quinta-feira, 8 de abril de 2010

[Record de atividade legislativa]

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Possesso, o homem desabafa com um amigo:


— Poxa, rapaz! Você não sabe o que me aconteceu! Peguei a minha mulher dando pro meu cunhado, no sofá da sala da minha casa!


— Caraca, Aderbal! E, aí, o que você vai fazer agora?


— Fazer? Já fiz! Fodi com os dois!


— Ó, Aderbal!... Não me diga que...


— Digo sim... O problema já tá resolvido! Vendi o sofá!


Você, gentil leitor, pode achar que é brincadeira, mas projeto de lei apresentado pelos vereadores morenopolitanos Magali Picarelli (PMDB) e Paulo Siufi (PMDB), foi aprovado na quinta-feira, 8 de abril, na Câmara Municipal de Campo Grande, e proíbe o uso das tais pulseirinhas coloridas do sexo na Rede Municipal de Ensino e nas escolas particulares da cidade. Os nobres parlamentares se referem às pulseiras de silicone que estão gerando entre os adolescentes e seus pais uma grande polêmica desde que começaram a aparecer na imprensa artigos que as associam a mensagens de caráter sexual.


Acontece que, usando uma pulseira de determinada cor, o/a adolescente, através de um jogo, indica até onde quer ir nos carinhos eróticos. Conforme Picarelli, o projeto foi idealizado em parceria com o seu marido, deputado estadual Maurício Picarelli (PMDB). "À primeira vista, uma colorida pulseira de plástico nos pulsos de crianças parece inocente. Mas na realidade elas são códigos para as suas experiências sexuais, onde cada cor significa um grau de intimidade, desde um abraço até ao sexo propriamente dito”, analisa a vereadora.


No código das cores, por exemplo, as pulseiras de cor laranja significam "dentadinha de amor", as amarelas, um abraço no rapaz; as azuis, felação; verdes, beijos no corpo, entre outras cores que identificam outras ações relacionadas ao sexo, que, como se sabe, é um dos grandes flagelos da humanidade.


Pelo projeto de lei, as instituições de ensino deverão proporcionar por intermédio de palestras e reuniões, aos pais e alunos, orientação sobre educação sexual e planejamento familiar. A escola que permitir a utilização dessas pulseiras pelos seus alunos estará sujeita a multa, que pode variar de 500 a dois mil reais, suspensão do alvará de funcionamento por trinta dias e até a cassação do dito alvará. "O principal objetivo deste projeto de lei é garantir a proteção dos alunos, que, em razão de um modismo perigoso, estão sujeitas à violência" argumenta a parlamentar.


Muitas meninas estão iniciando suas vidas sexuais por conta do uso dos braceletes, mais um desses modismos que surgem todas as semanas entre os jovens. Já houve até casos de estupro em alguns lugares no Brasil e no Exterior. Abominável, mas não tanto quanto a Lei Picarelli/Siufi, que me fez lembrar da história que conto no início deste artigo.


Assim, como o sofá não é nem causa nem efeito da trepada que transformou Adroaldo num corno, as pulseiras nada têm a ver com as atividades sexuais da molecada. Eles vão ter uma vida sexual independente do uso ou não dos braceletes. Meninos e meninas, homens e mulheres, idosos e idosos, têm desejo sexual uns pelos outros independentes das roupas, acessórios, adornos que usem ou não. Alguns até exageram na dose, violentando, estuprando e currando seus parceiros. Se não usarem as pulseirinhas, inventarão outra coisa, como anéis, pingentes, broches, bandanas ou sabe-se lá o que.


Mas o que mais chama a atenção na atitude dos dois políticos morenopolitanos, foi a rapidez com que apresentaram o projeto e o transformaram em lei. O projeto de lei foi apresentado na quinta, dia 8, e no mesmo dia já havia sido aprovado —mas, mesmo com tanta agilidade, quando a lei foi realmente colocada em prática, a gurizada já estará em outra e os braceletes serão peças de museus (se é que terão essa importância toda). Deve ser um recorde mundial em matéria de atividade legislativa. Isso seria ótimo, se todos os problemas da cidade fossem solucionados com tal rapidez.

Não é isso porém o que acontece, donde se deduz que a agilidade de Picarelli e Siufi não passa de puro oportunismo, já que o assunto das pulseirinhas tem uma forte presença na mídia. Os dois conspícuos representantes do povo morenopolitano demonstraram, com tanta ligeirice, que, por mais hábeis que sejam, alguns políticos acabam sempre cometendo alguma fineza sincera.

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