segunda-feira, 27 de julho de 2009

_Zero à esquerda

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Coisa que me deixa abespinhado é essa mania de colocar zeros à esquerda de números simples. E me incomoda mais ainda quando são profissionais de comunicação, em textos jornalísticos ou em material publicitário. No dicionário, a locução zero à esquerda é definida como “indivíduo destituído de qualquer valor, sem competência, capacidade ou préstimo; nada, nulidade, zero”. A expressão tem uma história: zero à esquerda é pessoa insignificante, criatura sem valor próprio, que nada acrescenta a uma instituição ou partido político. A locução se apóia num princípio básico de aritmética e passou a ser usada devido a um difundidíssimo conto do abade Blanchet, escritor francês do século XVIII, intitulado “A Academia dos Silenciosos”. Nessa douta instituição, que teria existindo em Amadan, prevelecia a regra de que “os acadêmicos pensarão muito, escreverão pouco e falarão o menos possível.” Um dia, o doutor Zeb, reconhecidamente o maior sábio da Pérsia antiga, resolveu ser um dos seus cem membros. Mas quando lá chegou a vaga já havia sido preenchida. Pesaroso, o presidente querendo significar isso, sem dizer palavra, fez encher uma taça d’água até a borda, mostrando-a ao candidato retardatário. Sem desencorajar-se, o dr. Zeb, encontrando à mão uma pétala de rosa, depositou-a na taça sem que a água transbordasse. Diante de tão engenhosa respostam bateram palmas todos os presentes e ele foi, assim, admitido por aclamação. Como os estatutos tinham sido violados, o novo acadêmico, ao tomar posse. escreveu modestamente sem dizer palavra: “não valereis nem mais nem menos.” E escreveu esta cifra: “0100”. Com o mesmo laconismo, o presidente escreveu, em resposta: “Valeremos onze vezes mais: 1100”. Por saber de tudo isso, não consigo compreender porque tantas pessoas continuar colocando zeros à esquerda dos números que escrevem. Dia desses estava com uma moça, estudante de jornalismo, que havia escrito na lousa uma data: 08/06/2009... Pedi pra ela ler e ela não emitiu os zeros. Perguntei então porque ela os escrevia: “porque todo mundo escreve”, ela respondeu.

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