secretários e assessores, tempestade de insultos e vitupérios desabando sobre amigos e inimigos, ventos frios de norte a sul enregelando o vocabulário dos discursos.

E eis o Trad prefeito ameaçando defenestrar parentes, amigos e assessores, deixando-os ao relento no tempo ruim. Todos apavorados com o destrambelhamento verbal do chefe do executivo morenopolitano. O que aconteceu afinal?

A história é relativamente simples: o prefeito de Campo Grande deu uma chacoalhada no seu secretariado na sexta-feira passada, 17 de junho. Trad reuniu os secretários de sua gestão e os fez assinarem cartas de demissão. O prefeito tomou a decisão por estar insatisfeito com o resultado da gestão em seu governo e com disputas políticas na base aliada.

Base aliada esta que reúne dezenove partidos. Mas quem pode administrar uma coligação política tão ampla? Mais fácil gerir um bolicho de beira de estrada. Deu que ultimamente Trad ficou insatisfeito com o comportamento dos partidos. Alguns estariam articulando o lançamento de candidaturas próprias nas eleições municipais de 2012, como o PSDB, tradicional aliado.

Trad não anda nada satisfeito com o andamento de obras na cidade, que não começaram progredir, como na região do Shopping Campo Grande, os tapa buracos e no córrego Anhanduí, na avenida Ernesto Geisel. Para o prefeito, isto ocorre porque os seus secretários são uma caterva de incompetentes e inaptos.

Se a história parece simples, os resultados porém são mais complexos, demonstrando como será a disputa pela Prefeitura de Campo Grande em 2012. Os partidos dito aliados andam muito excitados diante da proximidade do veredito eleitoral do ano que vem, todos assanhados com a possibilidade de ganhar um fatia do bolo do possível vencedor das próximas eleições, sem contar aqueles que são candidatos a prefeito.

Por isso, todos trabalham febrilmente em órgãos como a Secretaria de Sacanagens, Departamento de Boatos, Fundação de Maracutaias, Divisão de Difamações, Central de Sujeiras em Geral, todos tendo como alvo os pré-candidatos líderes das pesquisas que ninguém viu —são divulgadas apenas nos bastidores.

E as reuniões, sempre a portas fechadas, se sucedem em tempo integral, num clima de absoluto desentendimento. Por isso, como nunca antes na história deste país, um chefe de executivo mandou toda a sua turma de auxiliares ir catar coquinho.

Chovendo cães e gatos no paço
Trad, o prefeito, colocou todo o seu futuro eleitoral e sua filosofia política no extermínio da equipe de secretários e assessores. Na verdade, porém, deveria apenas acabar com as lideranças da base aliada. Um líder político que administra uma grande cidade como Campo Grande deveria saber que certos inimigos são tão patifes, que mais constrangem do que assustam. E saber também que os inimigos deveriam ser escolhidos tão (ou mais) cuidadosamente que os amigos.

Até que esse imbróglio todo se resolva, vai correr muita água. E o céu vai escurecer muito. O que é bom pra turma toda, afinal político profissional jamais tem medo do escuro. Tem medo é de claridade.

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