domingo, 28 de fevereiro de 2010

_Deixe o meu pingolim em paz

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Eu que já disse isso antes, mas vou repetir: sou um aficcionado de Internet. A rede resolve boa parte dos meus problemas cotidianos de trabalho, da minha vida pessoal, de lazer. É um enorme repositório de informações, fonte de pesquisa ultra-rápida e um meio de comunicação ágil e barato. Mas nem tudo é perfeito: convicções bisonhas e estapafúrdias, disparates da ressaca pós-tudo, estão sempre aparecendo na Web. Por exemplo, sempre que estou abrindo minha caixa postal eletrônica, recebo mensagens com a mais prosaica das naturalidades de pessoas querendo aumentar o tamanho do meu pênis.

E eu não sei porquê! Tais pessoas não me conhecem, nunca me viram, desconhecem minhas aptidões, minha anatomia, minhas inclinações e minha pauta cognitiva, mas, sabe-se lá Deus porque, querem aumentar o tamanho do meu pingolim. Enviam-me diariamente dezenas de mensagens com títulos canhestros, tais como Aumente seu membro, Penis enlargement!, Monster Penis! Seu OSM será magnífico, e You can have a giant penis! (as traduções ficam a cargo dos interessados na pauta).

Sou curioso e não consigo deixar de ler o que me enviam, e, pronto!, lá estava eu a ler propostas que me prometiam o porte de um membro viril descomunal e irresistível para as mulheres —será que as mulheres gostam tanto assim falos imensos? Lidas as mensagens, eu as mando pro lixo eletrônico —mas ultimamente tenho pensado muito no assunto. Tão logo o faço, ponho-me a praticar meu passatempo dos momentos de solidão: devanear e especular acerca de absurdos argumentativos tão díspares como a importância da mandioca nos churrascos, sobre a escalação da seleção brasileira, a campanha do Nosso Grande Líder Lula da Silva em favor da Sra. Roussef, a esculhambação do planejamento da Prefeitura de Campo Grande, e, claro!, o aumento do tamanho do pingolim.

Mas depois de tudo isso, o fato é que, como quase sempre acontece, não logro chegar conclusão alguma. Permaneço embasbacado, a devanear sobre orgasmos supraluminares atravessando o mundo e chegando à Austrália em meio segundo e acerca das razões que levaram os remetentes das mensagens a sugerir-me um aumento no tamanho do meu pênis. Que o leitor não saia com inferências engraçadinhas e maliciosas; afinal, duvido que ele, leitor (ao menos aqueles plugados na grande rede), não tenha recebido uma proposta de aumento do tamanho do passarinho.


Algumas das propostas que recebo são hilariantes, como uma tal de bomba peniana. Segundo seus fabricantes, “é um ótimo desenvolvedor de pênis, aumenta tamanho e grossura, disponível nas versões manual e elétrica (esta deve ser fenomenal quando entra em curto-circuíto). Milhares de pessoas já estão usando, tem casos comprovados de um aumento de até quatro centímetros”. Putz... Quatro centímetros é mais do que o tamanho de muitos telemóveis (esses aparelhinhos de comunicação que o vulgo chama de telefone celular).


Ainda segundo eles, "na compra de uma bomba peniana você ainda ganha uma escova de lavar mamadeira (!!!), para a limpeza de sua bomba peniana. Além do aumento do pênis, ainda tem a sensação, que é muito gostosa, (aconselhamos a versão elétrica pois a manual é muito cansativa). Usando por um período de um ano você vai conseguir dimensões incríveis. Cuidado somente na hora de tirar, o barulhinho é como estourar uma champanhe, e não se assuste com a cor roxa do pênis após o uso; isso é normal —a glande inchada também sempre fica, mas depois de algumas horas tudo volta ao normal... Consulte tamanhos especiais com rendimentos hiper-super para japoneses"...


Tem também o anel peniano que parece um mordedor infantil, mas não é. Você o coloca no pênis,
e ele vai te dar maior rendimento e uma ereção forçada... Quer dizer, prolongada, pois aperta tanto que o danado fica sempre duro. Aquela parte inferior ao anel é pra ficar pra baixo, ali, bem pertinho do ânus, que quando o danado ameaçar perder a dureza (Hay que endurecerse si perder la ternura jamás) você dá um puxão por trás que ele logo levanta. Além de tudo, ele é todo cheio de pequeninas bolinhas macias, que nós não sabemos pra que servem, mas que dá uma coceirinha gostosa... Ah isso dá...


Além desses produtos existem vários outros como calcinhas comestíveis com sabores diversos, como chocolate, morango, cebola, cenoura e outros; pênis de chocolate ou de marshmellow, bonecos e bonecas infláveis, biquinis e maiôs eróticos, cremes especiais para penetração anal, masturbadores eletrônicos ou mecânicos, cinta-liga, chicote, algemas, fantasias, calcinhas com abertura na região pubiana ou nas nádegas, etc., etc. e tal...


Nesse intenso tráfego de mensagens descobri inclusive alguns fatos históricos insólitos: tribos indígenas do Brasil já fazem uso da tração há muito tempo para aumentar o lábio inferior (da boca, da boca!), como os índios botocudos, caiapós e ianomâmis (reparou como coloco os etnônimos no plural e não uso k, w ou y, mesmo sendo indígenas?). Na África, algumas tribos penduram pesos para aumentar o pênis, o lóbulo da orelha e o nariz. Na Ásia, mulheres tracionam todo o pescoço promovendo um alongamento que as tornou conhecidas como mulheres-girafa. O princípio é o mesmo de um aparelho ortodôntico que, através de uma força continua, corrige o alinhamento dos dentes.


Toda essa preocupação com o pênis acaba dando origem às mais estranhas histórias. Dia desses, três mulheres estavam no cabeleireiro no Jardim dos Estados e uma diz:


— Meu marido dedica-se ao ramo de aluguel de imóveis, nós temos cem apartamentos em Paris.


A segunda dama:


— Meu marido é armador, nós temos cinqüenta super-petroleiros.


A terceira, não tão dama:


— Coitado do meu, é empregado em um banco, mas em compensação tem um pênis em que cabem doze pássaros pousados lado a lado.


A primeira, refletindo, viu que tinha dado um chute muito grande, consertou:


— Meu marido tem apenas dez apartamentos.


A segunda também voltou atrás e disse:


— Exagerei, meu marido tem apenas cinco navios.


A terceira: — Eu também não falei a verdade. No pênis do meu marido só cabem mesmo onze pássaros, pois o décimo-segundo fica apenas com uma pata pousada; a outra fica no ar.


Mas o anedotário sobre o osm (órgão sexual masculino, também conhecido como genitália) não é privilégio das pessoas comuns —até o poder público acaba metendo o bedelho no assunto: segundo o jornal paulista Folha de S.Paulo, “o Diário Oficial do Mato Grosso do Sul publicou, em 16 de novembro de 1996, um edital de concorrência de compra de 150 pênis de borracha pela Secretaria de Saúde do Estado. O produto destina-se a campanhas educativas sobre o uso da camisinha. A publicação passou despercebida. Só veio a ser notada com a retificação, publicada no dia 20: ‘onde se lê pênis oco de borracha, 16 centímetros de diâmetro, leia-se pênis oco de borracha, 16 centímetros de comprimento por 3 de diâmetro’”. Ainda bem, né?


De maneira geral os homens têm uma tendência a invejar os pênis dos outros homens. Há gente que é capaz de espionar alguém fazendo xixi em banheiros só para olhar —e invejar, quando é o caso— as dimensões do pênis do próximo. Com certeza vem daí esse desejo de querer aumentar o tamanho do chamado osm, o que acaba dando ensejo a esse tipo de propaganda abusiva e abusada.


Sei que a propaganda é a alma do negócio: com boa propaganda as pessoas acreditam até em remédio pra fazer nascer cabelo em carecas. Mas, definitivamente, não dá para acreditar nem suportar os reclames que prometem ampliações impossíveis na estrovenga de homens com complexo de inferioridade peniana. Portanto, por favor, deixe o meu pingolim em paz.

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