quarta-feira, 9 de março de 2011

Perdão leitor

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Há tempos, publiquei artigo sobre televisão. Como o assunto era o aparelhinho de fazer doidos, a abreviatura tv surgiu inúmeras vezes, e grafada assim, com as letras “t” e “v” minúsculas. Sabe-se lá por quais descaminhos meu texto passou, mas o fato é que tv virou TV.

Não há justificativa para se grafar com maiúsculas substantivos comuns – que, como se sabe, escrevem-se com minúsculas, inclusive a letra inicial – representados por bigla, trigla, sigla, acrograma ou abreviatura. Não se escreve Horse-Power (cavalo-força), Policial Militar, Compact Disc, Acquired Immunideficiency Syndrome, Human Immunideficiency Virus, Televisão (o receptor), Disc Jockey, Long-Play e tantas outras palavras e expressões presentes no nosso dia-a-dia.

Logo, não há justificativa para se grafar HP, PM, CD, AIDS ou Aids, HIV, TV ou Tv, DJ e LP, mas hp, pm, cd, aids, hiv, tv, dj e lp. “A quantidade de litros de capacidade de um motor tem pouco a ver com sua potência em hp”; “O pm surrou o bandido”; “O cd foi gravado com dinheiro do governo”; ”Pegou aids na suruba”; “Mais gente contaminada pelo hiv”; e assim por diante. O caso da aids é típico. Na imprensa escreve-se Aids ou AIDS, mas ninguém sai por aí escrevendo sarampo, caxumba, pingadeira, dengue, cólera etc., é ou não é?

Não sou um defensor implacável da rigidez gramatical; pelo contrário, aprendi escrevendo na mídia e, por isso, estou sempre buscando a simplificação, a clareza, a concisão e a exatidão. A linguagem, qualquer linguagem, é um meio de expressão e de comunicação, e como tal deve ser julgada exclusivamente. Penso que devemos respeitar algumas regras básicas da gramática para fugir dos desacertos mais evidentes – a meu ver, a maioria das regras deve ser esquecida ou automatizada a ponto de as usarmos sem perceber, isto é, com a mesmo naturalidade com que respiramos.

Há muitos anos, Luís Fernando Veríssimo escreveu que “a sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo”. Na época, seus argumentos provocaram polêmica, mas não é difícil concordar com o escritor gaúcho.

Mas se as regras devem ser esquecidas ou abandonadas em favor das já citadas simplificação, clareza, concisão e exatidão, também não devemos abusar e partir para a ignorância sem peias. Foi o mesmo Veríssimo quem afirmou: “A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda”. Mas não devemos abusar da violência nas surras, pois podemos aleijá-la ou até matá-la. Portanto, perdão leitor pelos nossos erros.

Luca Maribondo

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