quarta-feira, 29 de julho de 2009

A Implosão da Mentira

Afonso Romano de Sant´Anna

Mentiram-me.
Mentiram-me ontem e
hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem sobretudo impunemente.
Não mentem tristes,
alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente
que acham que mentindo história a fora
vão enganar morte eternamente.

Mentem, mentem e calam
mas nas frases falam e desfilam de tal modo nuas
que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
mas não se chega à verdade
pela mentira
nem à democracia pela ditadura.

Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima e
em Auschwitz havia um circo permanentemente.

Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente
mentem como a carroça à besta em frente,
mentem como a doença ao doente,
mentem como o espelho transparente
mentem deslavadamente como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio
mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
mentem ardentemente como
doente nos seus instantes de febre,
mentem fabulosamente como o
caçador que quer passar gato por lebre
e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o caçador e assim
cada qual mente indubitavelmente.

Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem e de tanto
mentir tão bravamente
constróem um país de mentiras diariamente.

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